A controversa diferença entre o bem e o mal
A história mundial está cheia de episódios onde líderes políticos e autoridades judiciais foram julgados pela opinião pública. Suas ações, dependendo de como foram conduzidas, ora são vistas como atos de alta justiça, ora como atitudes questionáveis. A balança parece se mover conforme a força e o “tempero” de suas decisões.

Voltando no tempo
Um caso famoso ainda ecoa nos bastidores da política dos Estados Unidos. Há rumores de que, na década de 1860, Abraham Lincoln, então presidente, teria pago propina para garantir a aprovação da 13ª Emenda, que acabou com a escravidão negra no país. Lincoln, cuja imagem estampa a nota de cinco dólares, é exaltado como um herói. Mas e se o boato for verdadeiro? Ele seria um criminoso ou alguém que fez o necessário por um bem maior? Essa dúvida provoca debates acalorados em aulas de Direito até hoje mundo afora.
Três atos de uma ópera brasileira
No Brasil, nossa história recente tem seu próprio espetáculo, dividido em três atos. Tudo aconteceu em pouco menos de um mês, e depois de um sono profundo de 58 anos, se contarmos o tempo a partir do chamado Golpe de 1964.
Eis as três cenas que marcaram a memória recente nacional de forma dramática:
1. Primeiro ato – 12/12/2022: No dia em que Lula foi diplomado como presidente eleito, manifestantes invadiram a sede da Polícia Federal em Brasília. Carros foram destruídos, ônibus queimados, e ninguém foi preso.
2. Segundo ato – 24/12/2022: Na véspera de Natal, houve uma tentativa de explodir um caminhão-tanque perto do aeroporto de Brasília. Foi um susto gigantesco, com apreensão de materiais pedindo intervenção militar encontrados na cena.
3. Último ato – 08/01/2023: Talvez o mais impactante. Vestindo camisas da seleção brasileira, manifestantes deixaram os quartéis, marcharam até os prédios dos Três Poderes em Brasília e os invadiram. Os vídeos do quebra-quebra, feitos pelos próprios participantes, correram o mundo e transformaram o evento em algo digno de roteiro de Hollywood.
Desde o golpe militar registrado no século anterior, não se via um ataque popular aos poderes constituídos com tanta intensidade no Brasil. Foi um espetáculo exibido ao mundo inteiro.
Entre heróis e vilões
Momentos excepcionais e singulares pedem respostas igualmente excepcionais e singulares. Muitos acreditam que o Palácio da Justiça, no Brasil conhecido como Superior Tribunal Federal (STF), agiu de forma austera e rigorosa, nunca vista antes, mas que a ocasião exigia, e cumpriu seu papel de guardião da Constituição e da Democracia.
Dentro desse enredo, como bem convém nesses momentos, um herói da Marvel tupiniquim brotou como sendo o Vingador da Capa Preta; é o protagonista “Xandão”. Ele, identificado pelos mortais como ministro Alexandre de Moraes, não agiu sozinho, tendo em vista que a liga brasileira da justiça, como na série da TV, contempla muitos guardiões.
Ainda estamos aqui
O que se questiona agora, como na época de Lincoln, é se Moraes agiu dentro das regras democráticas constitucionais, ou se empunhou a espada justiceira extrapolando o alcance legal, em nome de algo maior.
Para quem não sofre de ansiedade profunda, e tem paciência, o futuro aparentemente próximo deve revelar qual lado do espelho reflete a Verdade.
Está fazendo o que a lei determina que seja feito. Pena que no Brasil a Justiça seja lenta.