Até aqui vimos que a violência contra a mulher precisa ser compreendida a partir dos pensamentos e intenções do coração corrompidos pelo pecado. Passa pela preparação para o mal até chegar à sua execução (do ato em si) e sua consumação (da concretização da violência e suas consequências).
Tudo isso junto já é muito ruim, porém, existem alguns atos subsequentes que agravam as consequências da violência.
Exaurimento (Exhaustio) - atos subsequentes que agravam as consequências do crime (pecado)
Esses atos podem incluir tentativas de ocultar o crime, manipulação de provas, intimidação de testemunhas ou qualquer outra ação que aumente o sofrimento da vítima ou dificulte a obtenção de justiça. No contexto da violência contra a mulher, o exaurimento pode envolver a perpetuação do abuso psicológico, a intimidação contínua ou o isolamento social da vítima, quando a vítima não sucumbe à morte na execução da violência.
Em Gênesis 4.8-10 há o relato do assassinato de Abel. Após assassinar seu irmão Abel, Caim tenta esconder seu crime mentindo a Deus. Sua tentativa de encobrir o homicídio agrava ainda mais sua culpa e as consequências de seu ato.
Outro texto bíblico que nos mostra o exaurimento das ações pecaminosas é o de Herodes.
O rei Herodes, temendo a profecia do nascimento de Jesus como "rei dos judeus", ordena a matança de todos os meninos em Belém e seus arredores, com idade de até dois anos. Esse ato subsequente ao seu medo e ciúme agrava significativamente as consequências de seu pecado inicial.
"Então Herodes, vendo que tinha sido iludido pelos magos, irritou-se muito, e mandou matar todos os meninos que havia em Belém e em todos os seus contornos, de dois anos para baixo, conforme o tempo que diligentemente inquirira dos magos" (Mateus 2:16).
Em 2 Samuel lemos sobre Absalão. Ele não apenas conspira contra seu pai, o rei Davi, mas também continua com uma série de atos subsequentes de traição, incluindo tomar o trono de Jerusalém e dormir com as concubinas de seu pai, exacerbando a rebelião e a desordem no reino.
Absalão trama com mensageiros em todas as tribos de Israel para anunciar que ele é rei em Hebrom, desencadeando uma revolta contra Davi (2 Samuel 15.10-14).
"Tenha relações (sexuais) com as concubinas do seu pai, aquelas que ele deixou cuidando do palácio. Assim todos em Israel ficarão sabendo que você se tornou inimigo do seu pai, e os seus seguidores ficarão bem animados. Então armaram uma barraca para Absalão no terraço do palácio, e ali, na frente de todos, ele teve relações (sexuais) com as concubinas do seu pai." (2 Samuel 16:21-22).
O agravamento do pecado por meio de atos subsequentes não apenas aumenta a culpa do perpetrador, mas também intensifica o impacto sobre a vítima e a sociedade. Essas ações revelam uma obstinação no mal e uma rejeição contínua dos valores divinos de justiça, amor e misericórdia.
A justiça de Deus não ignora as ações subsequentes que agravam o pecado. A retribuição divina é justa e proporcional, levando em consideração a extensão total da transgressão.
Uma coisa que sempre chama minha atenção é que a Bíblia não esconde o pecado do povo de Deus – ele (Deus) através do Espírito Santo, inspirou pessoas que ao longo dos tempos deixaram registrado passo a passo do mal, do pecado, das consequências e dos agravamentos que o pecado (estrutura maléfica) e os pecados (atos pecaminosos individuais de cada ser humano) têm em nossa vida, na vida de quem nos cerca e nas estruturas que vivemos, sejam elas físicas, naturais ou sociais.
A violência contra a mulher está tão enraizada em nossa cultura que, muitas vezes, passa despercebida. Não estamos nos referindo apenas à violência física ou psicológica diretamente infligida por um homem sobre uma mulher, mas a uma forma de violência simbólica que se manifesta de diversas maneiras sutis e insidiosas. Um exemplo claro dessa violência simbólica é a pressão estética constante que as mulheres enfrentam na sociedade atual. Elas são continuamente pressionadas a manter uma aparência sempre arrumada e “impecável” para atender às expectativas sociais e causar uma boa impressão. Essa pressão inclui a exigência de manter um corpo magro, aparecer sempre maquiada em público e submeter-se regularmente a práticas como a depilação. Essas imposições refletem uma forma de controle e opressão que, embora menos visível, é igualmente prejudicial e desumanizante, reforçando padrões e estereótipos que limitam a liberdade e a autoexpressão das mulheres.
Talvez você esteja se perguntando: "mas a violência contra mulheres também pode ser praticada por mulheres" - lógico que sim, mas esse não é o ponto desse artigo pois o grande tema de violência contra a mulher no mundo inteiro, em todas as estatísticas é fruto da relação de domínio e poder que o homem exerce sobre a mulher. Há muitos outros tipos de violência que não tratamos aqui por fugir do escopo do proposto assunto.
Precisamos agir todos os dias em relação a essa violência contra mulheres. É a violência cotidiana — aquela que faz com que as mulheres tenham sempre medo de ser assediadas, violadas, perseguidas, censuradas e repreendidas socialmente — que faz com que a cultura permaneça violenta contra a mulher e que se permite engendrar o mal, fazendo da violência o caminho naturalizado do exercício do poder, do controle e do abuso.
Deus pode (e quer!) nos transformar em humanos melhores, em discípulos melhores, em pais melhores, em maridos melhores. Ele providenciou o meio – Jesus morreu e com o seu sangue ele pagou todos os preços por nosso pecado (e nossos pecados!). Ele nos chama. Ele convida a mudarmos de vida através do Espírito Santo. Ele resolveu habitar conosco e em nós. O Espírito Santo é quem tem a função de santificar (tornar uma vida conforme os propósitos de Deus) e ele está disponível a todo aquele que crê.
Paulo, resumindo, diz:
"Portanto, irmãos, rogo-lhes pelas misericórdias de Deus que se ofereçam em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus; este é o culto racional de vocês. Não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus" (Romanos 12.1-2).
Que desejemos ardentemente essa transformação que somente Deus pode efetuar em nós através do sangue de Cristo e da ação do Espírito Santo.
Recomendo fortemente a leitura de “Uma igreja chamada TOV” (clique aqui)
Pr. Gedeon Lidório
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