Há tempos que tenho pensado escrever sobre valores cristãos e vida cristã, pois, creio que há uma confusão com tudo isso, na maneira como vejo cristãos de todos os lugares publicarem coisas em suas redes sociais, ouço alguns sermões sobre isso e tudo parece meio nebuloso para mim.
Pensando especificamente sobre família, pois, esse é um tema recorrente, posso dizer que os valores cristãos são alicerces fundamentais para a construção de famílias saudáveis e resilientes. No entanto, vivemos em tempos em que a distinção entre forma — os padrões e estruturas preestabelecidas — e prática — a maneira de viver esses valores — é frequentemente negligenciada. Defender a forma sem vivê-la na prática compromete a credibilidade do testemunho cristão.
A Bíblia afirma categoricamente: “A fé sem obras é morta” (Tiago 2.17).
Há algo que sempre me incomoda que é o seguinte: vejo muitos cristãos defendendo a família, como modelo criado por Deus, como instituição basilar da sociedade e não há nada de errado nisso, pois, a Bíblia nos dá esta imagem de família, assim podemos realmente defender tudo isso. O problema, é que há muita defesa da FORMA (ou seja, do formato da família, da maneira como ela deve ser constituída etc.), mas há também muito descuido na PRÁTICA de vida familiar.
Vamos desenhar melhor: um homem que defende o formato bíblico de família, mas tem uma amante é um hipócrita; uma mulher que defende o formato bíblico de família, mas que não trata o seu marido com respeito, é uma hipócrita; um casal que defende o formato bíblico de família e não cuida dos filhos da maneira bíblica, disciplinando-os, é um casal hipócrita; um homem que defende o formato bíblico de família, mas vive como um valentão, com a boca suja proferindo maledicência, não consegue amar sua esposa como Cristo ama sua igreja, não se entrega por ela nos seus desejos (e não apenas na frente das balas de uma arma) é um marido hipócrita.
Eu poderia continuar aqui indefinidamente, mas acho que já compreenderam.
Falar que defende a família e o formato bíblico de família, mas vive uma prática cristã duvidosa, insidiosa, maledicente, desrespeitosa, sexualmente confusa, sem dar valor a si mesmo dentro da família ou ao outro, sem cuidar da vida espiritual da família com oração, leitura, meditação e prática bíblica, sem humildade, sem a prática dos frutos do espírito é pura hipocrisia e vida cristão falsa, que Cristo abomina, porque vivem como fariseus hipócritas, que falam que creem, mas não vivem o que creem.
A família é uma instituição divina criada para refletir a beleza do relacionamento entre Deus e a humanidade.
A Bíblia também destaca os princípios que devem reger os relacionamentos familiares:
Amor e Sacrifício: “Maridos, amem suas esposas, assim como Cristo amou a igreja e entregou-se por ela” (Efésios 5:25).
Obediência e Respeito: “Filhos, obedeçam a seus pais no Senhor, pois isso é justo” (Efésios 6:1-4).
Perdão e Unidade: “Perdoem como o Senhor os perdoou” (Colossenses 3:13).
Muitas vezes, os cristãos são tentados a focar na aparência externa da fé, ignorando a essência do relacionamento com Deus. A Bíblia já traz este alerta: Isaías 29:13: “Este povo se aproxima de mim com a boca e me honra com os lábios, mas o coração está longe de mim.” Mateus 23:27-28: Jesus condena os fariseus, que seguiam formas externas de piedade, mas negligenciavam a justiça, a misericórdia e a fé.
Um exemplo comum de incoerência ocorre quando pais ensinam a importância do amor, mas não demonstram afeto em casa. Ou quando cristãos defendem padrões morais rígidos, mas não apresentam os frutos do Espírito (Gálatas 5:22-23) em suas atitudes diárias.
Jesus é o exemplo perfeito de harmonia entre forma e prática. Ele não apenas ensinou, mas viveu os valores do Reino de Deus.
Paulo exorta que os líderes cristãos sejam exemplos também em suas famílias: 1 Timóteo 3:4-5: “O líder deve governar bem sua própria casa, tendo os filhos sob disciplina, com todo o respeito.” Disciplinar não é espancar ninguém ou escravizar ninguém, mas é sobretudo liderar com o exemplo e tudo isso feito com respeito.
A prática dos valores cristãos começa com a instrução constante e intencional - Deuteronômio 6:6-7: “Ensine os mandamentos a seus filhos, falando deles quando estiver sentado em casa, andando pelo caminho, ao deitar e ao levantar.” Há intencionalidade na maneira com você vive em família com sua esposa (marido) e filhos? Há uma intencionalidade em crescer espiritualmente ou a vida de você é focada em ganhar dinheiro, fama, poder e destaque social?
Promover diálogo, perdão e oração na rotina familiar fortalece os laços e cria uma cultura de amor – isso é viver como família e não apenas eleger o modelo externo como uma família deve ser.
A sociedade contemporânea desafia os valores tradicionais da família, mas cristãos são chamados a ser uma contracultura e isso quer dizer que devemos viver os nossos valores não apenas defendê-los, pois, viver os valores em família é a melhor
maneira de defender e de ser um cristão em família.
Defender a forma dos valores cristãos sem vivê-los na prática é uma contradição que compromete o testemunho e enfraquece a família. A coerência entre discurso e ação é essencial para refletir a graça e a verdade de Deus no lar e na sociedade.
Se queremos transformar nossa família em um reflexo autêntico da graça de Deus, devemos lembrar que não são as palavras ou aparências que mudam o mundo, mas vidas vividas em coerência com a verdade que proclamamos. Uma família centrada em Cristo torna-se um farol em meio à escuridão, mostrando que, quando forma e prática andam juntas, o amor de Deus se torna visível e transforma gerações e não apenas vocifera padrões.
Que Deus nos ajude!
Pr. Gedeon Lidório
Instagram: @gedeonlidorio
E-mail: gedeon@lidorio.com.br
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