A inteligência artificial (IA) transformou-se em uma força poderosa em diversos setores da sociedade. Desde sistemas de diagnóstico médico até algoritmos que decidem quem receberá um crédito ou uma oferta de emprego, a IA está cada vez mais tomando decisões significativas que afetam a vida humana.
A Bíblia orienta os cristãos a examinarem todas as coisas e reterem o que é bom (1 Tessalonicenses 5:21). Portanto, ao abordar o impacto da IA, precisamos questionar como essa tecnologia pode ser utilizada de maneira que reflita os ensinamentos de Jesus sobre amor ao próximo e respeito à dignidade humana.
A ética cristã se fundamenta no amor a Deus e ao próximo (Mateus 22:37-39) e na valorização da dignidade de cada pessoa como criação divina (Gênesis 1:27). Esses princípios guiam os cristãos em sua conduta e devem ser aplicados também ao desenvolvimento e uso da tecnologia. Com a IA, surgem questões importantes sobre como respeitar e proteger as pessoas, tratando-as não como dados, mas como seres com valor intrínseco.
A IA pode ser uma ferramenta útil para ampliar a autonomia humana, mas também pode limitá-la ao tomar decisões automáticas e, em alguns casos, irreversíveis. A Bíblia valoriza a liberdade humana e a capacidade de tomar decisões para a vida, um presente de Deus (Gálatas 5:1). Quando a IA interfere em decisões pessoais, como diagnósticos médicos ou julgamentos judiciais, existe o risco de subordinar a liberdade humana a decisões algorítmicas que desconsideram a singularidade de cada pessoa.
A IA tem se mostrado eficiente em reconhecimento facial, monitoramento de dados e controle de comportamento, mas isso levanta questões éticas sobre privacidade e vigilância. O Salmo 139:1-4 fala de Deus como aquele que conhece cada detalhe sobre nós – uma posição reservada ao Criador, não ao ser humano ou a máquinas.
Com a IA, o risco é permitir que governos e corporações assumam um controle desmedido sobre a vida privada das pessoas. O princípio cristão de respeito à dignidade humana exige que protegemos a privacidade das pessoas, defendendo seu direito de serem tratadas como seres únicos e irrepetíveis (Salmo 8:5). A vigilância excessiva fere a confiança e limita a liberdade individual, e os cristãos são chamados a serem críticos quanto ao uso de ferramentas que ferem a dignidade e a privacidade.
A Bíblia ensina que todo ser humano foi feito à imagem de Deus (Gênesis 1:27) e, por isso, possui dignidade e valor inalienáveis. Entretanto, a IA tem o potencial de desumanizar e tratar pessoas como meros dados, reduzindo suas histórias e suas lutas a informações que podem ser processadas e manipuladas. A dignidade humana é um pilar central da ética cristã, e qualquer sistema que diminua essa dignidade precisa ser questionado e ajustado.
O princípio da mordomia, segundo o qual tudo que fazemos deve honrar a Deus e beneficiar o próximo (1 Coríntios 10:31), também se aplica ao uso da IA. Os criadores e desenvolvedores de IA têm a responsabilidade de garantir que a tecnologia seja utilizada de forma ética, respeitando a dignidade e o bem-estar humano. Jesus nos chama a cuidar uns dos outros com integridade e honestidade (Mateus 25:40), e isso se aplica também ao campo da tecnologia, onde decisões podem impactar milhões de vidas.
A IA pode ser utilizada para promover a justiça, mas também para amplificar desigualdades. A Bíblia ensina que Deus ama a justiça e espera que seus filhos façam o mesmo (Miquéias 6:8). Quando a IA é aplicada em decisões judiciais, sistema de crédito ou recrutamento, o risco de discriminação é alto, pois algoritmos podem reproduzir preconceitos humanos e não enxergarem a singularidade das situações.
É necessário, portanto, que os cristãos e as instituições questionem o uso de IA de forma justa e igualitária, garantindo que ela sirva à justiça e não perpetue injustiças. A justiça social é um tema recorrente nas Escrituras, e a igreja tem o dever de assegurar que a tecnologia, inclusive a IA, sirva para o bem de todos.
A Bíblia nos ensina a examinar todas as coisas com discernimento (1 João 4:1) e nos desafia a sermos luz em meio a um mundo de constantes transformações. Como cristãos, somos chamados a influenciar a sociedade – inclusive no desenvolvimento tecnológico – para que cada avanço espelhe o amor de Deus e a dignidade inerente de cada pessoa. A inteligência artificial é uma ferramenta de grande poder e, por isso, exige uma responsabilidade proporcional. Se usada sem um compromisso ético e espiritual, ela pode tornar-se uma força destrutiva, mas, se empregada com compaixão, verdade e justiça, ela pode ser um canal de bênçãos, promovendo justiça e apoio ao próximo.
A igreja não pode ser espectadora nesse processo; deve ser uma voz ativa, elevando o debate ético e oferecendo uma visão que coloque a pessoa – feita à imagem de Deus – no centro. Que cada avanço tecnológico seja uma oportunidade de manifestar o propósito divino, levando vida, esperança e dignidade para todos. Afinal, a tecnologia deve ser um reflexo do amor e da justiça de Deus e nunca uma sombra sobre a humanidade.
Que Deus nos dê discernimento.
Pr. Gedeon Lidório
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