Indubitavelmente escutamos todos os dias se falar de direita e esquerda, acho até que o brasileiro da mais atenção nestas duas palavras diariamente no que em si mesmo. Mas o que significa ser de direita e esquerda? É realmente necessário escolhermos um lado? Será que a divisão direita e esquerda ainda se encaixa na sociedade atual?
Para te ajudar a se posicionar e entender de uma vez por todas os significados de tais termos, apresento um texto trazendo o histórico, e a definição para você saber de qual “lado” está na divisão direita-esquerda. Acompanhe-nos a seguir e fique antenado!
Porém antes quero compartilhar com você caro leitor, na íntegra e sem edições as palavras que recebi de um amigo e pensador...
Joel Geraldo Coimbra:
Meu jovem amigo Marcio Nolasco, frequentemente sou chamado de petista, pela turma da direita, e direitista ou fascista, pela turma da esquerda, exceto aqueles amigos que todos temos e sempre nos consolam com a generosa compreensão, mas não sou uma coisa e nem outra. Fui do PDT e brizolista convicto, numa época em que o Leonel Brizola se definia como socialista e não esquerdista. Em 1992 fui honrado com a oportunidade de encabeçar uma coligação formidável, composta pelo PDT, PCdoB, PSB e PPS. Eram companheiros vibrantes, idealistas, que se empenhavam na luta com muita coragem e devoção. A despeito disso, a ideologia partidária cedeu lugar à concentração de esforço para elaborar um programa de governo destinado ao povo da nossa cidade. Como foi construído por figuras altamente qualificadas de todos os partidos envolvidos na coligação, conseguimos um programa atraente, que nos permitiu conquistar a terceira colocação na disputa e eleger 4 vereadores. Foi um tempo memorável. Depois vieram outras campanhas, igualmente memoráveis, como em 1994, 1996 e 1998, entremeadas por debates desafiadores, geralmente baseados em programas. Me agrada lembrar que pude debater com pessoas da esquerda e da direita, generosas na argumentação e aguerridas nas convicções. Porém, passado esse período, comecei a ter uma certa sensação de que os políticos, e até certos companheiros, estavam desistindo das ideias e dos ideais, e que a prática dos debates entre os candidatos e do corpo a corpo com o eleitor estava dando lugar às rodadas de negociações, em mesas onde poder era negociado e fatiado previamente, e as eleições eram realizadas no estilo pesca de arrastão, pela qual os partidos e lideranças, após acertarem as bases para o fatiamento do poder e suas benesses, implementavam amplas coligações que deixavam ao eleitor pouquíssimas opções de escolha, ou nenhuma, via de regra condicionando-o a decidir escorado no dilema "dos males o menor". Eu gostaria muito que o Lula tivesse sucesso, porque o considero opção para conter a direita bolsonarista que se prepara com força total para tomar o poder. Porém, o Governo Lula está muito ruim, acumula desgastes seguidos e não dá mostras de reação. O duro é que a direita está igualmente sem opções, só lhe restando, ao que parece, o próprio Bolsonaro ou alguém de sua indicação. Dessa sorte, tudo indica que nas próximas eleições o povo será novamente constrangido a optar pelo menos pior, não sendo de se descartar a possibilidade de optar por algum desses influencers que tem ganho espaço na política, diante do acelerado descrédito dos políticos. Que Deus nos ouça e acuda.
Vamos adiante:
A Revolução Francesa foi um episódio histórico que deu fim à monarquia absolutista na França, levando à formação de um órgão chamado Assembleia Geral. Dentro dela, formaram-se dois grandes grupos políticos: os jacobinos e girondinos.
Os jacobinos eram compostos pelos sans-culottes, nome dado a grupos pertencentes à baixa burguesia, como os artesãos e pequenos proprietários de terra, e defendiam que as mudanças da revolução fossem ainda mais profundas, por meio da formação de uma república.
Os girondinos, por sua vez, eram compostos por membros da alta burguesia, como os comerciantes e banqueiros. Eles acreditavam que as mudanças necessárias já tinham ocorrido com o fim da monarquia absoluta e a formação de uma Assembleia Nacional Constituinte.
Durante as reuniões, aqueles que se identificavam com as ideias dos jacobinos sentavam-se à esquerda e os que se identificavam com as ideias dos girondinos, à direita. Foi desse modo que a definição de esquerda e direita se formou.
O que significa ser de direita e esquerda?
Considerando esses diferentes posicionamentos, podemos dizer, grosso modo, que os de esquerda seriam os revolucionários ou progressistas e os de direita, os conservadores.
