top of page

Efeito Marçal escancara insensatez da nossa política.

Atualizado: 28 de ago.

Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e diretor da CIA FM.


Seria muito mais adequado que nossa atenção estivesse na perversidade das queimadas criminosas que assustaram o Brasil na última semana, com crueldade. Tudo indica que as motivações não foram o clima ou a seca, mas o debate em torno do agro. Espantando a leviandade, porque não há nada que aponte para qualquer resposta definitiva, duas versões chocam o país. Poderia ser o MST, em combate velado ao governo Tarcísio, poderia ser até mesmos forças do agro para penalizar a esquerda na opinião pública. São apenas versões, em sinal contrário, mas com mesma carga de nitroglicerina.


Ainda assim, as eleições de São Paulo andam produzindo mais impacto na opinião pública, muito em função da atuação agressiva do candidato Pablo Marçal que concentra as atenções e nos permite observar as limitações da nossa legislação a supremacia do tiroteio digital sob a discussão serena das questões locais.



Na verdade, são dois fatos que se somam, já em campo minado. Os debates e entrevistas dos candidatos que poderiam muito ser ambientados no boteco da esquina, pelo excesso de agressões e xingamentos de baixíssimo nível, motivados, mas devidamente acompanhados, pela atuação tresloucada de Pablo Marçal.


O segundo fato remete à irregularidade cometida pela campanha de Pablo Marçal, cuja estratégia de marketing convocou seus seguidores a produzirem recortes de suas ações, seguida de filtragem, escolha dos melhores e remuneração em dinheiro aos seguidores. Neste aspecto, não tem perseguição ou censura, como alegado pelo candidato. É crime eleitoral, com provável punição com multa e a prevista suspensão de seu perfil, tudo no espírito da lei que não foi escrita para perseguir o candidato, mas para proteger o eleitor de transgressões.


Não deveria ter espaço para politizar o crime eleitoral. Está previsto e precisa ser punido. Pablo Marçal não é vítima de perseguição, apenas usou em estratégia indevida e ponto final. Deveria, mas sempre tem os ingênuos que compram a sua versão e o enxergam como vítima, papel adorado por dez em cada dez candidatos.


Se adotarmos a leitura dos adversários, seria muito difícil votar em São Paulo. Guilherme Boulos nunca trabalhou, é invasor de lares e cheirador de cocaína; Ricardo Nunes é inexpressivo, desonesto e incompetente; Tabata Amaral é uma garota mimada, inexperiente e radical; Datena é um repórter alucinado, atrás de holofotes, sem capacidade e sem experiência; Pablo Marçal é ladrão de banco, golpista e condenado pela justiça ...... já ouvi tudo isto e estou acompanhando as eleições aqui do Paraná e até suspeito que os paulistanos saibam ainda mais de seus candidatos, segundo a leitura dos adversários.


Note que neste emaranhado, estão niveladas limitações administrativas e pessoais, com acusações criminosas. E, até que se prove o contrário, apenas a condenação de Pablo Marçal é inquestionável, porque confessada, com ressalvas, pelo próprio postulante.


Antes de discutir a candidatura controversa de Marçal, resta registrar a preocupação com o nível deprimente da campanha. É cada vez mais difícil que gente do bem submetam seus nomes ao julgamento eleitoral. A possibilidade de sair ileso desta fogueira de reputação é mínima, exceto se o candidato permanecer inexpressivo por toda a campanha porque ninguém gasta munição com coelho abatido.


A primeira leitura que se desprende é a falência do nosso quadro partidário, renegado até por seus membros, como o próprio Marçal que já anunciou que só tem partido porque é obrigatório, entrou no PRTB porque era o único disponível e que vai sair despois das eleições. É tudo muito vago, sem lastro ou ideologia, muito incoerente, basta ver que o partido liberal é o principal abrigo dos conservadores!


Esperava por um momento de reconstrução do tecido político, corroído em 22, e o que se enxerga, na principal vitrine é um show de baixarias, pouco importa o juízo de valor acerca das candidaturas. Isto não tem nível de eleição da maior cidade da América do Sul, mas reporta o clima dos grêmios estudantis ou eleição do representante de classe da quinta série.


Marçal, mesmo fora do palanque eletrônica, em desuso como estratégia efetiva, levanta voo na pista das redes sociais, onde é mestre, coloca a disputa em outro patamar, onde a desconstrução á mais importante que ideias e onde a identificação da decepção dos eleitores com os políticos é o grande mote da campanha. Parece muito mais uma guerra contra o câncer, onde uma célula contaminada quebra todas as regras de divisão e a proliferação dos malefícios provoca proliferação acentuada da doença, com consequências imprevisíveis.


O triste é que assim como no câncer, que só é dissipado com o fim de cada uma das células contaminadas, na política o acesso é livre e sem controle e cidadãos saudáveis e bem-intencionados acabam contaminados pelo ambiente hostil onde não se sobrevive sem participar da guerra interna.


O efeito Marçal transcende a eleição municipal, embora como na escala de forças de um furacão, sua dimensão esteja relacionada à força do vento oriundo de São Paulo. Como parece inconcebível que seja um elemento agregador da direita, inclusive pela linha de confronto aberta com a família Bolsonaro, pode limitar os projetos dos principais atores escalados para 2026. Não parece lúcido imaginar que Tarcisio, unido à Bolsonaro, se não conseguir eleger Nunes pense em voo presidencial e, mesmo que o faça, terá um elevado prejuízo no seu reduto eleitoral.


Vitória de Marçal o credencia a ser o adversário de Lula, Tarcisio segue em São Paulo e Ratinho ou Caiado podem assumir o espaço da direita “civilizada”, entre aspas porque não pretendo agredir com o termo, mas apenas afastá-los do método marçal de destruir reputações. Por outro lado, a divisão da direita é tão agradável para Lula que pode até superar os benefícios de eventual vitória de Boulos.


Estranho mundo onde a derrota do seu espectro ideológico pode ajudar e a vitória atrapalhar.


Triste país que suja a boca e os pés no lamaçal da disputa eleitoral.


Pobre eleitor que, mais uma vez, vai as urnas votar no menos ruim.

Comments

Rated 0 out of 5 stars.
No ratings yet

Add a rating
sinveste.png
454570806_893951759429063_5834330504825761797_n.jpg

Nota do editor: os textos, fotos, vídeos, tabelas e outros materiais iconográficos publicados nos espaços “colunas” não refletem necessariamente o pensamento do bisbilhoteiro.com.br, sendo de total responsabilidade do(s) autor(es) as informações, juízos de valor e conceitos divulgados.

* As matérias e artigos aqui postados não refletem necessariamente a opinião deste veículo de notícias. Sendo de responsabilidade exclusiva de seus autores. 

bottom of page