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PREFEITOS ELEITOS

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PROFESSOR: VOCAÇÃO OU PROFISSÃO?

Por: Célio Juvenal Costa, professor da Universidade Estadual de Maringá


Há alguns anos tenho me debatido (e expressado, sempre que possível) com a ideia muito corrente de que o trabalho de professor está ligado à uma vocação específica. Para mim, aí está uma das chaves para se compreender as razões da desvalorização do trabalho docente.

 

 

Nas redes sociais há um sem número de postagens mostrando que a remuneração do professor é baixa, o desrespeito cada vez mais crescente, inclusive com piadinhas, na minha opinião, sem graça nenhuma, como uma em que o assaltante aborda uma senhora, fica com pena ao saber que ela é professora, e acaba por dar dinheiro, ao invés de roubá-la. Lamentável tudo isso!! Parece haver, por trás das piadinhas peçonhentas, uma certa naturalização de que o trabalho docente é de segunda categoria na sociedade. Lamentável é pouco, na verdade é horrível mesmo.

 

Mas, mais do que constatar (o que é feito à fartura) a desvalorização do trabalho docente, especialmente aquele ligado à educação básica (pois na educação superior, apesar de tudo, a situação não é tão lamentável assim...), devemos investigar as suas razões. Como são várias as causas, me detenho aqui em uma, que é, digamos, intrínseca aos próprios professores, isto é, algo que eles próprios (nós, pois também sou professor) depõem contra si: professor por vocação!!

 

Vocação está ligado na nossa cultura não só às aptidões para algo, mas a uma finalidade quase que religiosa. Quem está vocacionado para algo o está para uma missão, para um trabalho de salvação, para uma espécie de sacerdócio e, portanto, se compromete, interiormente, com uma atividade em que pouco importa a remuneração, mas, sim, a uma ação que diz respeito à satisfação mística de contribuir para um mundo melhor. Esta noção está presente, por exemplo, em vários filmes, como Ao Mestre com Carinho (1967)Sorriso de Monalisa (2003), Escritores da Liberdade (2007), apenas para citar alguns (filmes, aliás, muito bons), em que temos a sensação que os protagonistas, professores, conseguiram educar seus complicados alunos porque, diferente de seus colegas (que sempre estão presentes para exibir o contraponto), demonstram ter vocação para a docência. E a vocação se completa, ou na verdade se traduz, na concepção de que cabe à escola educar, no sentido mais amplo do termo, as crianças e jovens; não basta, simplesmente, instruir, ou seja, não é suficiente apenas passar para o aluno o conteúdo das matérias; cabe à escola transformar a criança em cidadão e, com isso, acaba sendo repassado à escola o papel que seria da família e de outras instituições da sociedade.

 

Claro que educar para a cidadania é importante como papel da escola. No entanto, o espaço principal de atuação docente, a instituição escolar, deve ensinar os alunos uma série de conteúdos julgados importantes que eles tenham acesso para, assim, entre outras coisas, eles poderem escolher uma profissão no seu futuro. Assim, quem é responsável por tal ensinamento é um profissional, capacitado para isto, e que merece ser reconhecido por sua função profissional e não pelo seu desapego ou desinteresse de retribuição financeira adequada.

 

Um tanto desanimado, confesso, eu termino esta breve reflexão afirmando que enquanto os professores tratarem sua profissão como vocação, passando a ser psicólogos, nutricionistas, padres/pastores, assistentes sociais etc., deixando de se preocupar com o aprendizado contínuo daquilo que se refere à sua função, estaremos longe de ver a sociedade e, especialmente os governantes, respeitarem o professor como profissional e, a partir daí, como talvez o profissional mais importante para a sociedade.

 

 

Meu Instagram: @costajuvenalcelio

 

Obs: Esta é uma versão revisada e atualizada de um texto originalmente publicado no blog: devaneioseoutrasreflexões.blogspot.com.

 

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