Nesse sentido, é importante compreender que uma revolução altera o sistema vigente, como no caso da Revolução Francesa, que deu fim ao Antigo Regime e abriu caminho para o surgimento do liberalismo político no país, bem como o capitalismo. Uma reforma, por outro lado, provoca algumas mudanças, porém não altera o sistema como um todo.
Trazendo para a atualidade, os que são de esquerda seriam os mais identificados com o primeiro grupo, pois não estão contentes com o sistema capitalista e desejam mudá-lo, enquanto os de direita aceitam tal sistema e até almejam por mudanças, desde que não o alterem profudamente, ficando, no máximo, no campo da reforma.
O motivo da esquerda ser contra o sistema é que, para ela, as desigualdades são injustificáveis, enquanto a direita as considera naturais ou inevitáveis, entendendo ser o capitalismo um sistema que privilegia a liberdade individual.
Podem até existir ações de direita voltadas a questões sociais, como as políticas públicas, que são iniciativas capitalistas para diminuir os impactos sociais provocados pelo próprio sistema e para movimentar a economia. Porém, o foco da direita é a liberdade econômica, pois ela defende que é impossível acabar com a desigualdade sem prejudicar a sociedade em outros aspectos, como a geração de riqueza.
Portanto, dizer que a direita não é igualitária não é condená-la, mas sim reconhecer que, na sua maneira de enxergar, a desigualdade é essencial para o florescimento da liberdade e para a incessante luta pela melhoria da sociedade. Por isso, ela tende a defender a meritocracia.
A esquerda também almeja a liberdade, porém entende que só é possível alcançá-la com o fim do sistema capitalista e sua substituição por um sistema econômico mais igualitário, em que todos poderão ter as mesmas oportunidades, podendo vir a ser o socialismo ou comunismo.
Lógico que, quando se diz respeito à política atual, não significa que um partido de esquerda, ao chegar ao poder, irá derrubar o sistema vigente. Porém, algumas ações de tal governo podem ir de encontro às ações capitalistas, mesmo que ainda inseridas dentro do sistema. Uma visão de esquerda mais moderada, que aceita o capitalismo, mas propõe reformas que levem à redução das desigualdades é a social-democracia.
Na prática, um governo de direita, por exemplo, será a favor da privatização de empresas estatais, enquanto um de esquerda privilegiará a estatização. Isso porque a direita visa alcançar um Estado Mínimo em prol do crescimento econômico, ou seja, o Estado deve manter o mínimo possível de instituições e obras públicas, deixando aquelas que não são consideradas sua função para o setor privado.
Por outro lado, um governo de esquerda considera que o Estado deve ser grande e manter um maior número de instituições ou obras públicas em prol da diminuição das diferenças sociais. O quadro a seguir apresenta um resumo das principais diferenças entre um governo de direita e um governo de esquerda:
Vale ressaltar, no entanto, que essas descrições são generalizações didáticas para melhor entender esses conceitos. Na prática, as posições políticas possuem muitas nuances e outros temas além da maneira como elas enxergam o sistema econômico podem influenciar se estão mais à esquerda ou mais à direita.
Qual é melhor, direita ou esquerda?
A dúvida na hora de tomar um partido é se estamos escolhendo o melhor lado ou não. “Eu preciso me posicionar, mas qual é melhor para o Brasil, direita ou esquerda? Existe alguma forma de encontrarmos esta resposta?”
Não é possível definir os termos “direita” ou “esquerda” como positivos ou negativos. Ambos podem ter diferentes significados dependendo de quem está falando. Porém, serão sempre posições opostas, por isso não é possível assumir uma posição que seja, ao mesmo tempo, de direita e esquerda.
A definição de direita e de esquerda, contudo, não é fechada. O filósofo Jean-Paul Sartre, por exemplo, as classifica como duas caixas vazias. Portanto, podem existir muitas esquerdas e muitas direitas, que poderão discordar entre si, ou ainda poderão existir momentos em que a direita e esquerda concordem. É desta pluralidade de direitas e esquerdas que surgem as posições centro-esquerda e centro-direita.
Os movimentos sociais e o sistema político
Movimentos sociais são organizações coletivas civis que têm o objetivo de alcançar mudanças sociais através do debate político. Normalmente, são associados à esquerda, devido ao caráter mais progressista. Porém, os movimentos sociais estão à parte das arenas políticas, podendo existir independente do governo instaurado e alguns deles podem ter posicionamentos mais à direita.
A existência de tais movimentos também nos revela uma forma de atuação fora das arenas políticas, ou seja, por meio de organizações de iniciativa civil (uma ONG, conselho de bairro, organização popular, etc). É um modo de fazer política “de baixo para cima”, ou seja, as pessoas se organizam e começam a agir, e não somente esperam que os políticos o façam por elas.
