Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e comunicador.
Grécia, Portugal, Suécia, Hungria, Áustria, Israel, Suiça e Bulgária, para ficar apenas na lista dos países mais conhecidos, listados por tamanho da população e, acreditem, se pudéssemos tornar real um país só de jovens que não trabalham nem estudam no Brasil, ele estaria em terceiro lugar nesta lista.
A lista inclui nações com 8 a 11 milhões de habitantes, números equivalentes ao contingente de “nem nem” brasileiros que supera 10,3 milhões, dados atualizados que nos assustam por tudo que significam.
Como quase todas as questões críticas da nossa sociedade, base de todas as estatísticas que nos apontam como um dos países mais injustos do mundo, quase a metade deste número são de mulheres negras ou pardas, vítimas mais frequentes da falta de oportunidades de um país que preserva um ranço racista de uma abolição ainda mal resolvida.
Ainda que desprezada a avaliação segmentada, são números absurdos em uma nação que busca percorrer a rota do desenvolvimento, deixando no acostamento uma parcela considerável de sua população jovem, tornando necessário um esforço para traduzir esta questão e buscar alternativas para minimizá-la.
Jovens que nem estudam, primeiro recado, e nem trabalham, segundo recado, parecem nos dizer que há algo errado com nossas estratégias para preparar os jovens, tornar a educação atraente e capaz de oferecer espaço no mercado de trabalho. Depois de muitas gestões, desde Lula I, na verdade, focados na universalização do ensino de terceiro grau que, sem dúvida, teve muitos méritos, alicerçados pelas possibilidades de financiamento que mudou a vida de muitos brasileiros, abrindo a porta para uma vida melhor, mas, como qualquer ingresso para o trem do paraíso, os assentos são limitados.
Como professor de graduação por mais de uma década, sei que o ensino básico, fundamental e médio são extremamente deficientes no Brasil. Afirmo com tristeza que a necessidade de empurrar o aluno até a porta de saída, gerando estatísticas favoráveis, não se refletiu em formação adequada dos jovens, como atestam os programas de avaliação internacionais que sempre nos fotografam na rabeira das listas, entregando alunos para as faculdades com graves limitações em conhecimentos mínimos.
Lamento afirmar, mas acredito que mais de 30% dos alunos de terceiro grau têm dificuldades com aritmética e com a língua portuguesa que são muito mais sanadas no celular e no google do que pelas vias tradicionais. Como qualquer equação que exige equilíbrio, o resultado só pode ser negativo para a única incógnita que nos interessa; o nível de aprendizado dos alunos.
Sinceramente, acho muito complexo definir qual deve ser a área prioritária para o governo; ensino básico, fundamental, superior ou mesmo pesquisa, mas talvez fosse melhor optar por outro parâmetro mais adequado, escolher sempre o ensino de qualidade e perseguir suas exigências, no limite de nossa capacidade financeira.
O universo dos “nem nem” compromete todo o esforço do país em áreas fundamentais porque toda a estrutura pública será penalizada pelo custo extra deste contingente que não contribui. Estes jovens, em algum momento, serão números pressionando o SUS e a Previdência, para ficar nos itens mais óbvios, além de reduzir o mercado consumidor, a renda das famílias, enfim todos sabem que as reais consequências.
Lógico que a quase totalidade destes jovens não estão nesta situação por vontade própria, sendo a falta de oportunidades a razão mais eloquente para explicar o tamanho dos números. Comparar valores adicionais, em especial na área de educação e formação profissional, com o volume de recursos gastos em emendas parlamentares, supersalários, mordomias do judiciário e dos militares, nos informa com ênfase que, em algum momento, a população jovem precisa ser mais relevante que as elites no processo de tomada de decisões.
Ainda que as respostas não sejam contundentes como nações asiáticas nos apontam, a inércia é criminosa contra uma geração de abandonados pelas políticas públicas. O Japão, com histórico muito melhor que o nosso, que resultam inclusive em uma média de coeficiente intelectual bem mais elevada, optou por uma mudança radical, reduzindo as matérias do ensino básico para apenas 5 (informática, matemática, celular e duas línguas), completamente focadas nas necessidades do mercado e trabalho da próxima década, exatamente para impedir que jovens fiquem pelo caminho.
Discussões retóricas sobre currículo escolar ou prioridades da área não resolvem a questão, sendo fundamental que o discurso fácil de colocar saúde e educação em primeiro plano desça dos palanques e vire ações concretas.
O Brasil enxerga, em pouco tempo, uma alteração radical na pirâmide etária, seremos um país de velhos, muito distante da metade do século passado quando alardeávamos a ladainha de país do futuro. Você consegue imaginar o peso nas costas da população economicamente ativa, menos da metade dos brasileiros, carregando velhos e os “nem nem”?
O problema bate na porta e pede urgência! A grande maioria deste contingente precisa apenas de motivação, esperança e oportunidade. Governo e sociedade precisam oferecer respostas adequadas antes que a gente não tenha nem SUS e nem previdência.
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