Por: Célio Juvenal Costa, professor da UEM
Uma das coisas mais enganosas que vivemos repetimos, e que é uma das armadilhas que caímos constantemente, é de que a "vida é simples, e somos nós que a complicamos"... Enganosa por ser um raciocínio falacioso e armadilha por ser algo que parece uma coisa, mas é outra, um engodo. A vida, decididamente, é complexa, muito complexa. O ser humano não é simples, pois, parafraseando o velho Karl Marx, ele é uma síntese de múltiplas determinações, algumas das quais se têm consciência e outras (muitas vezes as mais importantes) encontram-se no inconsciente ou subconsciente; aliás, a própria existência real desses dois níveis já é uma prova da complexidade humana.
Somos seres que, normalmente, queremos nos preservar e viver da forma mais confortável possível, afastando temores, sustos, imprevisibilidades etc., e, por isso, temos uma tendência a reduzir as coisas a uma simplicidade aceitável, previsível, linear. São poucos, por exemplo, os que aceitam entrar em projetos realmente desafiadores, que exigem coragem, criatividade, persistência e tomada de decisões por vezes impopulares. A segurança que muitos buscam de forma arrefecida tende a camuflar as contradições inerentes à vida, por isso que a autoconsciência muitas vezes é um inferno, especialmente quando preferimos achar que, no máximo, os outros é que são nosso inferno...
Uma das máximas mais antigas que se têm conhecimento é aquela atribuída a Sócrates (mas que fazia parte da cultura grega antiga) de que a verdadeira sabedoria deve partir do autoconhecimento ("conhece-te a ti mesmo", dizia o filósofo grego aos seus discípulos) e, depois, do conhecimento dos outros ("decifra-me ou te devoro", é o que a Esfinge falava àqueles que queriam entrar em Tebas, no mito de Édipo). Como não é tarefa fácil, pois senão não estariam colocados como fundamentais para a vida, tais pensamentos gregos revelam que as pessoas são seres complexos que dificilmente cabem em rótulos simples, como estamos muito acostumados a fazer tanto conosco mesmos quanto para com os outros. É muito mais fácil definir as pessoas e a nós mesmos do que empreender um esforço para adentrar muitas vezes em terreno perigoso que é o nosso interior e o das outras pessoas. Fazer isso sem a mediação do dinheiro, do poder, da submissão, da chantagem, do comodismo e, especialmente, daquilo que as pessoas chamam de amor e paixão, aí sim é que o caminho é muito mais difícil.
Se quisermos de fato nos conhecer é preciso, em minha opinião, partir do princípio de que somos seres complexos, que a vida é complexa e, que, portanto, as pessoas ao nosso redor também são complexas. É mais difícil, muito mais complicado, muito mais exigente, mas se não for assim, corremos o risco de viver uma vida auto alienada e, portanto, longe de ser, minimante, feliz...
Meu Instagram: @costajuvenalcelio
Obs: Esta é uma versão revisada e atualizada de um texto originalmente publicado no blog: devaneioseoutrasreflexões.blogspot.com.
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