Por: Célio Juvenal Costa, professor da UEM
Vou parar de fumar!
Vou entrar na academia!
Vou levar a sério a academia!
Vou entrar para aquela equipe de corrida!
Vou fazer uma dieta!
Vou economizar dinheiro!
Vou organizar minha vida financeira!
Vou fazer as pazes com as pessoas!
Vou evitar discutir por causa de política!
Vou menos em baladas e beber menos!
Vou fazer um curso para me aperfeiçoar!
Vou mudar de curso na universidade!
Vou participar de alguma ONG para ajudar as pessoas!
Vou arrumar um amor!
Vou fazer terapia!
Vou...
Todo começo de ano as pessoas fazem muitas promessas para realizarem no ano que se inicia. Promessas relacionadas à saúde, finanças, relacionamentos, vida profissional etc.. Na imensa maioria das vezes as promessas parecem ficar somente nas boas intenções, pois é muito comum ouvirmos das pessoas que elas não conseguiram cumpri-las ou mesmo nem se preocuparam muito em realiza-las. Alguém me disse recentemente, quando conversávamos sobre isto, que teria lido que as promessas duram, em média, 15 dias. É isso mesmo, elas, as promessas, não duram até meados do primeiro mês do ano. Eu não costumo fazer promessas de ano novo. Aliás, teve uma época em que eu postava no face o que eu não prometia; por exemplo, em 2021, eu não prometia: parar de fumar, diminuir a bebida, ver menos séries na TV, deixar de me irritar com as pessoas, ter menos preguiça de trabalhar e não deixar de fazer planos. Mas, eu no fundo acho interessante o fato de as pessoas aproveitarem o final de um ano e, consequentemente, o início de um novo, para se proporem a fazer coisas que não fizeram, não conseguiram ou nem tentaram, em todos os 365 dias que ficam para trás.
Um novo ano, um novo período de 365 longos dias que vai se iniciar em breve, é uma oportunidade, quase mágica, de entrarmos em uma espécie de avatar de nós mesmos, e criarmos a coragem para fazermos coisas que sabemos que são boas, oportunas, ou mesmo necessárias, para mudar de vida. A passagem de ano é vista como uma passagem de vida e não somente de calendário. E as pessoas têm suas razões para pensar nisso, pois, apesar de, na prática, ser uma continuidade e não um retorno, nós contamos o tempo com a sensação que o réveillon é, de fato, um recomeço. Ora, em janeiro a maioria das pessoas estão de férias, que vem a ser o descanso, remunerado, de um ano inteiro de trabalho; em janeiro muitos de nós começam a pagar IPTU, IPVA, que marcam, dolorosamente, o reinício do pagamento de impostos; em fevereiro começamos um novo ano letivo, novos e novas colegas, novos e novas professores e professoras (como professor, eu sei muito bem disso, pois apesar de geralmente ser uma matéria já conhecida, os alunos são novos); enfim, o ano novo é o reinício de muitas coisas na nossa vida. Portanto, nada mais natural do que acharmos que ele pode ter um efeito quase mítico de podermos nos projetar também como novas pessoas.
O problema é que, na verdade, a sensação que temos é no mínimo ilusória, pois se tiramos férias do trabalho, é para a mesma labuta que voltamos, é para a mesma escola (mesmo que não seja exatamente a mesma) que voltamos; não é um recomeço, mas uma continuidade. Portanto, não somos um recomeço de nós mesmos, mas, sim, uma continuidade de quem somos. Talvez seja por isso que, na prática, as promessas não durem muito, pois logo nos damos conta de que não passamos por nenhum portal mágico que nos empoderou e nos deu coragem para sermos diferentes do que somos apenas porque o ano mudou. Penso que qualquer momento de nossa vida é uma boa oportunidade para revermos coisas em nossas vidas e tomarmos decisões relacionadas à melhoria de quem somos, seja relacionada à nossa saúde, à nossa realização profissional, ou aos nossos relacionamentos; então, a passagem de ano pode ser, sim, um bom momento para isso, por toda a motivação mítica e mística que ela propicia.
No entanto, para termos motivação e coragem de fazer mudanças é preciso, primeiro, procurar saber um pouco quem somos, até para chegar à conclusão de que fazer promessas de final de ano pode ser, na verdade, pensar com a cabeça de outras pessoas, tomar decisões porque, na verdade, todos parecem fazer a mesma coisa. Mudar coisas em nossa vida às vezes é mais do que um desejo, é uma necessidade. Identificar o que podemos fazer para mudar e reunir coragem para concretizar é um passo muito grande para enfrentarmos nós mesmos e, de fato, quem sabe, fazer uma passagem e reiniciar algo, e isso pode ser feito em qualquer época do ano.
Quanto às promessas de final de ano, eu sugiro algo que nos torne mais autênticos e que seja um caminho para um pouco mais de autoconhecimento, que seria, quem sabe, um impulso para tomarmos coragem para fazer mudanças maiores. Eu resumiria a duas promessas: deixar de fazer comentários maldosos em posts alheios e deixar de seguir famosos nas redes. Explico: comentários maldosos não acrescentam nada nas publicações e não faz com que as pessoas que publicaram mudem as suas opiniões; e pessoas famosas expõem vidas que estão muito longe da realidade do dia-a-dia e, portanto, criam ilusões que poderíamos ter uma vida mais agitada, mais glamourosa, mas requintada que a nossa vidinha simples, que é, porém, a vida verdadeira e real.
Desejo que tenhamos um ótimo 2025, e que as promessas que por ventura tenhamos feito agora que sirvam, ao menos, de lembranças do que precisamos mudar em nossa vida!!
Meu Instagram: @costajuvenalcelio
Belo, mestre Célio. O texto aborda com sensibilidade a conexão entre metas, renovação e a magia do recomeço/continuidade. A reflexão é inspiradora e transmite esperança, além de estimular quem lê a se reconectar com seus próprios objetivos. Excelente abordagem!