O centrão e a Terceira Via
Muitas pessoas acabam por concluir que não são nem de esquerda e nem de direita e tomam um posicionamento “neutro”. Porém, quando se trata de política, até mesmo não tomar uma posição é tomar uma posição. Como abordado anteriormente, qualquer ação terá uma tendência que se desdobrará em esquerda ou direita.
Os que não se identificam com os candidatos da direita e da esquerda, normalmente buscam uma Terceira Via, que é uma política que não apresenta uma posição neutra, mas pretende superar os dois extremos existentes. É importante, porém, entender que mesmo a Terceira Via pode apresentar um posicionamento político com tendência à direita ou à esquerda, dependendo do contexto eleitoral.
Alguns eleitores posicionam-se ao centro. Porém, é importante que haja visões de mundo claras, para que seja evitado aquilo que acontece com o famoso “centrão” dentro da política brasileira, composto por partidos que oscilam entre situação e oposição de acordo com o que lhes convém no momento. Na verdade, esses partidos não tomam uma posição ideologicamente bem definida.
As ditaduras extremistas de direita e esquerda
Com certeza, você já ouviu falar das ditaduras de direita e esquerda. Vale notar que sua existência não significa que a direita ou a esquerda sejam ruins em si, mas mostra que dentro dos dois campos podem existir ideias extremistas e antidemocráticas. As ditaduras de extrema esquerda são as chamadas ditaduras comunistas e as de extrema direita, aquelas identificadas com o fascismo.
Assim, comunismo e fascismo são extremos opostos. Cabe a ressalva de que “comunismo” pode ter diferentes significados, sendo coisas distintas a ideologia comunista e os regimes comunistas que tivemos na prática. O fascismo, no entanto, não pode existir fora de um governo ditatorial, pois é um regime excludente. Por isso, perante a Lei, uma pessoa pode se declarar comunista, mas uma pessoa se declarar facista é crime.
A divisão política direita-esquerda ainda existe atualmente?
Pode ser que você esteja lendo este texto e pensando no quão inútil é um debate sobre esquerda e direita nos dias atuais. Talvez até tenha certeza que já não existe um partido de esquerda e de direita e que isso seja mais uma forma de induzir o público a votar em determinado candidato ou partido. Mas será mesmo que essa discussão não tem utilidade?
O primeiro ponto a se pensar é que afirmar “não existe direita e esquerda” é um sinal claro de que existe um sentido conhecido, mesmo que vagamente, de “direita” e “esquerda”. Ou seja, as ideologias estão vivas. Mesmo que as ideias tenham sido substituídas por outras, a distinção esquerda-direita ainda existe.
Há também a argumentação de que, em uma sociedade democrática, não faria sentido “limitar” os pensamentos em esquerda e direita, já que existem diversos grupos de opinião com ideias que se contrapõem ou se sobrepõem e podem se integrar e depois se desintegrar.
Essa objeção é pertinente, porém não é decisiva, pois a distinção entre direita e esquerda é, como define Bobbio “uma linha contínua sobre a qual entre a esquerda inicial e a direita final, ou, o que é o mesmo, entre a direita inicial e esquerda final, se coloquem posições intermediárias que ocupam o espaço central entre os dois extremos, normalmente designado, e bastante conhecido, com o nome ‘centro’.”
Qualquer ideia sempre se dará no espaço entre a esquerda e a direita, sendo mais ou menos próxima de cada uma. Precisamos entender nossos posicionamentos nas diferentes questões e buscar um candidato ou candidata que nos represente para que a democracia continue a existir plenamente.
Pode ser, por exemplo, que você se entenda como de esquerda, mas hoje não encontre uma esquerda que represente completamente suas visões. Se essa for sua situação, você não deve deixar de participar do processo eleitoral, e sim buscar um(a) candidato(a) que mais se assemelhe com seu pensamento.
Lembre-se que, quando você não se posiciona, outras pessoas o fazem por você. Não se posicionar já é um ato político, daí a importância de exercer a democracia.
Nós não participamos diretamente das tomadas de decisões do governo, porém votamos em pessoas que nos representam dentro da Câmara, Senado e demais órgãos do Estado.
Isso não significa, no entanto, que devemos apenas esperar que os parlamentares e governadores façam algo. Podemos ser parte, por exemplo, de alguma iniciativa civil (uma ONG, conselho de bairro, organização popular, manifestações, etc) e iniciar uma mudança “de baixo para cima.”
E aí, ainda ficou alguma dúvida sobre os conceitos de esquerda e direita?
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