(um pequeno conto livre e pretensamente baseado em Edgar Allan Poe)
Por: Célio Juvenal Costa, professor da UEM
- O que estou fazendo aqui? Onde estou indo? Por que estou dirigindo?
Ele demorou um pouco para saber onde estava, mas acabou por se localizar. Estava em uma rua que conhecia bem. Mas não conseguiu se lembrar como foi parar ali. Ficou num misto de espanto e desespero, pois, realmente, não se lembrava de ter saído de casa, de ter pego o carro e, pior, nem fazia ideia para onde estava indo e o que iria fazer. Pelo menos, sabia onde estava e isso, de certa forma, o acalmou.
- Já ouvi, ou li em algum lugar, que isso pode acontecer às pessoas, pensava ele. Algumas pessoas, continuava pensando, têm um branco e esquecem a razão pela qual estavam em algum lugar. Pelo que me lembro, isso é passageiro. Vou tentar me manter calmo.
Reconheceu o lugar onde estava e se lembrou que fazia aquele caminho sempre que ia encontrar amigos num bar que ficava naquela região.
- É isso, concluiu. Vai ver que eu estava indo encontrar meus amigos no bar de sempre. Tem poucos carros na rua e hoje deve ser sábado, justamente o dia em que nos encontramos. Vou para lá!
No caminho para o bar se passava em frente ao cemitério e em frente do cemitério ficava uma dessas capelas mortuárias. Ao passar por ali, começou a perceber que havia grande movimentação na capela e, para espanto dele, as pessoas que ele viu eram todas conhecidas: amigos, parentes, colegas de trabalho, inclusive parentes distantes que ele há tempos não via.
- Meu Deus, será que morreu alguém conhecido?? É isso!! Alguém muito próximo a mim morreu e isto me causou um trauma, um tipo de bloqueio da realidade, por isso não consigo lembrar nada e, por isso, também, eu estava perto do cemitério.
Estacionou o carro e foi rápido para a capela para saber quem tão próximo estava sendo velado. Estava tão concentrado que nem deu bola para as pessoas que também lá estavam. Chegando ao caixão descobriu que, na verdade, era ele mesmo que estava sendo velado...
-O que? Eu morri? Eu estou morto? Como assim? Quando? Como isto aconteceu?
Em meio a tantas perguntas sem respostas, passou a notar as pessoas que lá estavam: amigos, parentes próximos, parentes distantes, colegas de trabalho, colegas do futebol, todos estavam lá para o seu velório. Foi então que percebeu que ninguém o notara ali, ninguém... somente ele sabia que estava vendo seu próprio velório.
- É um sonho. Só pode ser um daqueles sonhos tão realistas que acordamos, depois, perturbados. Já tivera vários desses sonhos e esse, com certeza (!) seria mais um... É só esperar, dizia consigo, pois quando lembrou de alguns sonhos perturbadores lembrou, também, que no pico da angústia, o sonho acabava. Mas, que estranho, dialogava consigo mesmo, esse sonho já era para ter terminado.
E o sonho não acabou. Não conseguiu acordar. Sonho ou realidade?? Morto, de fato, ou vivo, sonhando? O fato é que não acordou...
Meu Instagram: @costajuvenalcelio
Obs: Esta é uma versão revisada e atualizada de um texto originalmente publicado no blog: devaneioseoutrasreflexões.blogspot.com.
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