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Maré Baixa em Copacabana

Foto do escritor: Nelson Guerra Nelson Guerra

Protesto de Bolsonaro Precede Seu Naufrágio Político?


Por Professor Guerra, analista político 


Em um domingo que prometia ser um tsunami de apoio, o que restou na praia de Copacabana foi uma maré baixa de entusiasmo. O ato convocado por Jair Bolsonaro, batizado por aliados como "o terceiro turno" das eleições de 2022, transformou-se em um terceiro ato de uma derrota sem urnas. Como um farol que ilumina mais as falhas do que o horizonte, o evento revelou fissuras profundas no projeto bolsonarista. 


Imagem criada com I.A. – Créditos: Nelson Guerra
Imagem criada com I.A. – Créditos: Nelson Guerra

O Palco e o Vazio

 

Copacabana, cenário histórico de multidões, desta vez ecoou mais o silêncio do que os gritos. Bolsonaro, que sonhava com um milhão de bandeiras verdes e amarelas ondulando como um mar de insatisfação, viu-se diante de um lago sereno. Estimativas técnicas da USP, usando inteligência artificial a partir de fotos aéreas, contabilizaram 18,3 mil pessoas — menos que um show de rock em dia chuvoso. O ex-presidente, que já enfrentou urnas e processos, agora encara um novo rival: a pequenez quantitativa de seus apoiadores. 

 

A presença de governadores e do pastor Silas Malafaia, financiador do evento (pela terceira vez), não disfarçou o ar de derrota. Malafaia, que costuma falar em "milagres", não conseguiu multiplicar os pães e os peixes do apoio popular. O PL, partido de Bolsonaro, tentou inflar o número com retórica, mas as imagens aéreas com cálculos computadorizados foram juízes mais eficazes que qualquer tribunal. 

 

As Pedras no Sapato e os Tiros no Pé

 

Podia ser só o palco minguado, porém o discurso também se mostrou um certo labirinto de espinhos. Bolsonaro, inelegível e inflamado, atacou o ministro Alexandre de Moraes com a fúria de quem tenta derrubar um muro com as próprias mãos. "Minha campanha foi sabotada!", bradou, ignorando que, na política, as regras do jogo são escritas com tinta indelével. O pastor Malafaia, em tom de profeta armado, jurou ter "provas" contra Moraes, a quem chamou de criminoso, mas não esclareceu que leis o marginal da Suprema Corte descumpriu.

 

"Nós estamos falando em anistia, mas você precisa entender por que essas pessoas estão presas. Eu vou fazer aqui declarações fortes e vou provar, porque eu não vim aqui para fazer acusação leviana, então eu vou fazer uma declaração e vou provar a minha declaração. O ministro Alexandre de Moraes é um criminoso”, afirmou o pastor.

 

As demandas? Uma salada indigesta: anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro, críticas a Lula e uma defesa de presos que soou como abraço a um fantasma golpista. O deputado Sóstenes Cavalcante (PL) prometeu empurrar a anistia "na marra", enquanto Bolsonaro citou um suposto apoio de Gilberto Kassab, do PSD — que, horas depois, silenciou-se e desconversou o assunto em rede social. Até em suas alianças, o capitão parece navegar em águas fantasmas. 

 

O Último Ato: Drama ou Farsa?

 

Questionado sobre o futuro, Bolsonaro respondeu com a dramaticidade de quem encena um épico de pouca plateia: "Serei um problema, preso ou morto". A frase, que poderia ser um verso de um samba-enredo trágico, soou mais como um refrão desgastado. Seu projeto político, outrora uma locomotiva, neste domingo pareceu um trem descarrilhado, confuso em trilhos sem destino. 

 

Conclusão: O Eco que Não Chegou ao Mar

 

O protesto de Copacabana, destinado a ser um grito, terminou em sussurro. A baixa adesão não foi apenas um revés numérico, mas um espelho que reflete o esvaziamento de um movimento que um dia fora barulhento. Cada crítica às instituições, em vez de fortalecer Bolsonaro, escavou mais fundo sua imagem de líder às margens da democracia. Se em 2022 ele perdeu as eleições em dois turnos, em 2025 perdeu a narrativa do terceiro ato. 

 

A estrada à frente é íngreme: com aliados vacilantes, discursos que já não ressoam e uma base que murcha como balão fendido, o bolsonarismo enfrenta seu inverno mais gelado. Enquanto as ondas de Copacabana lavam a areia, levam consigo os vestígios de um protesto que quis ser tsunami, mas não passou de uma onda quebrada — deixando, para seus organizadores, não esperança, mas um certo sabor de fracasso, que infelizmente para o mito deixará mais pesada a caminhada rumo às estratégias para 2026.

 

(Professor Guerra, analista político)

 


7 Comments


Guest
há 9 horas

Parabéns pelo texto, objetivo e claro. Infelizmente o nosso país é sempre pego por algumas ideias insensatas cheias de blasfêmias, atirando para todos os lados para ver se acertar alguém, mas sempre sem objetivo. Nos resta defendermos da insensatez.

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Guest
há 10 horas

Bolsonaro pode ser descartável, mas o bolsonarismo infelizmente não é uma força desprezível. Tarcísio, o principal representante do fascismo palatável apoiado pela imprensa tradicional, coloca-se como a direita moderada, quando na verdade é um extremista ainda mais deletério para as instituições do que o seu criador, porque não é uma mera ameba, mas uma criatura perversa que pensa. Se não for derrotado pela própria direita na luta interna pelo poder será um osso muito duro de roer.

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Guest
há 13 horas

Texto claro e objetivo.

Só a espera da justiça honesta, levando o marginal ao seu local apropriado e com segurança, 24h, ininterruptas.

E com certeza tb, os seus lacaios.

Ambiente com muita tranquilidade e companhia agradável. BANGÚ OU PAPUDA.

Desejo o melhor tratamento. Café puro na refeição matinal, 1 quentinha ao meio dia, pão com mortadela e café à tarde e por fim, outra quentinha no jantar.

Ah... como diz o Presidente Lula.

Uma bolachinha com chá , antes de dormir. Não pode dormir com a pança vazia. Boa sorte e ótimo descanso.

Não tenha pressa. Esta mordomia acaba em 30 anos!

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Nelson Guerra
Nelson Guerra
há 11 horas
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O você quer dizer, Beti?

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Guest
há 14 horas

É pouco pra ele; merece que seja bem pior daqui pra frente será totalmente esquecido não conseguiu fazer história.

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Emilio
há 14 horas
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Deixou sua marca sim, a marca do segundo pior presidente na história do nosso país.

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