Estamos a pouco mais de 3 meses das eleições municipais de 2024 e muita gente ainda escuta se falar em polarização porém não sabe exatamente o que significa esse termo na política.
Artigo dividido em 3 partes
Quando se fala da política atual, é muito comum ouvirmos falar também de polarização. Mas o que é polarização política e por que ela é tão preocupante?
Na política, o significado de polarização está relacionado a uma divisão da sociedade em polos, que representam posições diferentes sobre um determinado tema. Porém, essa palavra tem sido usada de modo negativo, uma vez que passou a se referir a disputa entre dois grupos que se fecham em suas convicções e não estão dispostos ao diálogo.
Neste texto, vamos explorar esse sentido para entender qual a sua origem e suas consequências para a democracia.
De onde surge a polarização?
Polarização política pode ser estimulada por líderes políticos.
Apesar de ser um fenômeno muito falado hoje em dia, o melhor modo para começarmos a entender a polarização é olhar para trás.
Como qualquer outro animal, o corpo do ser humano se modificou ao longo do tempo com um objetivo claro, apesar de inconsciente: adaptar-se às circunstâncias e ao ambiente para sobreviver o maior tempo possível. Uma das estratégias utilizadas era se juntar a outros indivíduos e formar grupos.
Para ser aceito em um grupo, era preciso se mostrar digno de confiança, o que por sua vez exigia lealdade. Ela era fundamental para que um agrupamento de indivíduos agisse de modo coordenado e organizado. A grande questão é que ela , quando levada a fundo, implica em abrir mão da própria individualidade para aceitar as normas, crenças e ideias do grupo.
Com isso, podemos dizer que nosso cérebro foi programado para encontrar uma turma, e se adaptar a ela. O grupo passa a fazer parte da identidade individual.
Dessa forma, existe um prazer em ser fiel ao grupo, enquanto mudar de ideia e se opor ao grupo com o qual nos identificamos é altamente desconfortável.
Mas fazia sentido: naquela época, era uma questão de vida ou morte. A sobrevivência dependia de ser leal a um grupo e de tratar adversários como inimigos mortais. Hoje em dia, essa estratégia pode trazer consequências negativas.
Por que a polarização é um problema na democracia?
Ao longo dos séculos, a humanidade se organizou de formas complexas e criou sistemas para organizar o poder. Uma das inovações foi a democracia.
Por meio da democracia, não seria necessário usar a força para chegar ao poder: a disputa não aconteceria por meio da violência, mas pela discussão de ideias e apresentação de propostas para melhorar a vida de todos. Quem convencesse mais cidadãos e conseguisse mais votos chegaria aos postos de comando.
Não é à toa que a democracia vai muito além do voto. Como apontam Steven Levitsky e Daniel Ziblatt no best-seller “Como as democracias morrem”, ela requer respeito a regras comuns, reconhecimento da legitimidade dos adversários (ou seja, tratá-los como competidores legítimos dentro de uma disputa igualitária), tolerância e diálogo.
O excesso de polarização compromete todos esses quesitos. Em uma sociedade concentrada em dois lados radicalizados, adversários são vistos como inimigos, o diálogo não é incentivado – é até condenado – e transgredir as regras parece justificável.
Quem procura se manter fora desses dois grupos, apresentando outras visões e ideias, ou mesmo quem defende que ambos os lados têm suas falhas e virtudes, é tratado como “isentão”. As alternativas que fogem às duas apresentadas acabam sendo invalidadas.
Das redes sociais às guerras culturais
O ambiente criado nas últimas décadas favorece a tendência de polarização. É possível reunir alguns fatores para explicar o crescimento da polarização no mundo.
Redes sociais
O primeiro fator que podemos citar são as redes sociais. Algoritmos fazem parte do ecossistema digital e são eles que determinam que conteúdos chegam em cada uma das pessoas. Os assuntos e conteúdos que aparecem são aqueles que estão de acordo com os posicionamentos e visão de mundo de cada usuário..
O problema é que esse processo resulta na criação de bolhas. Cada indivíduo acaba tendo um contato majoritário com opiniões, notícias, artigos, vídeos e imagens que reforçam suas crenças. Pontos de vista diferentes, por outro lado, têm chance mínima de furar as bolhas.
O resultado: cada pessoa consolida e reforça as ideias que já tem e passa a ter mais certeza de que está certa em seus julgamentos. As visões discordantes se tornam cada vez mais estranhas, absurdas e, no ponto máximo, inaceitáveis.
Para saber mais: Parte 2 clique aqui.
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