Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e comunicador.
Abusando da estratégia principal dos polos políticos brasileiros, preciso reavaliar meus conceitos porque estou quase convencido que a esquerda brasileira ainda come criancinhas, se mantendo fiel à doutrina comunista, como tenho sérias suspeitas que aquelas velhinhas do 8 de janeiro fizeram curso de atividades terroristas nas portas dos quartéis. Exagerei? Claro, mas, convenhamos, não fui quem começou esta brincadeira.
Reconheço que, assim como uma parcela razoável da população brasileira, estou cansado de tanta manipulação, como se cada cidadão estivesse autorizado a criar a sua própria versão da teoria da conspiração que combina com seus sentimentos. Sei também que nem chega a ser uma missão difícil porque as redes sociais se encarregam de oferecer “postagens” que traduzem cada fato ou hipótese em teses definitivas sobre a periculosidade do “inimigo” ideológico, sempre pronto a destruir a nação.
Eventualmente, de bom humor, as armações, ajustes maldosos e leituras desvirtuadas nos provocam belas risadas por imaginar que mentes, algumas bem-dotadas, assumem estes roteiros de comédia como versões dramáticas da realidade, mas, basta pensar nas consequências para entender que estamos construindo um muro divisor que não separa a direita da esquerda, mas o bom senso da insanidade.
Triste observar como pessoas de boa formação, idôneas, todavia com fontes de informação contaminadas pela paixão ideológica, assumem posturas arrogantes como se corações que preferem o outro lado estivessem logo baixo de cérebros inferiores, incapazes de enxergar os fatos e traduzi-los com um mínimo de inteligência, atributo exclusivo de apenas uma ponta da régua ideológica, por coincidência, sempre iguais as suas.
É cada vez mais difícil produzir uma análise crítica que aponte falhas de qualquer personagem de um dos lados porque, em rito sumário, seremos condenados a todos adjetivos que nos remetem ao lixo da história. O silêncio e a omissão são, infelizmente, uma opção cada vez mais sensata para preservar nossa tranquilidade e evitar rusgas e inimizades, além de adjetivações que não orgulhariam nossas famílias.
Recuso-me a entrar neste jogo. Rejeito suas regras e jamais admitirei que o ódio seja ingrediente dos nossos diálogos, cresci preparado para o contraditório, fruto de um ambiente familiar e profissional onde o debate lúcido sempre me ajudou a ponderar minhas opiniões. Ainda com dezoito anos, naqueles cursinhos do Sebrae, um instrutor espertíssimo me ensinou que “opinião é resumo das informações que dispomos sobre determinado assunto”. Por extensão, mudar de opinião implica em absorver novas informações, assim como solidificar nossas leituras é sempre a resultante de diversos pontos de vista que se completam.
Será sempre assim e não será o patrulhamento de direita ou esquerda que vai intervir na minha postura e lamento muito que muita gente de bem esteja sendo constrangida pelo “senso comum” que exige que cada um de nós assuma a opinião forjada por milhares de fakes news, metodicamente distribuídas conforme orientação histórica do mestre Goebbels. Não me rendo!
Sigo imaginando que Lula não é tão bom como acha a esquerda, nem tão ruim como aponta a direita, assim como persisto imaginando que Bolsonaro também não é tão bom como avalia a direita, nem mesmo tão ruim como aponta a esquerda. Espero que tal “heresia” não me renda pedradas na testa.
Com mais ousadia ainda, seguirei apontando o dedo para as falhas, por ação e omissão, da esquerda nas falcatruas da distante Lava Jato, assim como mantenho minha condenação à direita, por ação e omissão, na trama golpista que quase comprometeu nossa democracia.
Persisto enxergando qualidades e defeitos nos maiores líderes, Lula e Bolsonaro, com isenção suficiente para entender suas importâncias no momento político e, sem me render à idolatria, entender que todo amor e ódio que despertam precisam sobreviver à lucidez e a capacidade de manter a postura crítica, ou como Raul ensinou "controlando a minha maluquez, misturada com minha lucidez".
Não quero mais me envergonhar de preterir camisas amarelas ou vermelhas, simplesmente para não me identificar com nenhuma das torcidas ensandecidas do clássico político. Quero ignorar com veemência qualquer debate sobre as opções religiosas de Michele Bolsonaro ou a história de vida de Janja da Silva porque, exceto por suas posições políticas, isto não é argumento decente para o debate político, prefiro rejeitar as adjetivações excessivas sobre a família dos nossos líderes porque elas não disputam o meu voto.
Seguirei rejeitando o alinhamento automático, prefiro manter a capacidade crítica e entender que nossos políticos, como qualquer ser humano, estão longe da divindade e erram com constância, como qualquer um de nós e, ainda mais grave, preciso ter convicção de que o personalismo é talvez a marca mais persistente dos políticos.
Caudilhismo, tão em moda na nossa América do Sul, frequentemente entra em colisão com as vertentes democráticas e qualquer resíduo de personalismo será sempre precursor de oceanos de lugares comuns (“é meu parente, mas é competente”, talvez seja a mais emblemática) ou, se preferir, um deserto de ideias.
Sei que o ambiente não ajuda, pensar incomoda na disputa polarizada, mas ainda julgo fundamental abandonar a preguiça mental, ou mesmo a desonestidade intelectual, porque o debate político é importante para o exercício da cidadania e me arrepia imaginar que tantas mentes brilhantes estejam dominadas, transformadas em marionetes bailando no embalo das fakes news.
Talvez seja necessário lutar menos pela liberdade de expressão e mais pela liberdade do livre pensar, não sem antes revisitar Millor Fernandes que nos ensinou que “livre pensar é só pensar”.
Concordo contigo, ele estão discutindo, quem veio primeiro o ovo ou a galinha,ou os sexos dos anjos
E estão criando salvador da pátria e repetindo o que os políticos dizem
Pois na realidade existem grupo que querem manter o poder
Eu fico rindo quando uma pessoa fala em Michelle ou Janja para Presidente.
Ótimo texto!