Conta o mito grego que Teseu, príncipe de Atenas, se colocou como voluntário para ir até a ilha de Creta, onde jovens atenienses eram entregues a um terrível ser, metade touro e metade homem, o Minotauro, que morava num imenso e intrincado labirinto, que os devoraria, compondo uma espécie de rito religioso. Ariadne, jovem princesa cretense, filha do rei Minos, se apaixonou por Teseu e lhe entregou uma espada e um novelo de fio para que, depois de matar o Minotauro, o herói pudesse achar a saída do labirinto, desenrolando o novelo para achar o caminho de volta. E, assim se deu, graças ao fio de Ariadne o herói Teseu conseguiu encontrar a saída depois de acabar com o monstro.
Pois bem, atualizando o simbolismo do mito, podemos indagar quantas vezes na vida nos achamos metaforicamente em um labirinto imenso no qual andamos, andamos, passamos pelos mesmos lugares, e não encontramos saída? E, quantas vezes nesse intricado labirinto não encontramos um igualmente metafórico monstro que nos parece terrível e que nos quer devorar, quer tomar conta de nosso corpo e de nossa alma? O Minotauro da lenda é touro da metade para cima e homem da metade para baixo, ou seja, no lugar da razão, do cérebro humano, está o irracional, pronto para devorar aquilo que para ele é incompreensível. Quantas vezes convivemos com labirintos e monstros e temos a sensação de não encontrar saída? E, nesses momentos, como desejamos algo que nos ajude, que nos auxilie a voltar a viver, como queremos, metaforicamente, um Fio de Ariadne para nós, simples mortais que de heróis, que de Teseu, temos tão pouco!!
Alguém sempre pode nos ajudar dando-nos um pouco de si, dos seus conselhos, dos seus ombros, dos seus ouvidos, mas penso que poucos são aqueles que nos podem fornecer o nosso Fio de Ariadne. Amigos; pessoas mais vividas e, portanto, com mais experiência de vida; terapeutas etc., podem ser aqueles que nos devolvem à razão e nos dão coragem para enfrentarmos nossos monstros irracionais e nossas confusões mais íntimas e anímicas. Mas eles não podem e nem devem entrar no nosso Labirinto e enfrentar, por nós, nosso Minotauro, pois se admitirmos isso, estaremos "terceirizando" a resolução dos nossos problemas e, a rigor, não os estaremos resolvendo no nosso íntimo. Certas lutas têm que ser travadas solitariamente, por nós mesmos, sem recorrer a "muletas". Nossas crises, nossos medos, nossas culpas têm que ser enfrentados por nós mesmos, mas, para isso, devemos contar, sempre, com Ariadnes que nos emprestam sua razão, seu senso e, especialmente, sua distância, necessários para nos ajudar a enxergar os contornos e a dimensão dos nossos problemas.
Ariadne deu o estratagema, deu o instrumento, deu o Fio... Mas, quem teve coragem de entrar no Labirinto, do qual ninguém antes havia escapado, quem teve coragem de enfrentar o monstro devorador de carne humana jovem, quem se manteve destemido e calmo suficiente para ir desenrolando o Fio para voltar ao caminho da saída foi Teseu... sem sua coragem não adiantaria o Fio... Temos amigos, terapeutas e outras pessoas para ajudar, mas somos nós que temos que enfrentar a nós mesmos, enfrentar nosso Labirinto e nosso Minotauro interior. Só assim, a sensação da vitória será plena... até, pelo menos, entrarmos em novas confusões e nos depararmos com novos monstros a serem enfrentados.
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Obs: Esta é uma versão revisada e atualizada de um texto originalmente publicado no blog: devaneioseoutrasreflexões.blogspot.com.
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