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Foto do escritorAndré Marsiglia

Os dois Brasis: direita e esquerda são inconciliáveis

Sempre houve algo que nos ligasse mais do que nos separasse. Mas teremos superado o mito dos dois brasis?


É antiga em nosso país a mítica dos dois Brasis. Uma espécie de antagonismo que separa em pedaços o que somos, como se tivéssemos nos constituído a partir de fusões pouco concretas ou de concretos pouco fundidos. Euclides da Cunha, em sua excelente obra “Os Sertões” - que todos conhecem, mas que poucos leram - apresenta o tema a partir da separação entre um Brasil litorâneo e outro sertanejo. Ariano Suassuna retoma a ideia de um Brasil elitista e outro popular.  

Foto: André Marsiglia

Apesar disso, não foram tantos os que defenderam a separação destes dois, três ou muitos brasis. Mesmo durante a passagem de períodos históricos conturbados, sempre houve algo que nos ligasse mais do que nos separasse, de forma diversa de países que se afundaram por vezes e tempos em guerras civis.  


Mas teremos superado o mito dos dois brasis? Tenho dúvidas. Foi bastante alardeada a diferença de cobertura do evento de virada do ano entre as emissoras Globo e SBT. Enquanto esta transmitiu um culto evangélico dentro de um estádio de futebol em São Paulo, aquela transmitiu um show com performances sexualizadas da cantora Anitta.  


A repercussão deu conta de expor que nossos novos Brasis se dividem entre conservadores, religiosos e identificados com a direita e progressistas, identitários e alinhados com a esquerda. Parece insuperável a diferença entre esses grupos, parece cada vez mais difícil superar as divergências políticas no Brasil.  


A esquerda nunca teve de verdade uma direita forte como oposição. Até pouco tempo, chamávamos de direita o PSDB de Geraldo Alckimin, hoje, vice de Lula. A direita era uma esquerda “soft”, um mais do mesmo com nuances. Nada que criasse uma polarização real, como hoje vista.  


As redes sociais e suas bolhas, o bolsonarismo sem papas na língua, um cansaço dos jovens em relação ao discurso socialista, decadente desde o final dos anos 80, com o fim da União Soviética, e a diferença de pensamento em relação a temas vitais como liberdade de expressão, censura e liberalismo econômico, fez grassar uma direita capaz de representar uma real divergência política dos partidos e partidários da esquerda. Não tem como pensar em Bolsonaro como vice de Lula ou Lula como vice de Bolsonaro, por exemplo. 


Resta saber se dessa polarização inconciliável haverá respeito pela diferença entre os novos dois Brasis, permitindo que SBT e Globo transmitam o que quiserem, que o público veja o que bem entenda, ou se, aos poucos, nos tornaremos um país que cairá a longo prazo em alguma espécie de guerra civil, ainda que seja uma guerra fria, de ameaças quentes. Talvez essa seja a probabilidade maior.       

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