Roubo o título do livro escrito pelo italiano Primo Levi, que sobreviveu aos campos de concentração nazistas da 2ª Guerra Mundial. No livro É Isto um Homem? ele relata o período em que ficou enclausurado em Auschwitz, de 1944 a 1945. É um relato cruel de um sobrevivente que entre outros presos viveram no ínfimo limite que separa homens de animais. Levi mostra a desumanização imposta aos judeus pelos desumanos nazistas.
Minha intenção não é a de fazer comparações, mas apenas indicar que o processo de desumanização tem inúmeras facetas e ontem, 04/07/24, em Curitiba, o desembargador Luiz Cesar de Paula Espíndola, do TJ-PR, mostrou-se viver próximo aos ratos.
A sessão do TJ julgava um recurso de um professor de uma escola pública do interior do estado que pediu para derrubar uma medida protetiva que o proibia de se aproximar de uma aluna de 12 anos, para a qual enviou mensagens de assédio. Por quatro votos a um, o tribunal decidiu manter a medida protetiva para a garota. O único voto contra foi do referido desembargador, que proferiu ataques contra as mulheres. Após a manifestação da desembargadora Ivanise Trates Martins em defesa da luta feminina (a cada 8 minutos uma mulher é estuprada no Brasil), Luis Cesar fez uma fala absurda, misógina e criminosa que transcrevo a seguir:
"...o discurso feminista é desatualizado, porque se vossa excelência sair na rua hoje em dia, quem tá assediando, quem está correndo atrás de homens são as mulheres, porque não tem homem, sabe? Esse mercado é um mercado que está bem diferente. Hoje em dia sabe o que existe, essa é a realidade as mulheres estão loucas atrás dos homens, porque são muito poucos sabe? Esse é o mercado… É só sair à noite, eu não saio muito à noite, mas eu conheço, tenho funcionárias, tenho sabe... tenho contato com o mundo. Nossa, a mulherada tá louca atrás do homem sabe? Louca para levar um elogio, uma piscada, sabe? Uma cantada educada, porque elas é que estão cantando, elas que estão assediando, porque não tem homem, essa é a nossa realidade hoje em dia, não só aqui no Brasil sabe? Isso é óbvio, né? Hoje em dia os cachorrinhos estão sendo os companheiros das mulheres, vai no parque só tem mulher com cachorrinho, louca para encontrar um companheiro para conversar e eventualmente para namorar. Agora a coisa chegou num ponto hoje em dia que as mulheres é que estão assediando, sabe? Não sei se vossa excelência sabe, professores de faculdade, sabe, são assediados. É ou não é, doutora? Quando sai da faculdade, ele deixa um monte de 'viúva', a gente vê, cansado de ver isso e sabe disso? Então, tudo é muito, é muito pessoal, esse é um discurso que eu acho que está superado, sabe, as mulheres ninguém tá correndo atrás de mulher porque tá sobrando.”
Meu estômago embrulhou ao escutar o rato. Nem quero comentar. Só pergunto: É isso um homem?
E não consigo deixar de colar aqui um trecho do poema O Bicho, de Manuel Bandeira:
"Vi ontem um bicho
…
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem".
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