Olho o céu de cinzas nesses dias em que o país pega fogo e penso sobre a necessidade urgente de ações para salvar o mundo ou, como diria Ailton krenak, para adiar o fim do mundo.
Sigo dias olhando o céu de cinzas. Imagino Krenak aqui comigo. Lágrimas escorrem dos nossos olhos arranhados pela secura do ar. Nos abraçamos e sussurramos aquilo que deve ser gritado: o fim do mundo não é amanhã, o fim já está acontecendo.
Não bastam apenas atitudes individuais, como separar lixo reciclável. É preciso que todas as nações e todos os donos do capital abram os olhos e acordem desse sono embalado pelo lucro. Pois,
“Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
Quando se vê, já é 6ª feira...
Quando se vê, passaram 60 anos!” (Mário Quintana)
Em 2015, o escritor amazonense Milton Hatoum escreveu uma poesia inspirada nas mudanças climáticas, principalmente na tragédia do Rio Doce, devastado pela lama tóxica da mineradora Samarco.
“O clima ao avesso
Enlouquece as estações
Perturba o céu desta Terra de tantas tragédias
Pássaros cruzam um céu de cinzas
Amargam noites de medo
E amanhecem sem ver as águas de um rio
Não há mais rios doces nem inocentes
Águas sujas escoam lentas em leitos mortos
Ou já nem correm na longa noite funérea
Quando o iodo e a lama enterram os mortos de Minas
E apagam as metáforas da passagem do tempo
Peixes, rios, plantas sufocados
Morrem envenenados pela fumaça da floresta
Queimada por homens com olhos de cobre
Corações ferozes e mãos pesadas de tanta ganância
O sol reflete na terra mapas sombrios
Manchas enormes na natureza calcinada
Esse pesadelo incendeia o mundo
Nos faz inimigos da natureza, nossa infância
Somos inimigos de nós mesmos, inimigos da vida e da esperança”
Link para ver e ouvir Hatoum declamando o poema:
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