TRILIONÁRIOS

Por Célio Juvenal Costa, professor da UEM

O mundo está próximo de conhecer seu primeiro trilionário. Vi recentemente esta notícia em algum post na internet e depois procurei saber se era fake, mas não é; realmente estamos a meses ou a poucos anos de conhecer a primeira pessoa que terá uma fortuna estimada em mil bilhões de dólares, ou seja, um milhão de milhões de dólares. E isto será algo para se comemorar? Tenho convicção que não; tenho convicção que será uma das coisas mais funestas para a humanidade.

Deixarei de repisar aqui neste texto os argumentos, pertinentes, diga-se de passagem, que a existência de bilionários por si só representa, na prática da humanidade como um todo, uma discrepância gigante que relega para abaixo da linha da pobreza um sem número de pessoas. Somente a título de exemplo, Musk, Zuckerberg e Bezos têm juntos uma fortuna acumulada de quase 900 bilhões de dólares, enquanto que quase 800 milhões de pessoas passam fome no mundo. A proporção do aumento da riqueza dos bilionários parece ser proporcional ao aumento do número de miseráveis. Isto por si só é muito triste! Deveria ser motivo de vergonha para a sociedade pós-iluminista! Por isso que a sociedade não tem o que comemorar quando um deles chegar a ser trilionário.

Mas, na minha visão, tão triste quanto a divisão que existe entre os que possuem demais e os que nada possuem é o fato de uns tempos para cá ter aumentado o número de pessoas que ficam seguindo perfis de pessoas que ostentam carrões, hotéis, viagens, lugares, como se aquele tipo de vida fosse um ideal a ser atingido na vida. E de fato se tornou mesmo um ideal; mas um ideal ilusório, tão ilusória quanto é a própria sociedade do consumo desmedido. Cada vez é mais comum encontrar vídeos em perfis nas redes sociais que mostram como ficar rico ganhando mil, dois mil, cinco mil, dez mil reais por mês. Para mim o preocupante em si não é quem faz os vídeos, mas quem acha que seguindo aquelas orientações de economia de dez a vinte por cento do que ganha, em pouco tempo pode fazer viagens a lugares incríveis, ficar hospedado em hotéis paradisíacos, comprar carrões etc..

As pessoas não conseguem entender, não são levadas a compreender, muito ao contrário, que a lógica da sociedade de consumo é exatamente a equação de que para que poucos, pouquíssimos, possam ter muitas, muitíssimas, coisas, a imensa maioria não pode ter acesso àqueles produtos. A riqueza ostentada nas redes é uma imensa vitrine para que o desejo de muitos seja estimulado de tal forma que haja uma naturalização da ilusão, tal como a famosa imagem do cachorro de rua em frente àquelas máquinas de assar frango. A ilusão da riqueza, de sua ostentação, é estimulada cotidianamente pelas plataformas digitais, as quais, diga-se de passagem, pertencem a bilionários. Toda vez que postamos, curtimos, comentamos, seguimos, enfim, nos tornamos ativos nas redes, nós estamos contribuindo para que os bilionários caminhem rumo ao seu primeiro trilhão. E nós? Percamos a ilusão, deixemos de nos seduzir pelo “canto da sereia”, e, quem sabe, deixemos de endeusar exatamente aqueles que são os grandes responsáveis pela sociedade ser cada vez mais, globalmente, distópica.

Uma vez li em algum lugar que não me lembro mais (problema de idade, eu acho...) uma frase que talvez sintetize o assunto deste texto: “O problema da humanidade hoje não é produzir alimentos para matar a fome de todas as pessoas, o problema é produzir bens de consumo para matar a saciedade e a ganância dos milionários e bilionários”.

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