Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e diretor da CIA FM.
Truculências do Trump = Trumpulências, é um neologismo que importo de publicações americanas, com a devida tradução, que apontam para o fato político mais impactante de 2025; a estratégia agressiva ou a fórmula esdrúxula do novo presidente americano de impor suas prioridades na mesa de negociação.
Em outra postagem, já o comparei ao jogador típico de truco, grita para amedrontar o adversário, com a agravante que todos sabem que o Trump, que ocupa o cargo mais importante do mundo, talvez depois do Papa, sempre tem cartas e gritar seis pode custar muito caro. Mas, assim como na mesa de truco, muitas vezes Trump quer apenas fazer um pontinho e seguir em busca de seus objetivos e, nestes momentos, ele sai de cena e deixa a negociação para Marco Rubio, Secretário de Estado, também de convicções firmes, todavia afeto ao diálogo e sempre disposto a ceder pouco, deixando margem para saídas honrosas aos adversários.
Este desenho já serviu ao México e ao Canadá que, para se ajustarem às exigências de Trump, sem as terríveis tarifas de 25%, assumiram uma postura agressiva do controle das fronteiras, para além de impedir a entrada de imigrantes, mas também de drogas e do temível Fentanil, a droga que mata trezentos americanos por dia de overdose e parece ter um poder muito mais destruidor que suas antecessoras. Outras nações precisarão formatar recuos da mesma ordem para ficar distante da fúria de Trump.
Objetivamente, cabe registrar que os EUA de 2025 serão diferentes do manequim que estamos acostumados a enxergar; a nação poderosa que ajuda e interfere em todos os quadrantes do mundo, impondo sua vontade, suas prioridades e até mesmo, em muitas situações, sua cultura. Trump declara com todas as letras que seu país se recusa a pagar pelo bem-estar do planeta, importando apenas o público interno.
A opção claramente expressa no processo eleitoral que contou com a aprovação majoritária nas urnas, é cuidar do povo americano. Pagar pelas indulgências de nações necessitadas, investir em ações de controle do meio ambiente, pauta climática ou similares estão descartadas porque Trump se recusa a ser o benemérito das causas da Aldeia Global, sua opção é apenas cuidar do seu quintal e tomar todas as medidas necessárias, inclusive protecionistas, para garantir tranquilidade, segurança e bolso cheio para o cidadão americano médio.
Todavia, nem mesmo o ocupante do cargo mais importante pode desconhecer que o planeta está integrado e qualquer ação, por menor que seja, produz reflexos internos e externos, ainda que de magnitude diferente.
Analise rapidamente as restrições, ou expulsões dos imigrantes ilegais. Sem eles, haverá um enorme déficit de mão de obra na agricultura, tocada com mão de obra essencialmente latina. Você consegue imaginar a soma destes dois fatores, custo de mão de obra elevado e restrições a importações de grãos, exceto pelo milho, sempre competitivos na mesa americana. Vai gerar inflação e todo o leque que se segue, alteração de juros e taxa cambial, elementos que acentuam o descontrole da economia.
Podem inclusive ser fatores mais prosaicos, como a falta de mão de obra para serviços domésticos, tornando razoável imaginar que o cidadão americano que precisar limpar o banheiro ou lavar a louça, mesmo com o bolso mais recheado não vai ser feliz com as ações de Trump.
Parece evidente que Trump dispõe de um bom tempo de largada, sustentado pelo impacto de suas declarações e sua estratégia para conseguir avanços significativos na política externa, inclusive com reflexos diretos na balança comercial, que lhe permitam enfrentar as questões domésticas com maior popularidade porque, também nestas questões, que se aproximam da pauta de costumes brasileira, o presidente americano também promete, ou ameaça ser contundente.
Ainda que não afete o público externo, o embate interno, com a visão conservadora de Trump poderá provocar cisões ainda mais profundas em eleitorados de centros como Califórnia ou Nova Iorque, com histórico democrata e com acentuada postura liberal, tendem a reagir e estabelecer distância das estrepolias de Trump, sempre registrando que algumas de suas ações, contra a política de gênero, na linha dos direitos humanos, sempre muito sensíveis, tem o apoio do eleitorado republicano.
Mesmo com o roteiro que prioriza as questões externas nos primeiros capítulos, a impressão que me resta é que o enredo da administração atual terá muito mais dramas e debates internos, mais tensos e densos nos próximos anos.
Guerra comercial é apenas uma remota possibilidade no horizonte pela simples razão que, todos os lados sabem que raramente tem vencedores, sendo apenas uma forma cruel de distribuir prejuízos em porções desiguais, afinal desde os primórdios a humanidade aprendeu ainda na Antiguidade, praticando o escambo, que comercializar é um exercício necessário e inteligente, lição que Trump, legitimamente buscando ganhos adicionais para seu país, jamais conseguirá reescrever.
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