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Menino veste azul e menina veste rosa


Por Leonna Moriale


É curioso revisitar a história e descobrir que o rosa, outrora símbolo de vigor e até mesmo associado à figura de Jesus, adornava os meninos, enquanto o azul, cor da serenidade e da Virgem Maria, vestia as meninas. Essa inversão cromática, longe de ser um capricho do tempo, revela a maleabilidade das convenções sociais e a força implacável do mercado.



Antigamente é sabido, que a maioria das famílias não tinham a possibilidade de adquirir tantas roupas ou até mesmo diferentes produtos de limpeza e higiene. Desta forma grande parte das roupas infantis eram da cor branca, o que facilitava a lavagem, na maioria das vezes com um único produto químico muito forte, e o que possibilitava que esta roupa fosse passada de geração a geração, muito comum todos os irmãos usarem as mesmas roupas.


Com a ascensão do capitalismo, as cores foram habilmente ressignificadas e atreladas a produtos específicos, fomentando um consumo segmentado. Inteligente e perverso, quem inventou que uma determinada cor só poderia ser utilizada por um gênero. A ideologia de gênero, termo hoje tão polarizado, encontrou no universo das cores um fértil campo de atuação comercial. Curiosamente, a mesma direita que acusa a esquerda de doutrinação de gênero, perpetua, no cotidiano, as mais arraigadas distinções: filas separadas por sexo, brinquedos predefinidos – carrinhos para eles, bonecas e vassourinhas para elas –, e a perpetuação de papéis sociais distintos, preparando o menino para o mundo lá fora e a menina para o confinamento do lar, sob o estereótipo da "bela, recatada e do lar".


Essa rigidez imposta pela sociedade binária, homem e mulher, se esfacela diante da experiência da transição de gênero. Uma travesti, por exemplo, que talvez tenha sido vestida de azul na infância, encontra no rosa a materialização de sua verdadeira identidade. A boneca que lhe foi negada outrora, por imposições de um sistema que a aprisionava em uma identidade de gênero que não era sua, torna-se, enfim, sua representação no mundo. O rosa, para ela, transcende a mera cor; é a celebração de sua autenticidade, a conquista de um direito de ser e de se expressar plenamente. O que não significa, a mesma narrativa para todas as mulheres trans e travestis, afinal estamos dizendo sobre pessoas diversas. Muitas mulheres cis, não se identificam com o padrão estabelecido do que é ser mulher na sociedade atual, não gostam de usar os sutiãs que oprimem e apertam, os saltos altos que incomodam suas pernas, as saias que limitam seus movimentos ou as maquiagens que as impedem de passar a mão no rosto ou de deixar sua pele respirar. Nada mais justo então do que mulheres travestis, cis e trans reivindicarem o feminino que mais representa cada uma, ao invés do feminino padrão.


Por fim, as cores não possuem gênero, brinquedo não tem gênero, sexo biológico não define gênero. São construções sociais, mutáveis e permeáveis às experiências individuais. Insistir em aprisionar indivíduos em paletas predefinidas é ignorar a riqueza da diversidade humana e a fluidez das identidades. Que possamos, enfim, despir as cores de seus rótulos e permitir que cada um se pinte com as tonalidades que verdadeiramente representam sua essência, assim eu tenho certeza que um dia teremos de sucesso os nossos sonhos coroados.

 

Leonna Moriale

Travesti Arte’ativista

 

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