Qual a parte dos fatos que Boulos e Lula ainda não entenderam sobre o paulistano não querer a esquerda na administração pública da capital do estado?
O candidato do PSOL também adotou frase do petista famosa naquele pleito: "a esperança pode sim vencer o medo"
Atrás nas pesquisas de intenção de voto, o candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) replicou seu padrinho político, o presidente Lula (PT), e leu uma carta intitulada "Ao Povo de São Paulo" na esperança de reduzir sua rejeição.
Ele também fez acenos ao eleitorado de Pablo Marçal (PRTB) e anunciou que dormirá na casa de eleitores até o final da semana.
Segundo pesquisa Datafolha divulgada na última quinta-feira (17), o psolista tem 33% das intenções de voto no segundo turno, ante 51% de Ricardo Nunes (MDB).
Dos entrevistados pelo instituto, 56% disseram que não votariam de jeito nenhum no deputado do PSOL, e 35%, no prefeito.
Em um púlpito improvisado em frente à prefeitura, Boulos prometeu nesta segunda-feira que só voltará para casa no final de semana. "Vou rodar essa cidade, conversando com pessoas, dialogando. Dormir na casa dessas pessoas. Vou virar votos 24 horas por dia, porque acredito nessa vitória", afirmou.
"Diferentemente de quem ocupa esse prédio [em referência ao edifício da sede da prefeitura], nós não estamos na política por causa de eleição. Estamos na política para que a cidade fique mais humana", prosseguiu.
A carta remete uma estratégia adotada pelo presidente Lula (PT), que, em sua primeira campanha vitoriosa ao Palácio do Planalto, em 2002, buscou atrair eleitores moderados com a "Carta ao Povo Brasileiro".
"Nosso governo será de diálogo e construção conjunta, sem amarras a qualquer tipo de sectarismo", disse Boulos, na mesma linha, nesta segunda-feira.
O texto lido pelo candidato do PSOL foi direcionado, em boa parte, a trabalhadores autônomos e das periferias. O candidato citou, por exemplo, manicures, motoboys e motoristas por aplicativos. Boulos, porém, não explicou na carta as oportunidades que pretende oferecer, se for eleito.
Ele disse que a "periferia mudou" e reconheceu a dificuldade dos políticos de esquerda ao tentar se aproximar desse grupo, que ajudou a engrossar o eleitorado de Marçal.
"Você, mulher, que foi abrir seu salão, vender salgados na garagem de casa ou na porta do metrô, sabe disso. Você, jovem, que financiou uma moto e foi trabalhar sem parar e sem nenhuma proteção, sabe disso. Você que pega um carro e dirige a cidade toda como motorista de aplicativo sabe disso. Muitas vezes nós deixamos de falar com vocês", escreveu Boulos.
"Eu quero aqui assumir um compromisso com cada um de vocês: a Prefeitura de São Paulo vai te oferecer oportunidades, não só aparecer pra cobrar boleto".Ele também citou o nome de sua vice, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT).
"Muitos ficam assustados com a minha trajetória no movimento social. Outros se questionam sobre se conseguiremos dar conta ou se vamos dialogar com quem tem visões diferentes. E, por isso, ficam receosos de apostar na mudança. Peço aqui um voto de confiança a você", disse.
O candidato do PSOL também adotou frase do petista famosa naquele pleito: "a esperança pode sim vencer o medo".
O psolista disse que irá dormir na casa de eleitores entre esta segunda-feira (21) e sexta-feira (25). A primeira hospedagem será na Brasilândia, na zona norte. De acordo com a agenda de campanha, ele passará à noite na casa da "Dona Maria Roseli, professora".
Antes disso, terá uma série de compromissos de campanha ao longo do dia e, à noite, deve se encontrar com evangélicos.
Segundo o Datafolha, Nunes tem 57% das intenções de voto nesse segmento, ante 23% de Boulos. A margem de erro para esta fatia do eleitorado é de seis pontos percentuais.
Depois, o candidato do PSOL seguirá para região central e irá dormir no Grajau (zona sul) e em São Mateus (zona leste).
Segundo Boulos, o roteiro na sexta terminará na zona oeste, onde ele irá se preparar para o debate da Rede Globo.
Ele não detalhou como foi a escolha das pessoas que irão hospedá-lo. Disse apenas que esses moradores se voluntariaram através de lideranças do bairro.
"Essas pessoas que eu vou visitar foram pessoas que, quando a gente colocou a ideia, se voluntariaram para me receber nas suas casas, para conversar sobre sua vida, sobre seus problemas. Conversarmos com lideranças da região", explicou.
Questionado pela imprensa a respeito da estratégia do adversário de dormir na casa das pessoas, Nunes ironizou: "Não consigo não rir", disse em evento de campanha à tarde. O prefeito disse que seguirá fazendo campanha "de uma forma bem séria, sem nenhum marketing político, trabalhando, conversando, com muita humildade".
Boulos chegou até o local de van e com uma mala, com a promessa de voltar para casa só depois do debate da Globo. Durante a sua fala, funcionários da prefeitura foram até a janela acompanhar o discurso do psolista.
Durante a tarde desta segunda, o psolista realizou uma nova edição do debate público -o primeiro evento neste molde ocorreu no centro de São Paulo, na última sexta-feira (18).
Desta vez, o evento aconteceu no bairro do Cachoeirinha, na zona norte da capital paulista, onde foram instalados três púlpitos: um para Guilherme Boulos, outro para população e um terceiro para Nunes -o deputado federal tem chamado prefeito de fujão e covarde pela ausência em três debates no segundo turno.
Diferente do primeiro embate, que contou apenas com apoiadores, desta vez o candidato foi questionado por uma plateia mais plural.
