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Foto do escritorGedeon Lidório

Estamos sistematicamente destruindo o lugar em que vivemos, e isso é uma tragédia bíblica, teológica e ambiental.

As crises climáticas que temos presenciado ao redor do mundo, especialmente no nosso quintal, no Brasil, refletem uma ruptura grave no mandato cultural dado por Deus à humanidade. Enchentes, secas extremas e a destruição de ecossistemas são sinais de que temos falhado em "cultivar e guardar" a criação, como nos foi ordenado em Gênesis.

 


No relato da criação em Gênesis 2:15, Deus coloca o ser humano no Jardim do Éden com um propósito claro: "cultivar e guardar" a terra. Os termos hebraicos usados neste versículo são significativos. "Abad" significa "trabalhar" ou "servir", sugerindo uma interação ativa e responsável com a criação. Já "shamar" implica em "manter", "vigiar" ou "preservar", apontando para um papel de proteção. Essa dupla responsabilidade indica que a humanidade foi chamada a ser cuidadora da terra, servindo à criação e ao Criador.

 

Hoje, a realidade climática que enfrentamos revela uma quebra desse mandato. A falta de cuidado e a exploração irresponsável dos recursos naturais, como vemos nos desmatamentos e na poluição dos rios e oceanos, dentre tantas outras ações danosas, demonstram uma falha em cumprir a vocação dada por Deus. O mandato bíblico não se refere apenas a exercer domínio, mas a um domínio que é simultaneamente serviço e preservação.

 

João Calvino, um dos grandes teólogos da Reforma, via o mandato cultural como um aspecto essencial da imagem de Deus no ser humano. Para Calvino, o ser humano foi criado para ser um "vice regente" de Deus, exercendo domínio sobre a terra em um reflexo da soberania divina. No entanto, esse domínio não é tirânico; é um governo que requer obediência e serviço a Deus. Calvino escreveu que para governar, o homem deve primeiro servir, reconhecendo a Deus como Criador e Legislador.

 

A teologia ressalta que o cuidado com a criação é uma expressão do culto a Deus. Herman Bavinck, por exemplo, descreve o mandato cultural como uma vocação holística, na qual o ser humano deve trabalhar e desenvolver a criação, mas sempre em obediência à Palavra de Deus. A falta de obediência leva à exploração e ao abuso da criação, como vemos na destruição dos ecossistemas e nas mudanças climáticas. Para Calvino e Bavinck, a negligência humana em relação ao meio ambiente é uma clara violação do mandato cultural, uma falha em refletir a vontade de Deus na terra.

 

O mandato cultural, como descrito em Gênesis 2:15, exige que a humanidade atue como cuidadora da criação. "Cultivar" (abad) envolve promover o bem-estar e a sustentabilidade da terra, não a esgotar ou explorá-la. "Guardar" (shamar) implica proteger a criação de danos. No entanto, a realidade climática que enfrentamos hoje, com queimadas, desmatamento, poluição e mudanças climáticas, mostra que temos falhado em obedecer a este mandato. Os efeitos dessas ações, como inundações devastadoras, secas severas e perda de biodiversidade, indicam uma ruptura grave no papel da humanidade como cuidadora da terra.

 

O mandato cultural envolve uma relação equilibrada entre domínio e serviço. O verdadeiro domínio não é exploração, mas sim mordomia. No entanto, a busca desenfreada pelo progresso econômico e tecnológico tem muitas vezes ignorado essa responsabilidade, resultando em crises ambientais de escala global. O aquecimento global, a destruição de habitats naturais e a extinção de espécies são consequências diretas da nossa falha em exercer um domínio que reflete a vontade de Deus.

 

Herman Bavinck adverte que qualquer tentativa de cumprir o mandato cultural deve ser situada no contexto da obediência a Deus. O trabalho humano deve ser realizado em alinhamento com os propósitos divinos, evitando o abuso da criação. Ao desconsiderar a conexão entre o mandato cultural e a obediência à Palavra de Deus, a humanidade cai em um ciclo de exploração e destruição, afastando-se do propósito original dado por Deus.

 

Estamos sistematicamente destruindo o lugar em que vivemos, e isso é uma tragédia de proporções alarmantes. Este comportamento não apenas coloca em risco a sobrevivência de inúmeras espécies e ecossistemas, mas também representa uma clara afronta à ordem estabelecida por Deus. Na visão bíblica, o cuidado com a criação não é uma escolha opcional ou um ato de caridade; é um mandato divino. Deus confiou a nós a responsabilidade de cuidar, cultivar e proteger o mundo que Ele criou. Ao negligenciar essa responsabilidade, estamos rejeitando não apenas o nosso papel como cuidadores, mas também a autoridade e a vontade de Deus.

 

Essa destruição ambiental é, em última análise, um ato de desobediência. É uma recusa em seguir o propósito para o qual fomos criados. No cerne dessa questão está a nossa relação com o Criador. Quando exploramos a terra de forma irresponsável, colocamos nossos desejos e interesses acima do mandamento divino. Isso nos afasta de nossa verdadeira vocação, que é viver em harmonia com a criação e com o próprio Deus. Assim, a crise ambiental é também uma crise espiritual, uma indicação de que nos afastamos do plano de Deus para o mundo e para a humanidade.

 

Portanto, a chamada é urgente: precisamos retornar ao propósito original de Deus para a criação. Não se trata apenas de salvar o planeta por razões ambientais ou éticas, mas de uma questão de fidelidade e obediência ao Criador. Enquanto não entendermos que o cuidado com o ambiente é parte integrante do nosso culto a Deus, continuaremos a contribuir para a destruição do mundo que nos foi confiado.

 

Você pode dar qualquer desculpa – continuará sendo desobediência à Deus.

 

Pr. Gedeon Lidório

Instagram: @gedeonlidorio

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