Ultimamente venho refletindo muito sobre a solidão humana que, para mim, é uma das marcas registradas da nossa sociedade. Muito provavelmente inspirado em autores que estudei ou venho estudando ultimamente, fico tentando aprender como se olha a alma humana para, assim, poder observar a sociedade da qual faço parte e elaborar argumentos para expressar meu ponto de vista. Penso que a solidão é uma espécie de resultado, como um ponto de chegada, e não atributo da personalidade, com uma espécie de ponto de partida. Dos vários ângulos que se pode constatar a solidão, um deles, acho, é do amor-próprio.
Vou usar um exemplo que, creio, é muito comum: o fim de um relacionamento e o que se segue depois. Porque a felicidade da pessoa amada geralmente é tão ofensiva quando ela não está mais perto? Porque não é possível admitir que a pessoa amada pode ser feliz com outra pessoa? Porque se espera que, no fundo, a infelicidade de uma seja também o estado de alma da outra pessoa? Penso que isso não tem nada a ver com o amor que se quer da outra pessoa ou mesmo do amor que se diz sentir, por mais que isso possa parecer paradoxal. Acho que, no fundo, tem a ver com uma espécie de amor-próprio. Há uma frase atribuída a Nietzsche, de que todo amor é antes de tudo amor-próprio, pois não se ama o desejado, mas o desejo. Por isso, a pessoa abandonada se pergunta sempre: "como aquela(e) infeliz pode amar outra pessoa que não eu?" "Como, e em que, a outra pessoa pode ser melhor que eu?" "Como a(o) desgraçada(o) pode se entregar para outra pessoa da mesma forma que se entregava a mim?" Os sentimentos que torturam, que tiram o sono e a vontade de fazer as coisas, esses sentimentos atingem em cheio o ego, nocauteiam o amor-próprio, fazem a pessoa se sentir a pior do mundo, pois ela julga que foi rejeitada...
Não é impressionante isso? Não é impressionante como funcionam as coisas lá no fundo obscuro de nossa alma? Amor-próprio acaba tendo a ver com propriedade das coisas e das pessoas, com uma constante (e disfarçada, é claro) necessidade de ser idolatrado a todo momento. E, para complicar, apesar disso tudo fazer parte do humano que existe em nós, esta parte da nossa humanidade pode revelar-nos um ser fraco, mal resolvido emocionalmente, dependente dos outros e das situações, arrogando-nos como se as pessoas amadas fossem nossa propriedade. Por que o amor que se dedica a um amigo(a) é diferente? Talvez porque amar um(a) amigo(a) é saber que ele(a) e você estarão sempre juntos, mesmo que separados, sempre cúmplices, mesmo que distantes, sempre prontos para ajudar sem julgar.
Mas, então, porque a outra forma de amor, o amor-paixão, para vivenciá-lo, a liberdade tem que ser sacrificada em nome do amor-próprio? Eu acho que a frase do Nietzsche se refere ao amor pequeno-burguês, ao amor pobre, ao amor que empobrece: não podemos querer amar o outro somente na exata medida em que este amor representa a escravidão do outro às nossas correntes; querer que o outro nos ame para reforçar nosso amor-próprio é, me parece, não ter, de partida, amor-próprio; é querer que o outro preencha um vazio, e só isso. Confundimos muito os amores. A dor de um amor que se foi é doída, mas amores podem acabar, ainda mais em certas circunstâncias. Melhor dizendo, amores acabam, mas não morrem, se realmente foram verdadeiros. Amar vale a pena, mas saber amar vale muito mais!!
Voltando ao início, cultivar o verdadeiro amor-próprio, o que é necessário para o controle da vida, é cultivar a liberdade. Deixar levar-se pelo egoísmo, querer submeter o outro e não conseguir, é aumentar o sentimento de abandono e de solidão. E, como consequência, para evitar a mágoa afunda-se numa vida solitária, compensada por relações superficiais e desiguais...
Meu Instagram: @costajuvenalcelio
Obs: Esta é uma versão revisada e atualizada de um texto originalmente publicado no blog: devaneioseoutrasreflexões.blogspot.com.
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