Esqueçam tudo que Aristóteles escreveu em seu clássico Política. As eleições brasileiras são mais compreensíveis pela famosa frase do Millôr: “Em política nada se perde e nada se transforma – tudo se corrompe.”
Se você sabe — é por que já perdeu alguma.
E isso nos leva a algumas dicas, que vão tentar explicar como perder uma eleição mostrando os bastidores do que alguns candidatos fazem, e outros se recusam a fazer.
Em 2018, anos atrás, um amigo foi eleito deputado estadual em São Paulo com 183.480 votos. Em 2022, candidatou-se a deputado federal e obteve 38.090 votos. Ficou de fora.
Da eleição de 2022 para cá, fez uma reflexão sobre o caminho que o levou à derrota.
Tudo começa quando você pensa a política como ferramenta de construção de um país melhor para todos. Ela é, mas esta é uma visão sofisticada, quase acadêmica no Brasil de hoje. O voto se dá muito mais pelo recall de um nome, ou pela repetição de alguma ideia ou bordão simplista, do que por grandes ideias e projetos que você possa ter para o estado ou o país.
Constitui regra básica para obter uma derrota eleitoral a alocação de tempo para estudar os diagnósticos e indicadores do País e articular com diversos setores os projetos que poderiam impactar as pessoas de forma abrangente.
Não tente isso. O que realmente pode dar bons frutos é gravar provocações nas redes sociais, publicar postagens com linguagem agressiva no Instagram e gerar brigas teatrais nos bastidores de debates.
Uma classe política que pouco contribui para o País acaba tendo como proposta de valor para a população a geração de entretenimento vazio.
Além da linguagem agressiva, o conteúdo discutido importa.
Para ficar mais distante da vitória, a regra é priorizar questões cruciais como a educação, a economia e as tão necessárias reformas de Estado. Isso tudo passa muito distante do radar do eleitorado.
Para vencer as eleições, as discussões devem envolver polêmicas que polarizam eleitorado em torcidas – de preferência, discutindo problemas irreais.
Para vencer, o ideal é alimentar polêmicas que, mesmo que fossem resolvidas, em nada melhorariam as perspectivas de desenvolvimento econômico e deixariam inalterada a situação da população que mais sofre.
Histórico de ação e capacidade técnica não são preocupações para o eleitor, e esse negócio de bom currículo só funciona nas empresas. Diploma do Insper e mestrado em Yale, pra quê?? Para um candidato, isso atrapalha.
Por volta de 25% dos deputados federais eleitos em 2022 não possuem ensino superior completo, e mais da metade dos eleitos são velhos conhecidos do Congresso. Há tempos distantes das exigências da iniciativa privada, eles vivem despreocupados com o quanto seus níveis de preparo impactam suas perspectivas salariais. Um deles é o deputado Tiririca, que nessa eleição acabou eleito pelos massivos votos de eleitores da Faria Lima direcionados ao candidato Ricardo Salles. É o tal quociente (inconsciente?) eleitoral.
Embora as regras mencionadas sejam tristes e preocupantes, ainda faltam duas ferramentas essenciais para se garantir uma derrota eleitoral: (1) seguir os limites de gastos de campanha definidos por lei e (2) ter um mandato econômico sem entrar em negociatas obscuras com qualquer governo em vigor.
Verbas de campanha:
Os demais concorrentes terão acesso a bilhões de reais em fundos eleitoral e partidário, e mais tudo aquilo que negociarem de emendas e cargos na máquina pública. Enquanto um candidato fora dos padrões pode gastar até R$ 3,2 milhões de doações privadas, raramente atingindo esse teto, os que possuem mais chances de se eleger chegam a possuir máquinas políticas que podem custar facilmente algo entre R$ 10 milhões a R$ 20 milhões.
Pode ser amargo aceitar, mas esse é o manual definitivo de como perder uma eleição - para Deputado Federal. E, como pouca gente está interessada em entender as regras mais básicas do processo eleitoral, os candidatos também não se importam em segui-las.
Quando o contexto é de radicalização, o circo dos horrores só piora. Um povo descrente da política cai no discurso dos extremos e, em vez de dialogar para construir projetos comuns, somos levados a escolher um lado em projetos partidários de poder.
Seguindo estas discas você vai perder a eleição, mas o grande derrotado será o Brasil. E agora para 2024 se você é candidato para prefeito ou vereador as regras seguem as mesmas, pois no Brasil o sistema político trabalha na base do corporativismo, vejam por exemplo quantos pulos aconteceram nas janelas partidárias, todos em busca de chances de reeleição e garantir mais uns anos na máquina pública. E como já estamos em campanha para outubro de 2024, talvez seja bom você estar nas ruas, nas trincheiras pelos votos e reformas que precisarão sair do papel se quisermos ser um dia uma cidade - a sua, e um país mais justo, desenvolvido e moderno.
No fim das contas, estas dicas não são um lamento, mas um alerta e um convite para que sejamos a mudança que dizemos querer. Nossos municípios e de modo geral o Brasil moderado e propositivo ficaram fora das Câmaras Municipais e do Congresso, mas não podem ficar fora da Política e da moralidade.
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