Há algum tempo, um amigo próximo, daqueles que se contam nos dedos de uma mão, notou minha expressão abatida. Ele observou meu estado e fez uma pergunta que reverberou em minha mente: "Você cuida de tanta gente, sempre dando o melhor de si para o bem dos outros. Mas quem é que cuida de você?"
Essas palavras me fizeram refletir profundamente. Ao longo de mais de 30 anos de atuação ministerial, encontrei pessoas feridas, oprimidas, e desprezadas, muitas à beira da loucura, carregando o peso da dor e do pecado. Eram pessoas machucadas pelas tempestades dos relacionamentos, pelas ruínas financeiras, e por perdas irreparáveis.
Lembro-me claramente de quando esse amigo me fez a pergunta. Foi como se um choque percorresse meu corpo, despertando uma consciência que eu havia ignorado por tanto tempo. Sentia um vazio imenso no peito, um buraco negro que parecia sugar toda a minha energia. A dor era tão intensa que fazia a cabeça girar, um turbilhão de pensamentos confusos e contraditórios. A mente se perdia em labirintos escuros, buscando desesperadamente uma saída que não parecia existir.
Essa pergunta do meu amigo foi um ponto de virada. Ela expôs uma verdade incômoda, mas necessária: eu havia negligenciado meu próprio bem-estar. A partir daquele momento, comecei a perceber que minha dedicação aos outros estava me esgotando porque eu não reservava tempo para me cuidar. A realização de que eu também merecia cuidado e atenção foi um despertar doloroso, mas vital.
Sempre acreditei que cuidar de mim era egoísmo, que o outro deveria ser a prioridade. Fui criado para pensar assim, mas ninguém me ensinou que não posso dar ao outro se não cuidar de mim primeiro. Gastei-me ao máximo, como uma bateria velha, e muitas vezes me vi sem forças. A dor substituiu o prazer, a mágoa tomou o lugar do amor. Perdi a visão do caminho e andei como um sonâmbulo, à beira de um abismo, sentindo o chão desaparecer sob meus pés.
Então, um versículo precioso me veio à mente, palavras de Jesus:
"Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e com todas as forças. E o segundo mais importante é este: Ame os outros como você ama a você mesmo. Não existe outro mandamento mais importante do que esses dois" (Marcos 12:30-31).
Dentre tantas lições nesse versículo, o que mais me tocou foi: "Ame os outros como você ama a você mesmo." Isso me fez perceber uma verdade fundamental: não podemos amar ninguém se não amamos a nós mesmos. Não podemos cuidar de ninguém se não cuidamos de nós mesmos. Não podemos socorrer alguém se não socorremos a nós mesmos.
Isso não é egoísmo, é reconhecer que não podemos dar o que não temos.
Compreender essa verdade me levou a valorizar a mim mesmo, a cultivar minha autoestima e a entender as razões do meu coração. Não se trata apenas de buscar teorias e conceitos, mas de uma compreensão existencial de quem sou. Essa reflexão se reflete imediatamente em como cuido e amo os outros. Olhando para dentro, para meu coração, percebo a importância de me cuidar, de me valorizar e de me amar. Só assim posso realmente cuidar e amar os outros.
Dá o que pensar, não é mesmo? E você? O que pensa sobre isso? Como tem cuidado de si mesmo enquanto se dedica aos outros? Talvez seja hora de refletir sobre a necessidade de se valorizar, de se amar, de se priorizar. Porque, no final das contas, cuidar de si mesmo não é apenas um ato de amor-próprio, mas a base para poder verdadeiramente cuidar daqueles que dependem de nós. Que possamos todos encontrar esse equilíbrio e lembrar que, para amar ao próximo, é essencial que primeiro nos amemos.
Gedeon Lidório
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