Em um determinado momento, um homem disse que o psolista ainda não tinha seu voto e pediu que Boulos nunca repita frases como as da sua vice Marta Suplicy, que disse "relaxa e goza" para a população afetada por uma crise aérea, em 2007. Na época, Marta era ministra do Turismo e pediu desculpas pelo episódio.
Boulos contornou o confronto e disse que, na vida, todos têm "seus acertos e erros". "Acho que Marta se caracteriza mais pelos acertos que pelos erros. Não foi uma frase feliz e ela mesmo já pediu desculpas. Não vamos cometer esses erros e tenho o maior respeito pelo povo", disse o candidato.
LEIA A ÍNTEGRA DA CARTA
"Venho aqui, de coração aberto, para falar com vocês. Eu nasci, cresci e formei minha família na nossa cidade. Tive a oportunidade de viver os dois lados da ponte. O que sempre me moveu, desde menino, quando fui atuar junto com as pessoas sem-teto, foi o sentimento de indignação com as injustiças e a convicção de que é possível vivermos numa sociedade melhor. Como pode uma cidade tão rica ter gente com fome? Como pode ter tanta gente nas ruas? Como pode termos bairros com a qualidade de vida da Suécia e outros, com a dos países mais pobres do mundo? Essas inquietações são minhas, dos que caminham ao meu lado e, tenho certeza, também são suas.
Ter uma cidade mais humana, em que a solidariedade não seja destruída pela indiferença, é o que eu acredito e quero fazer. Sei que muitos de vocês compartilham desse sonho, mas têm dúvidas e receios. Muitos ficam assustados com a minha trajetória no movimento social. Outros se questionam sobre se conseguiremos dar conta ou se vamos dialogar com quem tem visões diferentes. E, por isso, ficam receosos de apostar na mudança que representamos, mesmo sabendo que a cidade não está boa. Peço aqui um voto de confiança a vocês. Eu me preparei para governar nossa cidade: estudei cada área, cada contrato e cada solução. Chamei a Marta, com sua experiência administrativa, para ser minha vice e juntamos especialistas e gestores que passaram por governos de diferentes partidos. Nosso governo será de diálogo e construção conjunta, sem amarras a qualquer tipo de sectarismo.
Reconheço também que, pelo nosso propósito de olhar sempre para os invisíveis, muitas vezes nós da esquerda deixamos de falar com tanta gente que também batalha, sofre o dia-a-dia das periferias e que buscou encontrar sua própria forma de ganhar a vida. A periferia mudou. Você, mulher, que foi abrir seu salão, vender salgados na garagem de casa ou na porta do metrô, sabe disso. Você, jovem, que financiou uma moto e foi trabalhar sem parar e sem nenhuma proteção, sabe disso. Você que pega um carro e dirige a cidade toda como motorista de aplicativo sabe disso. Muitas vezes nós deixamos de falar com vocês.
Eu quero aqui assumir um compromisso com cada um de vocês: a Prefeitura de São Paulo vai reconhecer o seu esforço e te oferecer oportunidades, não só aparecer pra cobrar boleto. Isso não é apenas uma promessa de campanha. É um compromisso de futuro.
Sei que boa parte de vocês está descrente da política, perdeu a esperança por achar que são todos iguais. E quando a gente vê quem aparece só de quatro em quatro anos, repetindo o que o marqueteiro falou, eu te entendo. É difícil diferenciar quem está de verdade do seu lado dos que querem te enganar. O compromisso que eu assumo com vocês não é apenas de fazer melhor, é de fazer diferente. Eu vou fazer meu Gabinete na Rua, indo todos os dias escutar você no seu bairro e construir junto as soluções. Vou fazer valer a participação como forma de governo, porque acredito que uma política feita desse jeito, sem portas fechadas, pode renovar a esperança de muita gente. Por isso, faço aqui um pedido a vocês: não desistam da mudança. Desistir dela é desistir do futuro, de deixar um legado da nossa geração para as que virão.
Nesta eleição, São Paulo tem um risco e uma oportunidade.
O risco é deixar um prefeito fraco e omisso levar nossa cidade ao caos. Quando o governo é fraco, os verdadeiros vilões tomam conta. Foi assim que o pior da nossa política se apoderou do orçamento de São Paulo, do nosso dinheiro, com esquemas que todos nós estamos vendo na imprensa. Foi assim que o crime organizado se infiltrou no transporte público e em cargos de alto escalão da Prefeitura. Já vimos esse filme em outras cidades do país. E não acaba bem.
Mas esse não é o único caminho. Nós podemos, com coragem e responsabilidade, afastar esse risco de São Paulo e aproveitar a oportunidade de termos o maior orçamento da nossa história para enfrentar as desigualdades que vêm de longe. Para olhar as grandes metrópoles do mundo e tirar as melhores soluções em inovação, eficiência e sustentabilidade. Para termos, pela primeira vez, uma política que entenda e apoie a periferia que quer empreender. Um governo que vai levar a escuta e a participação da sociedade ao limite.
Eu jamais desistirei desse caminho. Fomos tão atacados nesta eleição exatamente por manter a coerência e os princípios que nos trouxeram até aqui. E acredito que é possível ganhar essa eleição dialogando olho no olho com as pessoas. Defendendo que os sem-teto tenham casa, que os invisíveis tenham voz, que todos os trabalhadores tenham oportunidades. Que as periferias sejam tratadas com respeito e não com preconceito e violência. É isso que nos move. E peço a todos que se movem por esses mesmos valores que saiam às ruas para virar votos nessa reta final. A verdade pode, sim, vencer a mentira. A esperança pode, sim, vencer o medo.
Pensem e reflitam com suas famílias. A hora é agora. Por tudo isso, peço o seu voto no próximo domingo no 50!
Guilherme Boulos
Candidato a prefeito de São Paulo"
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