Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e diretor da CIA FM.
Herói ou bandido? Ainda que as respostas sejam conflitantes, Alexandre de Moraes foi o grande personagem deste 7 de setembro e isto nos parece muito estranho. Um ministro do STF que jamais deveria ser um personagem da disputa política, roubando a cena e ocupando o centro das atenções do debate entre esquerda e direita. Tem algo errado.
Se um ministro do Supremo ocupa o centro do tabuleiro político, sendo, na mesma data, homenageado pela esquerda e hostilizado pela direita, fica a impressão de que a polarização política incorporou o STF na guerra política, algo que já está na leitura até do cidadão comum brasileiro.
Uma pesquisa, realizada pela Atlas Intel ainda em agosto, mostra com precisão esta questão; mais de 90% dos eleitores de Bolsonaro rejeitam Moraes e na esquerda índice quase igual aprova o ministro. Quando se questiona o grau de confiança no tribunal, 87% dos eleitores de Lula respondem sim e 95% de Bolsonaro não. Escolha qualquer questionamento e a leitura será idêntica, demonstrando que, no subconsciente do cidadão, PT e STF formam um conjunto homogêneo.
Importante registrar que o palanque em Brasília não recebeu o coletivo do Supremo, estando presentes apenas o presidente, Luís Barroso, por dever de ofício, Alexandre de Moraes e mais dois ministros apenas. Logo, a generalização é perigosa.
O grande problema é que a homenagem de Brasília sinaliza uma aliança entre PT e STF, enquanto o evento da Paulista demonstra que a direita escolheu Alexandre como inimigo público número 1 da direita, fato que facilmente se estende ao conjunto dos ministros. Sem dúvida, a componente estratégica precisa ser avaliada; Bolsonaro faz cálculos focados na possibilidade de obter sua anistia, que o libere para 2026, e avalia que criar constrangimentos pode ajudar seus objetivos.
Todavia, a tese contamina a todos. Mesmo o governador Tarcísio de Freitas, para quem se presume que a distância das polêmicas lhe conceda atalhos políticos, defende uma improvável anistia para os golpistas (?) de 8 de janeiro, algo fora de questão, neste momento, assim como não há absolutamente ninguém que consiga opinar, intermediar ou interferir no confronto entre Elon Musk e Alexandre, agora incluindo a turma 1 do STF.
Quando se enxerga a opção Pablo Marçal assumir a postura de incendiário tresloucado, Tarcísio abandonar sua moderação, resta projetar insanidade e polarização para 2026. Nada aponta para um futuro razoável, quase impossível esperar um debate na linha da decência, quando os ânimos já estão em ebulição desde já.
Talvez seja importante perceber que quando a direita assume bandeiras improváveis, anistia política e impeachment de Alexandre, pretende exatamente manter o caldeirão da política em fogo alto, para crescer com a polarização, fechar espaços para qualquer alternativa e se manter nos holofotes, inclusive pela notória incapacidade do governo de sustentar uma pauta propositiva.
A luta pelo poder é muito mais relevante que qualquer argumento que priorize o país. Demonizar o adversário, impor medo da facção contrária, poluir a mente dos incautos com hipóteses absurdas, jogar ostensivamente para a torcida, sem nenhuma preocupação com o bom senso, segue na lista de ações prioritárias dos grupos políticos que precisam do poder para manter suas estruturas políticas alimentadas com recursos do erário. Nada, praticamente nada republicano.
O grave é que a conta destes destemperos é paga com impostos. Quase um em cada quatro reais que sobram, depois das despesas obrigatórias, vira moeda de troca política, via emendas, alimentando o processo de perenização da elite política, com sacrifício das prioridades técnicas, das demandas urgentes de cada região porque, para todos eles, importa apenas somar apoios que garantam governabilidade.
Felizmente, nossas instituições são fortes porque o ponto de ruptura poderia ser atingido com tantas afrontas de todos os poderes. A parcela não comprometida da sociedade precisa ter discernimento para entender que eleição nenhuma vai resolver nossos problemas se submetidas às regras atuais. Já afirmei que Jesus Cristo, eventualmente eleito, teria que sentar-se à mesa com os liras e pachecos da vez, ajustar as regras das emendas ou teria uma nova crucificação, desta vez política, via impeachment.
Fim da reeleição e ajuste no nosso modelo de presidencialismo de coalizão, talvez para uma versão mista de presidencialismo parlamentar, com o absolutamente necessário fim das reeleições precisam ser itens prioritários da pauta de salvação do Brasil.
Executivo focado apenas no jogo político, legislativo operando recursos públicos e judiciário também politizado é a receita do caos. Ainda temos algum tempo, mas a inércia nos condena à tragédia.
Sabendo que as urnas, em qualquer circunstância, resultarão em um eleito contestado, certamente escolhido apenas por ter menos rejeição, precisamos ter consciência que as soluções precisam ser o redesenho de nossas regras que permitam que a ética e a decência não sejam, de novo e mais uma vez, relegadas em nome da “salvação da nação”, espertamente difundidas pelos antagonistas de plantão.
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