Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e diretor da CIA FM.
O grande desafio em ano eleitoral é buscar entender as variáveis que interfiram na definição do voto e, estejam certos, a leitura inclui muitos capítulos diferentes entre si. Lógico, a diferença fundamental é que temos duas eleições e apenas uma delas é majoritária.
Mesmo isolando a eleição majoritária, a presença de prefeito candidato a reeleição altera o roteiro da decisão de voto. Com reeleição, a disputa é plebiscitária porque, prioritariamente, o eleitor avalia a atual a administração e pode, apenas por conta deste fator, definir sua escolha. De maneira bem genérica, avaliação da administração positiva para mais de 50% dos eleitores, indica reeleição e se estiver abaixo de 35%, apenas a divisão intensa de votos pode impedir a vitória da oposição.
Deixando de lado a matemática, a definição do voto atende por inúmeros fatores que, quase sempre, atendem a mesma ordem de prioridade. Saúde, emprego, educação e segurança são as preocupações do cidadão, com ordem estabelecida pelas necessidades pessoais, cujo julgamento define a preferência eleitoral.
Observe que dentre os fatores, nenhum está diretamente subordinado ao gabinete do prefeito. Segurança é muito mais uma responsabilidade do estado e saúde e educação tem uma boa interface entre os diferentes níveis, todavia, cada uma destas áreas se soma para gerar um conceito acerca da administração.
Nenhuma área oferece um parâmetro cristalino que permita estabelecer êxito ou fracasso da administração, logo a leitura é muito mais focada em percepção e experiências pessoais, por isso, em especial em centros médios ou grandes, o marketing assume um papel primordial por permitir bater a fotografia mais adequada para gerar emoção e conceito favorável.
Ainda que as redes sociais abram o debate para o cidadão comum, as pautas ainda são definidas metodicamente pela estratégia das equipes de marketing que promovem recortes adequados para cada demanda e escondem os candidatos que conseguem passar a campanha inteira sem serem confrontados com questões mais melindrosas.
Claro que os debates podem sanar estas limitações, melhor ainda se forem sabatinados individualmente por cada setor da sociedade, capazes de impor pautas e prioridades, exigindo comprometimento dos postulantes, mas isto é raro pelo medo das pessoas de envolvimento, algo inexplicável.
A imposição de inúmeras regras engessa os eventos nos meios eletrônicos, além da submissão ao comando das campanhas porque virou regra esconder o favorito para não o expor a possibilidade de erro, logo fica ainda mais evidenciado a necessidade da sociedade civil de participar do processo, como forma única de subir o nível da disputa e possibilitar uma escolha mais justa.
Mas tem também a eleição proporcional onde o processo de definição do voto é ainda mais precário. A proximidade é ainda o grande fator de definição pouco importando se o escolhido está apto para a função, se for amigo, parente, colega de trabalho leva o voto porque, na verdade, o eleitor raramente acompanha o desempenho da função e desde que atendido em suas pequenas demandas, entrega o voto cordialmente.
Bem isso, amizade e assistencialismo respondem por mais de 80% dos votos para vereador, resultando em câmaras sem personalidade porque os eleitos sabem que atender a população é a prioridade e, para isto, renunciam à função fiscal e se submetem aos desejos do prefeito, sem nenhuma contestação.
A função legislativa se concentra em indicações e requerimentos, raramente exercendo a função fiscal ou apresentando projetos realmente relevantes. Fogem de CPIs como o diabo da cruz porque pode comprometer a boa “relação” com o prefeito e a máquina pública. Claro que a intermediação de vereadores pode ajudar, mas muitas vezes resvala para um indevido tráfico de influência.
Repito como um mantra que eleições proporcionais são muito relevantes porque produzem o necessário equilíbrio no exercício do poder. Quando o prefeito é bom, fica ainda melhor com ajuda dos vereadores, mas se é ruim, é exatamente a câmara que pode proteger a comunidade do personalismo ou das más intenções do prefeito.
É muito fácil passar quatro anos apontando o dedo e criticando políticos, se esquecendo do óbvio; eles só têm mandatos se votados por nós, na lógica eleitoral mais elementar, portanto para ficar melhor, depende muito mais da nossa ação, principalmente no momento eleitoral.
Passamos o tempo todo reclamando dos políticos, mas eles só têm mandato se conferidos por nós, logo está na hora de assumirmos nossas responsabilidades e seguirmos critérios rígidos para definição de voto.
Se for amigo, melhor ainda, mas vereador bom será sempre aquele que tem formação adequada e personalidade suficiente para não ser apenas mais uma marionete com direito a voto na Câmara.
Pense nisto para não desperdiçar seu voto ....
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