_ Fiquem em pé, braços largados, quadril pesado, percebam a pequena dança que seu corpo faz para se equilibrar.
Orientou a condutora da oficina de “escrita em si” da qual eu participava.
_ Observem qual desenho seus pés criam no chão.
Lágrimas brotaram nos olhos. Nasceram dos pés grávidos de filho medroso.
Na infância, quando chovia, eu ensacava meus pés para não sujar o tênis. Deslizava até a escola. Às vezes, eu caia e sujava o uniforme, menos o tênis que apertava meus pés.
Um sonho se repetia: enquanto todos tinham que andar com os pés no chão, eu deslizava. Acordava com os gritos dos meus pés. Pés que não cabiam em calçados. Pequenos, tortos, gordos, de pata, inchados, doloridos, voadores.
Dedos ficaram em martelo martelando a dor na minha cabeça. E eu pisando na ponta dos pés.
O médico disse:
_ Seus pés estão doentes!
Placas, pinos e parafusos.
_ Pés errados! Disse outro doutor em pés.
_ Fasceíte plantar!
Tropecei. Caí. Pés apressados. Braço quebrado. Mais placas e parafusos.
Perdi meus sapatos e nenhum príncipe vai trazê-los de volta? Mentira! Joguei os sapatos fora. Ou doei.
Lá fora um coro repete.
_ Você tem que encontrar um sapato pro seu pé. Você tem que encontrar um sapato pro seu pé.
_ Pé de vento não se calça! Racham para enraizar.
Gritam os pés com código de barra e carimbo de produto frágil.
Gostei