Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e diretor da CIA FM.
O mundo gira! Esteja certo de que ao completar cada ciclo, conceitos podem ter sido reconstruídos, atualmente com mais velocidade, de tal forma que precisamos estar sempre reavaliando nossas concepções, à luz das novas realidades. Talvez isto explique a indiferença, até apatia, que a comunidade internacional recebeu o tradicional discurso brasileiro de abertura da Assembleia Geral da ONU.
Lula não é mais encantador de serpentes da plenária da ONU, porque eles também descobriram que Lula 3 é diferente de Lula 1, ainda que não assuste a comunidade internacional como seu antecessor, líder da direita que adorava emitir os conceitos derivados da filosofia da extremada do seu guru, Olavo de Carvalho.
Dados das queimadas e desmatamentos chamuscaram a imagem de país que queria ser líder do meio ambiente, fatos resultantes de controle incipiente, problemas climáticos e uma dose de criminalidade.
Some-se a isto, as contradições da nossa democracia, por excesso de visibilidade do STF que comprometem nossa imagem internacional.
Um pouco antes, a hesitação diante de Maduro e suas loucuras, no estelionato eleitoral venezuelano, não permitem mais enxergar Lula como líder do bloco sul-americano, escrevendo agora o epílogo de uma história de desgastes que se iniciou com a covardia ante a agressão de Putin contra a Ucrânia de Zelenski.
Para quem pensa que o desgaste é apenas na arena política, lamento informar que a questão do meio ambiente pode custar prejuízos definitivos para alguns dos nossos biomas, resultando, logo à frente em redução ou aumento significativo do custo da produção agrícola, restando como possibilidade única a inserção de mais tecnologia que provoque mais produtividade e mais produção, sempre lembrando que solo, pragas e outras variáveis se resolvem, mas falta de chuvas exigiria um improvável acordo com as forças da natureza.
Mesmo na área política, onde credibilidade e confiança abrem as portas para investimentos internacionais para impulsionar a produção e a economia nacional, saída única diante das limitações de sobra de capital, capacidade de investimento interna e, principalmente, ausência de condições efetivas para promover as correções necessárias para obter o ajuste fiscal, causam prejuízos notórios na nossa economia já precária pelos parâmetros históricos. Como qualquer empresa, gastar mais que arrecada tem um preço, no caso da empresa Brasil paga pelos seus “funcionários”, na forma de impostos.
Parece muito evidente, para qualquer brasileiro, que a disputa político ideológica segue na ponta das pautas de prioridades da nação, mesmo com as queimadas e a mudança climática batendo na porta de centenas de municípios e isto tem sido um transtorno na vida nacional. Só importa o deslize verbal de Lula ou Bolsonaro ou, mais recentemente, as pirotecnias de Marçal e não achamos espaço para cuidar das nossas mazelas.
Seguem as tragédias ambientais, escancaradas nas queimadas e na seca, segue o debate insano de polarização odiosa, e as pautas realmente relevantes são cada vez mais secundárias. Acho que o mundo percebeu que nossa classe política transita em uma ilha de fantasias, isolados pelo mar das regalias que os afasta do continente da população, sufocada pelo apelo inevitável do aumento da carga tributária para cobrir o déficit da insensatez de nossos líderes.
O déficit fiscal estrangula as contas nacionais, as chantagens parlamentares sempre se sobrepõem às prioridades técnicas e a população prefere manter o foco nas cadeiradas de uma eleição que se recusa a discutir pautas relevantes.
O brasileiro se acostumou tanto em escolher o menos ruim que as estratégias políticas focam apenas em provar que o adversário é pior. Bandeiras eleitorais não são mais hasteadas porque irrelevantes, importa apenas “lacrar” e gerar “cortes”, a despeito do elogiável esforço de alguns que ainda insistem em debater ideias.
Coitados, a população não quer ouvi-los e estão fadados a saírem das urnas com números magros de apenas um dígito porque a cultura tiktok, que invadiu o teatro eleitoral, exige cenas fortes, onde a emoção é o ingrediente básico porque a racionalidade não seduz a audiência.
Lula perde o encanto lá fora da mesma maneira que os candidatos perdem a capacidade de empolgarem, não precisam nem mesmo provar suas qualidades porque o processo de definição de voto percorre a contramão da razão.
Desde já, o desenho de 2026 se projeta como uma disputa medíocre, personalista e limitada pelas novas regras do jogo. Serão Lula, Marçal, estes confirmados, talvez Caiado, Ratinho, Simone ou Tarcísio, pouco importa. Se tiverem o que falar, não serão ouvidos, como Tabata Amaral ou Marina Helena em São Paulo, talvez não joguem cadeiras ou posem de bobo da corte, mas, infelizmente, a população descrente tem adorado o espetáculo circense.
Achincalhar os políticos não é solução porque apenas refletem a cena de um Brasil em crise de identidade. Tem muita coisa errada, desde o equilíbrio entre os poderes, regras tributárias e políticas, clamando por espírito republicano que quase não se enxerga.
Logo à frente, já em cartaz, outra comédia dos tempos modernos, a eleição para as mesas do Congresso onde as barganhas humilham a decência e apenas reforçam a nossa decepção.
É preciso uma ampla revisão e ouso dizer que apenas o fim das reeleições quebra o jogo de perpetuação da elite, privilegiada pelas regras do mendelismo político, oxigena as instituições e acaba com a confraria que briga no palco e se abraça nos bastidores porque nós, sim, você e eu, estamos escalados para pagar a conta do espetáculo.
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