No mundo contemporâneo, marcado por avanços tecnológicos e crescimento econômico em várias nações, a disparidade entre ricos e pobres continua a crescer. Em regiões empobrecidas, especialmente nações descritas como "primitivas" ou "selvagens", populações inteiras lutam pela sobrevivência em condições desumanas. Enquanto isso, as nações ricas acumulam recursos e debatem questões econômicas e políticas que muitas vezes ignoram as necessidades urgentes dos mais vulneráveis.
A Bíblia é clara em seu ensino sobre a responsabilidade dos ricos em relação aos pobres. Em Deuteronômio 15:11, lemos: "Pois nunca deixará de haver pobres na terra; por isso eu te ordeno: livremente abrirás a tua mão para o teu irmão, para o teu necessitado e para o teu pobre na tua terra." Este versículo reflete o entendimento de que a pobreza é uma realidade contínua na história humana, mas também que a resposta a essa realidade deve ser a generosidade e a partilha.
No contexto das nações ricas, essa generosidade pode ser entendida como um chamado a usar os vastos recursos disponíveis para aliviar o sofrimento daqueles que estão em extrema necessidade. O Novo Testamento reforça essa ideia com a Parábola do Rico e Lázaro (Lucas 16:19-31), onde o rico, por ignorar o sofrimento de Lázaro, é condenado. Essa parábola serve como um alerta sobre os perigos da indiferença e da negligência em relação aos pobres.
A responsabilidade cristã não é apenas uma questão de caridade, mas de justiça. É um imperativo divino que aqueles abençoados com recursos compartilhem com aqueles que carecem, refletindo o próprio exemplo de Cristo, que se entregou pelos necessitados.
A justiça social está no cerne da mensagem do Reino de Deus, conforme delineado nas Escrituras. Em Isaías 58:6-7, Deus declara: "Não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo, e que deixes ir livres os oprimidos, e despedaces todo jugo? Porventura não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desterrados?" Este texto enfatiza que a verdadeira adoração a Deus não pode estar dissociada da prática da justiça social.
No Antigo Testamento, o termo hebraico "Tsedacah" é frequentemente traduzido como "justiça", mas seu significado vai além da justiça legal ou retributiva. Envolve ações de bondade, misericórdia e generosidade, especialmente em relação aos pobres e oprimidos. A justiça no Reino de Deus é, portanto, uma justiça restaurativa, que busca não apenas punir o mal, mas também restaurar o bem-estar dos marginalizados.
Essa responsabilidade não é apenas individual, mas coletiva. As nações e sociedades são chamadas a promover a justiça social como parte de sua responsabilidade diante de Deus. Isso inclui a implementação de políticas e práticas que abordem as causas estruturais da pobreza e da desigualdade, reconhecendo que a justiça divina requer ação tanto no nível pessoal quanto no nível sistêmico.
A solidariedade é um valor central na ética cristã. Em Mateus 25:31-46, Jesus fala sobre o julgamento das nações, onde aqueles que alimentaram os famintos, vestiram os nus e visitaram os doentes e presos são considerados justos. Isto demonstra que o critério para o julgamento divino inclui como tratamos os mais vulneráveis. A negligência para com os necessitados é uma falha grave.
A Parábola do Bom Samaritano (Lucas 10:25-37) é outro exemplo de como devemos agir em relação ao "próximo", especialmente aqueles em situações desesperadoras. O Samaritano, ao contrário dos religiosos que passaram pelo homem ferido, demonstrou compaixão e ação concreta para aliviar o sofrimento. Esta parábola desafia nossos preconceitos culturais e estabelece que a verdadeira fé é expressa através do amor ativo ao próximo.
Outra coisa é a doutrina da Imago Dei, que afirma que todos os seres humanos são criados à imagem de Deus (Gênesis 1:26-27), implica que a dignidade humana é inerente a todas as pessoas, independentemente de sua condição socioeconômica. Portanto, a responsabilidade moral dos cristãos é defender e promover essa dignidade, lutando contra as forças que perpetuam a pobreza e a injustiça.
O orgulho e a sensação de superioridade moral são obstáculos à prática da justiça social. Filipenses 2:3-4 nos adverte: "Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não olhe cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros." Paulo nos chama a abandonar qualquer pretensão de superioridade e a adotar uma postura de humildade e serviço.
A Parábola do Fariseu e do Publicano (Lucas 18:9-14) ilustra o perigo de considerar-se superior aos outros. O Fariseu, que se orgulhava de sua própria justiça, foi rejeitado por Deus, enquanto o Publicano, que reconhecia sua própria indignidade, foi justificado. Há uma grande importância, para Deus, da humildade e da autoavaliação em nossa abordagem aos problemas sociais, pois isso reflete o que está em nosso coração.
Como cristãos, devemos evitar a armadilha de considerar os pobres como inferiores ou responsáveis por sua própria condição. Em vez disso, seria bom reconhecer que, como parte da humanidade caída, todos compartilham a responsabilidade de corrigir as injustiças e promover a dignidade humana.
Tiago 2:14-17 nos confronta com a necessidade de que a fé seja acompanhada de obras: "Que aproveita, meus irmãos, se alguém disser que tem fé, e não tiver obras? Porventura a fé pode salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem nus, e tiverem falta de mantimento quotidiano, e algum de vós lhes disser: Ide em paz, aquentai-vos e fartai-vos; e não lhes derdes as coisas necessárias para o corpo, que proveito virá daí? Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma." Aqui fica claro que a fé cristã não pode ser meramente declarativa; deve ser demonstrada através de ações concretas que aliviem o sofrimento humano.
Vamos continuar esse assunto em um próximo artigo, porque há muito ainda para falarmos sobre isso.
Vale a pena ler:
Pr. Gedeon Lidório
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