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Foto do escritorGedeon Lidório

O trabalho dignifica, mas o excesso escraviza: uma perspectiva bíblica a respeito da discussão sobre a escala 6x1, trabalho e bem-estar – parte 3

Em um mundo que idolatra a produtividade e glorifica a ocupação, o princípio bíblico do descanso desafia os valores predominantes. Há um impacto positivo do descanso regular na saúde física, mental e emocional, mas o que a Bíblia ensina vai além. Ela nos chama a uma pausa que reconecta o ser humano com Deus, renova sua identidade e reafirma sua confiança na provisão divina.



O descanso, então, não é uma interrupção no trabalho, mas uma celebração da bondade de Deus e da liberdade que Ele nos oferece. É um lembrete de que, enquanto descansamos, o mundo continua sob os cuidados soberanos do Criador.

 

O excesso de trabalho não afeta apenas o indivíduo em sua saúde física e mental, mas também repercute de forma negativa nas relações familiares e sociais. O impacto é profundo, atingindo a qualidade de vida e comprometendo o bem-estar integral. A Bíblia reconhece esses perigos e oferece orientações claras sobre a importância de um equilíbrio saudável entre trabalho, descanso e relacionamento. Em Salmos 127:2, lemos:

 

"Inútil vos será levantar de madrugada, repousar tarde, comer o pão de dores, pois aos seus amados ele o dá enquanto dormem."

 

A busca ansiosa pelo sustento, caracterizada pelo trabalho incessante, é contraproducente. A imagem de alguém que "levanta de madrugada e repousa tarde" descreve uma vida dominada pelo esforço excessivo e pela falta de confiança em Deus. A frase "aos seus amados ele o dá enquanto dormem" lembra que Deus é o provedor último, e não a intensidade do trabalho humano.

 

O teólogo Charles Spurgeon, ao comentar este salmo, afirma que o descanso é tanto um dom quanto uma demonstração de confiança em Deus. Trabalhar além dos limites designados é como negar a soberania divina, como se o sustento dependesse exclusivamente de nossos esforços.

 

Esse excesso de trabalho tem consequências diretas também nas relações familiares. Maridos e esposas que passam longas horas afastados um do outro frequentemente experimentam distanciamento emocional. Filhos podem crescer sem a presença ativa de seus pais, o que afeta seu desenvolvimento emocional e espiritual. Efésios 6:4 aconselha os pais:

 

"E vós, pais, não provoqueis vossos filhos à ira, mas criai-os na disciplina e na instrução do Senhor."

 

Criação de filhos exige tempo, dedicação e presença, elementos que são sacrificados quando o trabalho assume prioridade absoluta.

 

O trabalho excessivo também mina a saúde mental, levando ao esgotamento emocional e à síndrome de burnout, hoje reconhecida como uma condição de saúde global. Jesus aborda esse tema em Mateus 6:25-27, encorajando seus ouvintes a não se preocuparem excessivamente com o sustento diário:

 

"Por isso vos digo: não andeis ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que as roupas?"

 

Jesus está afirmando que, ao confiar em Deus, somos libertos da ansiedade que frequentemente alimenta a busca descontrolada por trabalho e sucesso. Essa confiança reduz o estresse e nos ajuda a viver de forma mais plena.

 

Ele mesmo, Jesus, é o exemplo supremo de equilíbrio. Durante seu ministério, Ele manteve uma rotina que incluía momentos de intensa atividade e pausas intencionais para descansar e estar com seus discípulos. Em Marcos 6:31, Ele diz:

 

"Vinde, retiremo-nos para um lugar deserto e descansemos um pouco."

 

Ele demonstrou que os relacionamentos eram centrais para sua missão. Ele valorizava estar com as pessoas, ouvir suas histórias e compartilhar momentos significativos. Esse modelo nos lembra que o trabalho não deve substituir o tempo com as pessoas de nosso convívio.

 

O ministério de Jesus foi marcado por uma agenda exigente. Ele constantemente atendia às multidões, respondia às necessidades dos discípulos e enfrentava os líderes religiosos. Seu trabalho era incansável, mas jamais caótico. Mesmo diante de grandes demandas, Jesus demonstrou que o trabalho deve ser realizado com propósito e compaixão, mas sem negligenciar o descanso.

 

Em várias ocasiões, vemos Jesus interromper suas atividades para priorizar o descanso e a oração. Por exemplo, em Lucas 5:16, está registrado:

 

"Mas Jesus costumava retirar-se para lugares solitários e orar."

 

A prática de Jesus de retirar-se para descansar e orar demonstra que o descanso não é um luxo ou uma opção secundária, mas uma necessidade. Ele reconhecia que a saúde emocional e espiritual dependia desses períodos de pausa. Em João 4:6, por exemplo, Jesus aparece cansado junto ao poço de Jacó, indicando que Ele, em sua humanidade, experimentava a fadiga e respeitava os limites físicos. Essa realidade valida a necessidade humana de descanso.

 

O teólogo Henri Nouwen observa que o ministério de Jesus não era motivado por ativismo, mas por um senso profundo de missão e dependência do Pai. Esse foco permitiu que Ele realizasse um trabalho significativo sem se perder na exaustão ou no desespero.

 

Algumas ações práticas podem ser bem elaboradas para o nosso contexto. Veremos isso na parte seguinte deste artigo.

 

A gente se encontra lá!

 

Obras para você consultar sobre o tema:

 

- Lendo os Salmos com Charles H. Spurgeon – clique aqui

- Como Integrar fé e Trabalho – clique aqui

- Dogmática Eclesiástica – clique aqui

- Caminho do coração – clique aqui

  

Pr. Gedeon Lidório

Instagram: @gedeonlidorio

 

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