Sequestrado na semana passada na Venezuela após participar de uma vigília contra o regime de Nicolás Maduro, Williams Dávila Barrios, ex-deputado e ex-governador do estado de Mérida, foi hospitalizado em estado grave, afirmou seu filho nesta quarta-feira (14).
Segundo o filho de Barrios, o político está sob custódia da Sebin (Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional) no Hospital das Clínicas em Caracas. Ele apresenta um quadro de prostatite aguda (infecção na próstata) e risco de sepse (quando a infecção se alastra pela corrente sanguínea e contamina todo o corpo).
Barrios havia desaparecido no último dia 8. Segundo o seu partido, Ação Democrática, que integra a coalizão da oposição no país, um grupo de pessoas armadas e sem uniforme ou identificação policial ou militar o levou nas proximidades da praça de Los Palos Grandes, em Caracas.
Aos 73 anos, Barrios tinha passado por uma cirurgia no coração havia pouco tempo. A família não foi autorizada a visitá-lo no hospital.
Barrios é um dos quase 1.400 pessoas presas pelo regime por motivações políticas entre o dia seguinte à votação, 29 de julho, e esta terça-feira (13), nas contas da ONG Foro Penal. Os números fornecidos pelo regime são ainda maiores, de 2.200 prisões.
Entre os detidos ainda estão nomes como o da advogada María Oropeza, que transmitiu sua prisão ao vivo em seu perfil numa rede social no último dia 6. No vídeo, é possível ver agentes quebrando o portão e entrando no local onde ela estava.
A ditadura escalou a repressão contra a dissidência desde que anunciou a vitória de Maduro contra o candidato da oposição, Edmundo González, nas eleições presidenciais, no final do mês passado.
O resultado tem sido questionado dentro e fora da Venezuela, e a administração chavista se recusa a divulgar os documentos que seriam capazes de comprovar a lisura do processo, as atas eleitorais.
A justificativa inicial do regime para não levar os documentos a público era um suposto ataque hacker aos sistemas de informática do órgão eleitoral venezuelano, o CNE (Conselho Nacional Eleitoral). Mas mesmo depois da confirmação do resultado, a entidade não os divulgou.
Enquanto isso, a chapa opositora diz possuir 80% dessas atas (24.532 do total de 30.026), e liberou seu acesso a qualquer pessoa em uma plataforma online. Caracas afirma que as cópias são falsas, mas há organizações que atestam a veracidade delas.
Também nesta quarta, outro membro da oposição, Enrique Márquez, afirmou que pedirá que os diretores do órgão eleitoral da Venezuela, o CNE (Conselho Nacional Eleitoral), sejam investigados por terem denunciado o ataque hacker ao mesmo tempo em que proclamaram a reeleição de Maduro.
"Deveriam ter que dar as caras e explicar o suposto hackeamento", disse Márquez, que dirigiu o CNE de 2021 a 2023 e era considerado uma alternativa a González nas urnas se o nome do ex-diplomata fosse recusado pelo regime -o próprio González só concorreu porque a líder da oposição, María Corina Machado, foi impedida de disputar eleições por 15 anos.
Márquez também pediu mais transparência no atual processo de recontagem de votos. Maduro ordenou que o TSJ (Tribunal Supremo de Justiça) venezuelano, fosse o responsável por essa checagem, mas o colegiado é alinhado ao chavismo.
"Queremos 100% das urnas eleitorais [...] Que o CNE as abra, claro, com testemunhas nacionais e internacionais", declarou Márquez, acrescentando: "Ou será que as caixas também foram atacadas?".
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