O presidente da Argentina, Javier Milei, poupou Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de críticas e optou por um discurso mais contido neste domingo (7) durante a Cpac, conferência conservadora realizada em Balneário Camboriú (SC).
Em pronunciamento, lido a uma plateia lotada de ativistas de direita, e com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no palco, Milei discorreu sobre os males do socialismo e denunciou a oposição a suas reformas econômicas na Argentina.
Para a diplomacia brasileira, que vinha prometendo reagir a provocações o tom burocrático do argentino foi um alívio.
"Em nome da justiça social, os socialistas cometeram atrocidades, inventando mercados cativos para empresários amigos, violaram direitos fundamentais de uns e outros", afirmou.
Ele subiu ao palco como um rockstar, balançando os braços freneticamente, mas o que se viu em sua fala foi algo anticlimático para quem esperava uma oratória no mesmo nível. De maneira sintomática, ficou impávido quando a multidão entoou o grito de "Lula ladrão, seu lugar é na prisão"
A única referência mais direta ao Brasil foi feita de passagem. Em determinado momento, citou "a perseguição judicial que sofre nosso amigo Jair Bolsonaro aqui", em referência aos processos contra o ex-presidente.
Nominalmente, fez poucas referências a líderes de esquerda, concentrando-se sobretudo no ditador da Venezuela, Nicolás Maduro. Para Milei, Maduro, que concorrerá numa eleição em 28 de julho, seria o símbolo do socialista que usa a pobreza como instrumento para se manter no poder. "Vejam como vive a família de Maduro, são todos multimilionários. Eles perderam o direito de falar de justiça", afirmou.
Outro mencionado foi o ex-presidente da Bolívia Evo Morales, que tentou se manter no poder mesmo com decisão contrária da Justiça de seu país. O argentino repetiu a acusação, sem provas, de que o atual chefe de Estado do país, Luis Arce, tentou engendrar um autogolpe. Milei também citou o que chamou de "ditaduras assassinas" de Cuba e Nicarágua.
Em uma fala de 25 minutos, que leu em ritmo acelerado, o líder argentino fez um longo histórico sobre as mazelas do socialismo, em seu país, na América Latina e no mundo como um todo.
"Os governos socialistas tomam medidas artificiais, e em um primeiro momento a economia cresce. Eles se enamoram com a popularidade e então aumentam indiscriminadamente os gastos públicos. Quando o dinheiro acaba, aumentam impostos para arrecadar mais", disse.
Isso, na visão do presidente argentino, sustenta uma "bonança fictícia". Ao fim do processo, emitem moeda para manter o gasto artificialmente, gerando um processo hiperinflacionário. "O custo de tudo isso tarde ou cedo paga toda a população", concluiu.
Como um professor, embasou suas críticas ao socialismo citando autores liberais como o austríaco Friedrich Hayek (1899-1992) e o americano Thomas Sowell, 94.
"É falso que a esquerda seja a ideologia dos pobres e dos oprimidos. Cada vez fica mais claro que é a ideologia dos milionários. A pobreza é instrumento para que se pregue o socialismo", declarou. Em seguida, bradou, num dos momentos mais aplaudidos do discurso: "Basta ao socialismo do século 21!".
Também repetiu seu mote da defesa da liberdade de expressão e ironizou os que defendem restrições para "não ferir as sensibilidade de ninguém". Neste momento, afinou a voz e balançou a cabeça, divertindo a plateia.
"A história do mundo é testemunho de que isso é instrumento de opressão e censura. São coisas que parecem distantes e abstratas, mas quem vê o que lamentavelmente começa a acontecer hoje aqui no Brasil pensa duas vezes."
O presidente argentino ainda defendeu as reformas econômicas que vem promovendo no país, baseadas em corte drástico de gastos públicos, e criticou a oposição por tentar impedi-las. Lembrou que sofreu a greve geral "mais rápida da história" e protestos na frente do Congresso "para nos chantagear".
Prometeu seguir em frente, no entanto. "Vamos sair da miséria com ou sem apoio dos socialistas. Temos o compromisso indeclinável de cumprir com a vontade da maioria dos eleitores", disse. "Não passarão, não conseguirão, vamos levar o país adiante", acrescentou.
Apesar de não ter feito uma fala incendiária como muitos esperavam, Milei foi muito aplaudido ao final. Repetiu por duas vezes seu bordão "Vila la libertad, carajo!" e depois levantou o braço de Bolsonaro em cima do palco, antes de lhe dar um abraço.
Foi embora após novamente agitar os braços freneticamente para a plateia, e ao som de rock argentino em alto volume.
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