Recentemente, fizemos um passeio de escuna pela Baía de Santos. Navegamos pelo maior porto da América Latina e vimos barcos de pesca, imensos transatlânticos e navios de carga de vários países. Avistamos paisagens naturais inesquecíveis, com o pano de fundo formado por centenas de edifícios, entre eles vários patrimônios históricos e os famosos prédios tortos de Santos (outra hora explico isso).
Sempre que viajo sou atravessada por muitas reflexões sobre como cada espaço é vivido e percebido. E sei que nossa subjetividade pode nos levar a apreendê-lo de forma diferente de outros. Gosto, então, de estabelecer algum vínculo com quem percebe de maneira diversa de mim o espaço compartilhado.
Nesse passeio, conhecemos e conversamos com um senhor, aposentado da marinha, que trabalha na escuna como “moço de convés” para complementar sua renda. Para ele, aquele barco é um lugar familiar e cheio de memórias. Já para nós, os turistas, a escuna é um não-lugar, com o qual estabelecemos uma relação de consumo. O marinheiro era um nativo na escuna, nós éramos passantes.
Com certeza, há mais não-lugares do que lugares. Enquanto nossa casa, bairro, cidade e o colégio em que estudamos podem ser para nós lugares - pois podemos desenvolver afeto por eles - os não-lugares são o oposto do trabalho, do lar e do familiar.
A variedade de não-lugares é enorme: metrôs, ônibus, aeroportos, portos, banheiros públicos, hoteis, rodoviárias, supermercados, hospitais, shoppings, parques, campos de refugiados, as redes sociais…
São espaços multifuncionais, intercambiáveis, onde as pessoas passam de forma efêmera e têm um contato limitado com os outros. São não-lugares porque neles nos situamos transitoriamente e suspendemos nosso tradicional sentido de pertencimento. Passamos por eles e eles passam por nós. O aeroporto talvez seja o espaço mais perceptível de não-lugar. É nele que o indivíduo pode se situar, sem estar em lugar nenhum.
Procuro nas minhas viagens transformar os não-lugares em lugares, recheando-os de significados, símbolos e histórias. Almejo sempre ir ao encontro das pessoas, seja no espaço privado do lar ou nos espaços públicos. Por isso, estabelecemos a conversa com o velho “moço de convés” que compartilhou conosco algumas memórias.
Foi muito legal, também, conhecer o Porto de Santos, outro não-lugar. O velho marinheiro também nos abasteceu de informações sobre os 16 km de seu cais do Porto, onde podem navegar embarcações com até 340 metros de comprimento. E ainda nos contou “causos” sobre os navios e suas tripulações.
Valeu demais!
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