Não Estou Fora do Jogo: Por Que Bolsonaro se Vê Como o Curinga do Jogo Político
- Nelson Guerra
- há 4 dias
- 3 min de leitura
Por professor Guerra, analista político
Na política como no pôquer, quando a mesa está ruim, até um par de valetes pode vencer. O bolsonarismo entendeu isso melhor que qualquer outro movimento.

A política brasileira hoje se assemelha a uma partida de pôquer de alto risco, onde os jogadores - esquerda e direita - blefam constantemente, mas ninguém parece ter uma mão realmente vencedora. Nesse cenário, Jair Bolsonaro surge como o curinga da mesa, a carta imprevisível que pode virar o jogo a qualquer momento. Enquanto isso, o chamado "presidencialismo de coalizão" - que deveria funcionar como as regras básicas do jogo - se transformou numa interminável sucessão de blefes e trocas de favores, deixando a população como mero espectador de um jogo onde a casa sempre ganha.
O BARALHO MARCADO DO PRESIDENCIALISMO DE COALIZÃO
O sistema político brasileiro funciona como um jogo onde as cartas estão viciadas. O presidencialismo de coalizão, que nos primeiros anos da democracia parecia um jogo limpo de buraco, degenerou-se em um pôquer sujo, onde cada partido tenta extrair o máximo de fichas (ministérios, cargos, emendas) em troca de apoio. O problema? O povo brasileiro é quem paga a conta final dessa mesa alta.
O governo Dilma foi como um jogador que apostou tudo em uma sequência de cartas ruins - deixou como herança 11 milhões de desempregados (a pior mão da nossa história recente) e uma economia quebrada. A Lava Jato revelou que, nos bastidores, muitos estavam marcando o baralho.
A DIREITA TRADICIONAL: UM JOGADOR SEM FICHAS
Enquanto isso, a direita tradicional parece aquela velha figura do cassino que já foi grande, mas hoje mal tem fichas para entrar no jogo. Desde 2018, quando Bolsonaro surgiu como um jogador agressivo de Texas Hold'em, a velha direita não conseguiu formar uma mão competitiva.
Os partidos do centrão são especialistas em jogar com qualquer um que estiver no poder, atuando como verdadeiros cambistas do jogo político. Mas sua estratégia de sempre apoiar o vencedor está perdendo eficácia quando a população começa a perceber as cartas marcadas.
POR QUE BOLSONARO AINDA É O CURINGA?
·A Regra do Menos Pior: Quando você tem duas mãos ruins, escolhe a menos pior. Muitos eleitores veem Bolsonaro como o "mal menor" comparado ao PT.
·Falta de Jogadores Novos: A oposição não apresenta nenhum novo "ás na manga" - Bolsonaro segue sendo a única carta forte da direita.
·O Blefe que Pode Virar Realidade: Mesmo com rejeição alta, seu núcleo duro de apoio (cerca de 30%) funciona como um full house - não é a melhor mão possível, mas ainda vence muitas combinações.
A PRÓXIMA RODADA EM 2026
O atual governo Lula tenta jogar uma partida de paciência - organizando as cartas metodicamente, mas sem grandes apostas. O risco é que, quando a população cansar de esperar por resultados concretos, possa optar novamente pelo jogo agressivo do bolsonarismo.
Nesse pôquer político, enquanto a esquerda joga na defensiva e a direita tradicional está fora do jogo, Bolsonaro segue à mesa, acumulando fichas para a próxima grande aposta, se realmente colar no Congresso a jogada da anistia. A questão que fica é: o Brasil vai cair novamente no conto do blefe, ou finalmente exigirá um jogo limpo com regras novas?
NOTA: Com dados do Datafolha, Latinobarômetro e IBGE.
コメント