A presidência de Donald Trump e suas implicações para a economia global, especialmente para a indústria do Paraná, foram os temas centrais de um evento promovido pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), por meio de sua área de Relações Internacionais. O evento reuniu especialistas renomados para debater o cenário político e econômico norte-americano e seus reflexos no setor produtivo.
Evento reforçou a importância de um olhar estratégico para as relações Brasil-EUA (Foto: Gelson Bampi)
O presidente do Sistema Fiep, Edson Vasconcelos, abriu o encontro destacando a relevância do Paraná no cenário industrial brasileiro. “Estamos trabalhando para que as indústrias vejam o nosso estado como o melhor lugar para investir e montar parques fabris. Por isso precisamos cuidar da nossa infraestrutura, ter energia de qualidade e menor burocracia. Temos uma estratégia clara de internacionalização para explorar novos mercados e fortalecer a competitividade da indústria paranaense”, afirmou.
Ainda antes do início oficial das apresentações, a desembargadora Lídia Maejima, presidente eleita do Tribunal de Justiça do Paraná, destacou o papel do judiciário na promoção de um ambiente de negócios favorável. “Estamos comprometidos em destravar gargalos empresariais, contribuindo para o desenvolvimento econômico do estado”, declarou.
Comércio bilateral: oportunidades e desafios
Abrão Neto, CEO da Amcham Brasil, inaugurou as palestras com uma análise do comércio bilateral Brasil-EUA. “Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, com uma pauta de exportação de alto valor agregado, onde 81% dos produtos exportados são industriais. Este é um momento estratégico para fortalecer essa relação”, ressaltou. Ele alertou, entretanto, para os desafios gerados por políticas como tarifas comerciais e disputas tecnológicas com a China, que podem impactar diretamente as cadeias globais de valor.
Pressões econômicas e políticas migratórias
Silvio Cascione, diretor de pesquisa da Eurasia Group no Brasil, abordou as mudanças na política norte-americana de Trump, com destaque para as pressões inflacionárias geradas por uma política migratória restritiva. “A redução da força de trabalho, estimada entre 1,5 e 5 milhões de pessoas, tende a elevar os custos de mão de obra, afetando a competitividade. Além disso, o corte de impostos sem a contrapartida de redução de gastos agravará o déficit fiscal”, explicou.
Impactos no mercado financeiro
Otaviano Canuto, ex-vice-presidente do Banco Mundial, e João Scandiuzzi, estrategista-chefe do BTG Pactual, exploraram os reflexos das políticas americanas no mercado financeiro global. “A valorização do dólar e as altas taxas de juros nos EUA pressionam economias emergentes como o Brasil, especialmente em um contexto de dependência de investimentos estrangeiros”, destacou Canuto. Scandiuzzi complementou: “A política econômica interna será determinante para a estabilidade do Brasil frente a esses choques externos. É crucial que o país mantenha disciplina fiscal e controle inflacionário.”
Cadeias globais e oportunidades locais
Marcos Troyjo, ex-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento – BRICS, encerrou as apresentações destacando os riscos e oportunidades para o Paraná. “Os Estados Unidos são o principal destino das exportações brasileiras de bens industriais. A presidência Trump apresenta desafios, mas também oportunidades para inserir a indústria paranaense em cadeias globais de valor”, afirmou.
Debate e perspectivas futuras
O evento teve ainda um painel mediado pelo jornalista Adalberto Piotto, que reuniu todos os especialistas para discutir estratégias de adaptação ao novo cenário internacional. Ao final, o diretor da Fiep e coordenador do Conselho de Temático de Negócios Internacionais, Paulo Roberto Pupo, afirmou que o seminário reforçou a importância de um olhar estratégico para as relações Brasil-EUA, especialmente para o fortalecimento da indústria paranaense em um cenário global desafiador.“Importante manter a realizações de eventos como este com uma certa periodicidade de agora em diante. Um debate rico, que mostra que estamos no caminho certo e que temos muitos pontos a evoluir”, disse. “Foi uma alegria ter aqui 500 a 600 empresários, que dão sentido à promoção de um evento como este. Todos ganhamos uma consultoria especializada nesta tarde e seguimos juntos pensando o futuro da indústria paranaense. Em nome da Fiep agradeço a participação e todos”, resumiu.
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