Traduzindo Trump.
- Walber Guimarães Junior
- há 5 dias
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Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e comunicador.
Você pode até não gostar do Trump, mas não se pode menosprezar as qualidades e a inteligência de um homem que atinge, pela segunda vez, o cargo mais importante do planeta. É explosivo, temperamental, impulsivo e talvez seja até vingativo, mas definitivamente não tem nada de bobo.

Trump sabe exatamente onde quer chegar, pode até ter escolhido um atalho explosivo para atingir mais rápido seus objetivos, mas entendê-lo exige que se analise suas intenções e a premissa mais evidente é que o presidente americano “cisca pra dentro”, com foco quase total nas variáveis internas, desconhecendo a pauta globalizada da nossa Aldeia.
Meio Ambiente ou a questão climática são urgências para a humanidade, mas não para Trump, quase octogenário, porque seu horizonte temporal é esta década, ainda que, ao largo da constituição americana, flerte com o irregular terceiro mandato. Se os efeitos de qualquer evento não forem de curto prazo, certamente serão ignorados por Trump.
O atual republicano, vestindo bem o figurino partidário tem foco centrado nas questões internas e prioriza a recuperação do poderio econômico americano, do poder de compra do cidadão americano comum, além da pauta conservadora, itens que construíram sua vitória eleitoral. O grande compromisso de Trump é resgatar a força da economia americana e o poder de compra do cidadão comum, pouco importa quem vai pagar esta conta, sejam players externos ou ainda a própria economia interna nos anos seguintes à sua gestão.
Importa apenas agradar ao seu eleitor médio, indignado com a perda de poder aquisitivo na gestão democrata anterior e esta diretriz norteia Trump e sua gestão, atropelando adversários de qualquer origem que se coloquem em seu caminho. Como um trator, o presidente passa por cima, sem medir consequências.
Ainda que especialistas apontem inúmeros riscos na sua estratégia, sendo a inflação em elevação a principal catalizadora de inúmeros outros parâmetros da economia, com respostas de médio prazo temerárias, ainda é um cenário especulativo pela impossibilidade de prever as reações dos players internacionais afetados pelo aumento das tarifas e pela possibilidade de acomodações previstas com as negociações que sucederão ao impacto inicial, mas não há dúvidas que o equilíbrio comercial do mundo econômico muda de ponto, em alguma direção a ser confirmada à frente, mas, segundo o desejo do governo americano, devolvendo a supremacia confortável que os EUA desfrutaram por muitas décadas, sendo este o grande motivador das ações do atual governo americano.
A história registra que, desde a segunda mundial, os EUA é praticamente o provedor, o “paizão” da humanidade, com o ato inicial no financiamento da reconstrução da Europa destruída pela guerra, seguida de centenas de intervenções, bancando ações em defesa de aliados, socorrendo nações vítimas de tragédias humanitárias ou conflitos políticos ou regionais. Todas estas ações tiveram um custo elevado, mesmo para a nação mais rica do planeta e, em conjunto, comprometeram a saúde econômica americana, hoje acossada pelo rival chinês que cresce com números melhores por uma sequência de anos que permite supor um equilíbrio preocupante em curto prazo.
São muitas frentes onde a liderança pode mudar de mãos, algumas críticas como setores energéticos e áreas como IA e tecnologia de informação que podem impactar o planeta e, para os quais, o governo Trump acha fundamental manter a dianteira e isto tem um custo elevado até para a moeda mais forte do mundo e, segunda a cartilha Trump, está na hora do planeta devolver os favores americanos, na forma de tarifas que recomponham a força de sua nação.
Não é missão fácil “traduzir” Trump porque ele segue imprevisível e abusa da estratégia de pesos e contrapesos, de sustos e recuos, muito característica da sua personalidade, mas tem uma diretriz que todo mundo já entendeu; Trump decidiu que é hora de todo mundo acertar as contas com os americanos.
O problema é que a fatura foi desenhada pelo pretenso credor que não admite, pelo menos por enquanto discutir nenhum item listado como débito.
Sabe quando você fica muito tempo no boteco que perdeu até a conta da cerveja...
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