SÍNDROME DE MEDUSA
- Célio Juvenal Costa
- 13 de fev.
- 3 min de leitura
Por Célio Juvenal Costa, professor da UEM
A história de Medusa é relativamente conhecida pelas pessoas em geral. Um breve resumo: ela era uma mulher extremamente bonita, virgem, que era sacerdotisa do templo de Atena e, portanto, deveria continuar com sua virgindade intacta; Poseidon, deus dos mares, um dia a possuiu contra sua vontade; Atena, a deusa, sobrinha de Poseidon, quando descobriu, ao invés de se vingar do seu tio, castigou Medusa transformando-a num ser abjeto, tenebroso, com cobras como cabelos e com o poder de transformar em pedra quem olhasse diretamente em seus olhos. Penso que assim como outros tantos mitos gregos, este possibilita reflexões atuais, que eu, livremente, dou o nome de Síndrome de Medusa, e não tem a ver com a análise psicanalítica sobre a castração feminina e nem sobre cabelos quebradiços, mas tem a ver com uma ligação que quero fazer com a violência contra a mulher.

As mulheres que sofrem violência por parte de homens, especialmente física, como estupro por exemplo, têm sua vida marcada para sempre, pois elas acabam por carregar uma culpa que não deveria ser delas. Aqueles que estudam ou convivem com casos como esses sabem que a mulher estuprada sente vergonha pelo que aconteceu e geralmente têm dificuldade para falar sobre a violência que sofreram, sentindo-se, inclusive, intimidadas em denunciar seu agressor. E por que disso? A nossa sociedade é herdeira de uma cultura centrada no homem, uma sociedade que, no geral, acaba por culpar a mulher pela violência que sofreu. "Também, usando esta saia curta, queria o que?"; "Se usasse roupas mais apropriadas não seria violentada!"; "Quem mandou sair sozinha aquela hora!"; "Mulher que bebe como ela deveria saber que isto poderia ocorrer!". Estes são alguns poucos exemplos do que pessoas pensam (ou dizem!!) sobre os estupros que acontecem; ou seja, culpabilizam as próprias vítimas da violência. Por isso que as mulheres violentadas de alguma maneira se sentem culpadas, elas introjetam o que eu estou chamando de Síndrome de Medusa.

A Síndrome de Medusa leva as mulheres agredidas a achar que elas poderiam ter evitado a violência se elas tivessem "se comportado" adequadamente, ou seja, sendo "belas, recatadas e do lar". A Síndrome de Medusa leva as mulheres a baixar sua autoestima no rodapé; leva as mulheres a se acharem feias, abjetas e, simbolicamente, monstruosas; se sentem não participando mais da sociedade, ou melhor, não merecendo fazer parte do convívio social, como se as outras pessoas fossem infectadas pela sua “doença”. A violência sofrida pela mulher acarreta uma violência interna que se eterniza e que praticamente a impede de voltar a ser quem ela era, e isto pelo julgamento que dela é feito, e que ela sabe que as pessoas fazem. A própria Atena, uma deusa mulher, condenou Medusa ao suplício, a julgou como culpada pela violência de Poseidon.
Está na hora de encarar isto de frente para que não só a violência acabe, mas que a Síndrome de Medusa também desapareça. As mulheres precisam continuar mostrando sua força, precisam continuar a se empoderar e exigir respeito ao seu corpo, às suas roupas, à sua liberdade de saírem, de tomarem, se assim quiserem, suas bebidas, e não serem julgadas por isto. É necessário que as mulheres e aqueles que se sentem sensibilizados por esta situação enfrentem a cultura machista, centrada na figura masculina, que faz com que as mulheres violentadas continuem, elas próprias, a se violentarem quotidianamente, por se considerarem culpadas por aquilo que, de fato, não é sua culpa.
Meu Instagram: @costajuvenalcelio
Obs: Esta é uma versão revisada e atualizada de um texto originalmente publicado no blog: devaneioseoutrasreflexões.blogspot.com.
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