Já repararam como nosso mundo é povoado de imagens?
Pode parecer óbvio, afinal, acordamos e checamos a tela do celular, depois o espelho; comemos uma salada de frutas colorida; espiamos as fotos do jornal, as selfies dos amigos e as imagens do noticiário internacional; saímos a pé, rumo ao trabalho, avistamos casas, prédios, outdoors, carros, placas de trânsito e vitrines com roupas da moda; no trabalho, a colega mostra uma foto nas redes sociais e descobrimos que a imagem é resultado de uma montagem; à noite, em casa vemos filmes, novelas, séries e antes de dormir ainda verificamos uns perfis de paqueras num aplicativo de namoro. Um verdadeiro bombardeio visual.
Sabemos ler todas essas imagens? Ou apenas as enxergamos com nosso olho físico? Sabemos o que elas significam na sua totalidade e profundidade?
Do mesmo modo que somos alfabetizados e aprendemos a leitura e a escrita nas escolas, é necessário introduzir o ensino/aprendizagem da interpretação das imagens. Tal habilidade é especialmente relevante para toda a população, pois tendemos a lê-las inconscientemente.
Atualmente, cerca de 30% da população brasileira de 15 a 64 anos é considerada analfabeta funcional. São pessoas que não possuem a capacidade de interpretar textos e realizar operações matemáticas, mesmo sabendo ler e escrever.
Não há dados disponíveis sobre o analfabetismo visual (de imagens). São pessoas que, apesar de enxergarem, não possuem a capacidade de interpretar as imagens no contexto em que são produzidas e divulgadas
O analfabetismo da escrita, da leitura e das imagens prejudica o desenvolvimento intelectual, pessoal e profissional do indivíduo. Prejudica a sua integração na sociedade como um cidadão crítico e faz com que as pessoas recebam as imagens passivamente, sem questioná-las, sem perguntar o que representam e como chegam até nós. É preciso aprender e compreender o que as imagens representam, o que buscam transmitir, como, por que e por quem são criadas. Caso contrário, cada vez mais será possível manipular as pessoas, seja por notícias falsas ou por meio de imagens modificadas.
Com a popularização das mídias sociais, o bombardeio de imagens se elevou extremamente. Elas praticamente substituíram a palavra e a escrita como meio de comunicação. É difícil calcular o quanto as imagens podem configurar as identidades individuais e coletivas. Mas, é fato que elas podem gerar modos de ver, pensar e agir no mundo.
O escritor português José Saramago escreveu: “Se podes olhar, vê; se podes ver, repara”. O olhar é o ato biológico de enxergar. Já ver e reparar são dimensões de um ato cognitivo, racional e interpretativo. Para ver e reparar, é preciso ir além do aparente, do senso comum, da emoção, da simples experiência ou das opiniões. É necessário exercitar a capacidade de avaliar, discernir e refletir sobre as imagens que olhamos.
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