O dilema dos evangélicos imigrantes nos EUA: entre a fé no evangelho e o apoio às políticas de Trump
- Gedeon Lidório
- há 5 dias
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A comunidade evangélica brasileira nos Estados Unidos tem experimentado um crescimento significativo, tornando-se um espaço de acolhimento espiritual e social para milhares de imigrantes. No entanto, uma contradição se impõe: ao mesmo tempo em que essas igrejas servem como refúgio para muitos que buscam uma nova vida, parte de seus fiéis e lideranças apoiam políticas antimigratórias severas.

Esse apoio, frequentemente justificado por alinhamento com valores morais conservadores, coloca os evangélicos brasileiros nos EUA diante de um paradoxo: como conciliar a defesa de um governo que criminaliza imigrantes com a prática de um cristianismo que prega o amor ao próximo?
O apoio evangélico a Trump e as políticas antimigratórias
Desde sua primeira candidatura, Donald Trump contou com um forte apoio da comunidade evangélica nos EUA, incluindo brasileiros. A promessas de defesa da "família tradicional", combate ao aborto e às políticas de gênero conquistaram muitos líderes religiosos. Contudo, a mesma administração que se apresenta como defensora da moralidade cristã também impõe medidas migratórias extremamente rigorosas, atingindo de forma direta e indireta milhares de brasileiros indocumentados.
A retórica política que descreve imigrantes como "ameaças" reforça um discurso de medo e exclusão, frequentemente aceito dentro das igrejas. No entanto, esse apoio não leva em conta o impacto real dessas políticas sobre a própria comunidade evangélica imigrante, que se vê cada vez mais vulnerável a deportações e perseguições.
O ensino bíblico sobre o estrangeiro e o refugiado
A tradição cristã sempre incluiu a acolhida ao estrangeiro como um mandamento divino. A Bíblia é clara sobre a responsabilidade de cuidar dos imigrantes:
Levítico 19:34 — "O estrangeiro que reside entre vocês deverá ser tratado como natural da terra. Ame-o como a si mesmo, pois vocês foram estrangeiros no Egito."
Mateus 25:35 — "Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram."
Diante dessas passagens, como justificar o apoio a políticas que criminalizam e perseguem imigrantes? A fé evangélica deve estar alinhada às Escrituras ou aos interesses políticos temporais? Essa tensão entre moralidade bíblica e pragmatismo político revela uma crise de identidade na comunidade evangélica imigrante.
O risco do cristianismo nacionalista e da perda da empatia
O cristianismo nos Estados Unidos tem se tornado cada vez mais entrelaçado com o nacionalismo. Essa fusão de identidade religiosa e ideológica leva à marginalização de grupos vulneráveis, incluindo os próprios evangélicos indocumentados.
Outro fenômeno preocupante é a postura dos imigrantes que já conseguiram sua documentação e passam a defender medidas restritivas contra aqueles que ainda vivem na ilegalidade. Essa falta de empatia reflete uma mentalidade individualista que contradiz princípios fundamentais da fé cristã.
Como um imigrante que já enfrentou dificuldades pode esquecer sua própria história e defender a exclusão de outros?
Como essa visão afeta a imagem da igreja como um espaço de acolhimento e solidariedade?
A igreja deve ser um local de refúgio e esperança para todos, não apenas para aqueles que já alcançaram segurança jurídica e financeira.
Para onde caminha a comunidade evangélica imigrante?
O apoio irrestrito a políticas antimigratórias pode trazer consequências inesperadas para a própria comunidade evangélica brasileira nos EUA. A continuidade desse apoio pode gerar:
O afastamento dos imigrantes das igrejas, temerosos de serem expostos ou marginalizados.
Uma crise de identidade dentro das congregações, onde o compromisso com a fé entra em conflito com a lealdade política.
O enfraquecimento das redes de apoio, tornando os imigrantes ainda mais vulneráveis às políticas de deportação.
Para que a igreja mantenha sua relevância e coerência, é necessário que os líderes evangélicos questionem suas alianças políticas e priorizem os valores do Evangelho.
O paradoxo da comunidade evangélica brasileira nos EUA está claro: apoiar políticas antimigratórias significa, de certa forma, lutar contra si mesmo. O discurso de medo e exclusão promovido por certos grupos políticos não pode se sobrepor ao compromisso com o amor ao próximo ensinado por Cristo.
O desafio para os evangélicos brasileiros nos EUA é grande. Eles precisam decidir se sua fé será guiada por valores bíblicos autênticos ou por alianças políticas passageiras. O que está em jogo não é apenas uma questão de identidade política, mas a própria essência do cristianismo vivido por essa comunidade.
Se a igreja perder sua capacidade de acolher, quem ainda se sentirá parte dela?
Pr. Gedeon Lidório
Instagram: @gedeonlidorio
E-mail: gedeon@lidorio.com.br
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