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MAIS COMPLEXIDADES

Por: Célio Juvenal Costa, professor da UEM


Continuando a reflexão anterior, gostaria agora de referir-me à complexidade no sentido social e histórico. No texto passado, em resumo, eu afirmei que o ser humano é complexo, e é assim que ele deve enxergar a si mesmo e os outros. Penso que, como consequência lógica, a sociedade e a história devem ser analisadas e avaliadas, também, em suas complexidades.

 

 

Efetivamente, as instituições sociais estão longe de serem simples. A política, a escola e a família, apenas para referir-me a algumas das mais importantes, têm uma complexidade interna que não comporta definições acabadas e tranquilas. Em política, por exemplo, como dizia um político, a água sobe a cachoeira..., ou seja, querer uma linearidade no jogo e nos arranjos políticos é se perder em uma pureza que não leva em conta a dinamicidade do processo e as variadas estratégias utilizadas na luta pelo poder. Pode-se, e deve-se, criticar alguns conchavos e arranjos meramente eleitoreiros, mas achar, de forma pueril, que a política não pode compreender novas alianças com velhos inimigos é correr o risco de ser, no mínimo, ingênuo.

 

No que diz respeito à escola e à família acontece o mesmo, pois é muito comum minimizar a complexidade das relações inerentes a elas e, com isso, propor resoluções dos problemas que passam, simplesmente, pela mudança na forma dos comportamentos (do marido, da mulher, dos filhos, dos estudantes, dos professores), estabelecendo papeis que deveriam ser naturais. Tanto a família como a escola são instituições que são determinadas para além daquilo que lhes são específicos e, por isso, simplificar as análises e resoluções de possíveis problemas acaba por dar, como diziam os antigos, "com os burros na água", ou seja, respostas ingênuas para análises simplórias. A família e a escola mudam historicamente, pois valores sociais também mudam, que geram novos comportamentos e novos tipos de papeis e de relações sociais; um exemplo disso são os castigos físicos que pais (com varas) e professores (com palmatórias) impingiam aos seus filhos e alunos.

 

No que diz respeito à história, em que política, escola e família mostram as suas mudanças, é muito comum professores, pesquisadores, estudantes etc., analisar a história a partir de conceitos generalizadores, tais como Idade Média, Humanismo, Renascimento, Mercantilismo, Iluminismo, dentre inúmeros outros. Tais conceitos são sempre construídos posteriormente para identificar e padronizar determinadas características do passado. No entanto, corre-se o risco de, ao usar permissivamente os conceitos, eles acabarem virando rótulos com os quais adapta-se e resume-se a realidade, e, com isso, de fazer uma espécie de radiografia do passado, de se congelar a história, simplificando as relações humanas individuais e sociais, retirando, portanto, toda a dinamicidade própria de qualquer sociedade do passado. O ser humano individual e em sociedade é sempre complexo e, por consequência, o passado também é complexo, dinâmico, contraditório e, se não se estiver atento a isso, corre-se um sério risco de retirar do passado o que lhe é mais rico, que são os seres humanos de carne, osso, sangue e alma, que construíram suas vidas com a intensidade que lhes era inerente.

 

A consciência de que as sociedades, atual e do passado, são destituídas de complexidade é gerada, em minha opinião, por uma visão religiosa-maniqueísta do ser humano e da realidade. A atitude mais simplificadora é aquela que julga pessoas, grupos e instituições como boas ou más e, portanto, a resolução dos problemas passa pela solução maniqueísta de condenar os maus e enaltecer os bons. Bondade e maldade são tão relativas quanto a própria vida; bom e mau são tão não-lineares como o é a própria história. O fato de o bom para uns não o ser para outros, gera uma disputa, inclusive, para se definir quem está ou não com a verdade e, consequentemente, acarreta a condenação de quem se afasta daquilo que se considera o bem.

 

O maniqueísmo é uma solução simplificadora e, de certa forma, apaziguadora, pois ele fornece “armas” para que pessoas julguem e ataquem outras pessoas e, assim, deixem de encarar os conflitos sociais e os próprios conflitos individuais como características de uma complexidade que é própria do viver individual e coletivo.

  

Meu Instagram: @costajuvenalcelio

 

Obs: Esta é uma versão revisada e atualizada de um texto originalmente publicado no blog: devaneioseoutrasreflexões.blogspot.com.

 

 

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