Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e diretor da CIA FM.
Parecia a receita perfeita; governador e prefeito bem avaliados escolhem em consenso um bom candidato e seus principais adversários sofrem com problemas e contradições. Mas eleições, em tempos de redes sociais, se tornaram ainda mais imprevisíveis. Resultado; um segundo turno inesperado em Curitiba; Eduardo Pimentel x Cristina Graeml.
Ficaram pelo caminho nomes pesados da política curitibana, Ney Leprevost, sempre campeão de votos; Luciano Ducci, ex-prefeito e deputado federal bem votado, Roberto Requião com currículo repleto de mandatos, além de dois nomes muito mais prováveis como surpresas; Maria Vitória e Luizão Goulart. Havia ainda uma lista de micro candidaturas que, no início, ninguém sabia sequer os nomes.
Luciano Ducci (PSB) foi o nome escolhido pela esquerda, ciente que qualquer candidato com o número treze sofreria com altíssima rejeição e, com alguma reação, o PT se alinhou à Ducci com a expectativa de atingir o patamar da esquerda em Curitiba, algo em torno de 30%, suficientes para garantir passagem para o segundo turno. Todavia, urnas abertas e Ducci não atingiu nem 20%.
Ney Leprevost, com Rosângela Moro, esposa de Sergio e importada de São Paulo, reforçando a chapa, prometia uma disputa acirrada por uma das vagas do segundo turno. Nenhum analista previa algo menor que 20%, mas alijado da polaridade da ponta, Leprevost viu seus votos enxugarem para pouco mais e 6%, provando mais uma vez que o eleitor tem uma grande tendência de optar pelo voto útil.
Roberto Requião, que já foi tudo no Estado e na Capital, deveria ter se poupado. Todos precisam entender o ciclo político, com vida útil definida pelo eleitor e Requião resolveu brigar contra os fatos. Foi um grande líder, mas hoje é apenas um dinossauro político, com bela história que deveria preservar e usar sua brilhante oratória em apoio a novos nomes, como seu filho ou seu sobrinho, com muito mais intimidade com a política da era digital. O tempo passa e apresenta a fatura, se tornando imprescindível entender o fim de um ciclo.
Dois outros nomes tinham mais condições de surpreender. A sempre simpática Maria Vitória, a bordo de um partido forte e com um marketing agressivo perde nas urnas, mas reforça seu recall para novas disputas e Luizão Goulart, derrotado em 2022, ainda que bem votado, que comprou o bilhete não contemplado, mas também reforça seu nome na cena política.
Dentre os micros candidatos, a maioria da ponta esquerda, apareceu Cristina Graeml, com um discurso firme, pauta conservadora e um ótimo domínio da mídia, fruto as suas experiências profissionais na Gazeta e RPC. Partido nanico, sem verba, sem apoios, sem palanque eletrônico tinha tudo para ser uma candidatura que comemoraria até 2% nas urnas, mas em tempos de redes sociais, respostas tradicionais são lançadas ao vento, substituídas pela possibilidade de surpresas imprevisíveis que no futuro podem virar rotina. Repetindo o fenômeno Marçal, com a mesma eficiência e sem a irresponsabilidade, quase delinquência do paulistano, Cristina caiu nas graças do eleitor curitibano, talvez até alavancada pelas falhas e excessos da campanha de Pimentel e, desta forma, independente do resultado do segundo turno, aponta para um novo desenho político da sucessão paranaense.
Curitiba teve uma eleição com múltiplas facetas, muito além da possibilidade de polarização de pleitos anteriores. O grupo da situação, liderada com eficiência pelo governador Ratinho, agora estará acossado pela esquerda, com nome petista ou, mais provavelmente aliado, e um nome à direita, Sergio Moro, seguro no Senado até 2030, com liberdade para tentar o Iguaçu. Com quatro posições nas majoritárias para escalar, com a disputa em aberto, aumenta o valor do passe de cada liderança do Estado, tornando a missão do governo muito espinhosa para compor o time porque, qualquer preterido, pode mudar de camisa e jogar como titular no adversário.
Tome o exemplo de Maringá, onde apenas Enio Verri, entrando ou não em campo, vai jogar no time da esquerda, todavia, Ricardo Barros, cacifado pelas urnas locais, tem muito mais força para negociar uma vaga nas eleições para o Senado e até Ulisses Maia, com péssimo resultado nas eleições, tem força e pode abrir mão de uma vaga secundária no secretariado de Ratinho e esperar por uma leitura mais adequada em uma das outras duas equipes. O problema é que esta situação se repete em várias outras cidades, quebrando o cenário de comando absoluto do governador na sucessão.
Ainda que Ratinho seja um nome de peso na disputa por Brasília, e tenha eleição muito confortável para o Senado, se esta for a opção, assim como Cristina prova em Curitiba, nem mesmo todo o elenco em um só palanque assegura vitória em 2026 e, como todos devem imaginar, Sergio Moro e o palanque de Lula na Paraná também tem seu poder de sedução.
O elenco múltiplo, com ex-prefeitos como Paranhos, de Cascavel, Belinati, de Londrina e até mesmo derrotados como Ulisses em Maringá, são peças que se somam aos secretários Ricardo Barros, Guto Silva, Sandro Alex, ao vice Piana, aos deputados Alexandre Khoury, Beto Preto, além dos petistas Gleisi, Zeca e Enio, são muitos nomes para desfilar nas majoritárias de 2026. O treinador Ratinho, mesmo com excepcional vitória nas urnas, quase metade dos prefeitos pelos seu PSD e totalizando mais de 80% de prefeitos aliados, perdeu a possibilidade de escalar à vontade e terá que conversar muito para evitar que outras cristinas entornem o caldo eleitoral.
Lógico que o resultado de Curitiba será significativo, mas o estrago já está feito. A sucessão estadual está em aberto, todo mundo valorizado e Ratinho olhando para cima, com seu justo sonho presidencial, pode tornar a eleição muito mais complexa do que prevista anteriormente.
Se antes de 2024, o próximo governador dependia basicamente de um único voto qualificado, do atual governador, agora a disputa está em aberto, principalmente porque o Paraná tem um Marçal de saias que deu certo; Cristina Graeml.
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