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Foto do escritorIvana Veraldo

Na rabeira da lambretta

De 1965 a 1970, meu pai foi o feliz proprietário de uma motoneta da marca Lambretta, veículo de duas rodas que foi muito famoso entre os jovens daquele período. No final dos anos 70 elas foram consideradas superadas pela explosão do consumo das motocicletas. Mais recentemente, esse tipo de veículo, agora chamado de scootter, voltou a fazer sucesso, principalmente a versão elétrica.

 

Na novela Estúpido Cupido, exibida de 1976 a 1977, tinha muita lambretta igual à do meu pai. A trama retratava os anos 60, uma época marcada por mudanças de comportamento, pelo rock e o twist nas pistas de dança. Jovens com calças  jeans e  jaquetas de couro se exibiam em lambretas na telenovela.

 

Foto: Lambretta daquela época - anos 70

 

Desculpem. Eu começo a contar uma história, me distraio e pulo para outra. Voltemos ao meu pai e sua lambretta.

 

Quando meu pai, Ismael, comprou o veículo, suas 4 filhas já tinham nascido e a fábrica tinha encerrado a produção. Então, éramos seis!

 

Éramos Seis foi uma telenovela brasileira produzida pelo SBT e exibida no ano de 1994 com um seleto elenco…

 

Distraí novamente.

 

A curiosidade que quero contar é sobre como nós seis circulávamos todos montados na lambretta.

 

Meu pai, o condutor,  mantinha suas pernas à frente colocando os pés sobre o piso que ficava entre o banco e o guidão. Na frente dele, entre seus braços que seguravam o guidão, ficava minha irmã Ivete (5 anos) em pé sobre o piso e sua cabeça não atrapalhava a vista do meu pai. Atrás dele, ia minha mãe, Irene, e ela segurava a bebê caçula no colo, Ivani (1 ano e meio). Atrás da minha mãe,  ficava o pneu estepe e duas filhas se equilibravam sobre ele.  Agarrada à cintura da minha mãe, sentava-se  Ivonete  (4 anos) e eu (com 3) agarrava-me à ela, como quem segura a vida nas mãos, com boa parte da bunda para fora do estepe.


Foto: Lambretta 1970.

 

As rodas da Lambretta eram pequenas e constantemente caíamos todos. Certa vez isso ocorreu num lamaçal e assustou a todos. Quando percebemos que ninguém se machucou rimos muito.

 

Naquela época não existia uma lei que regulamentasse o uso desse tipo de veículo. Pelas leis atuais, meu pai seria preso por colocar as nossas vidas e a de outros em risco.

 

O fato é que a experiência com  a lambretta me marcou profundamente. Sensações intensas e opostas. Liberdade e medo. O vento no rosto dava uma sensação  de liberdade e a lambretta nos levava, mais rápido do que a pé, aos lugares onde queríamos ir. Ao mesmo tempo, como era eu que ficava na rabeira da lambreta, presa apenas pela minha pequena força à cintura da minha irmã, e essa, por sua vez, agarrada à minha mãe, eu tinha muito medo de cair. E se eu caísse e me machucasse muito? E se ninguém percebesse, inebriados que ficavam com os passeios? E se me esquecessem caída em qualquer  lugar? E se alguém me pegasse e me levasse embora? Mas logo eu esquecia os medos e desfrutava do passeio.

 

Dias desses, um amigo colocou sua scooter elétrica à venda e me ofereceu. Fiquei tentada, mas minha idade não me permite correr risco de quedas, então recusei. Agora, só ando de veículo com apenas duas rodas na imaginação. E olha que não falta criatividade na minha mente imaginosa.

 

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