Dia desses caiu em minhas mãos uma crônica do Luís Fernando Veríssimo sobre a relação dos homens com os carros. O texto saiu numa edição da revista 4 Rodas, de 1976, com o titulo ''Entre no carro. Isto é, vista sua fantasia''.
Veríssimo escreveu: “os carros não são apenas um meio de transporte para os homens; eles podem ser sinal de classe social, poder, riqueza, segurança, arma, potência sexual…”.
A verdade é que os homens sempre deram muita importância para os carros. Muito mais do que as mulheres.
O literato até adiantou um diagnóstico psicológico: “a potência do carro compensaria a insegurança do homem com seu próprio vigor físico, sua masculinidade, ou o tamanho do seu pênis”.
O homem entra no carro, acelera e têm a seu dispor muitos cavalos de força. Fica mais potente. A intimidade é tão grande que o homem sente que seu carro e ele são uma coisa só. O carro é uma extensão do corpo de homem.
E Veríssimo adverte: a relação do homem com o carro tem relação direta com a predominância do machismo. A velha ideia de que o homem tem que ser forte, robusto, aventureiro, conduzir e controlar.
Dentro de um carro o homem se sente mais do que qualquer um na rua. Quando um homem entra num carro, afirma Veríssimo, “a civilização desaparece, a besta está à solta”.
A coisa é tão doida que “para os motoristas, o outro motorista é um palerma que detém a sua marcha, ou um bandido que só está esperando a hora de arranhar seu paralama, ou um verme sorrateiro que chegou na vaga para estacionar um minuto antes dele”. Ou seja, o outro motorista é um inimigo.
É a livre concorrência dos carros. Um tentando ser melhor do que o outro. Uma rinha de carros.
Embora essa crônica seja de 1976, infelizmente ainda é atual.
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