Água muda de coloração quando sai da nuvem e encontra fuligem. Fenômeno pode prejudicar agropecuária e a vida das pessoas.
Um fenômeno surpreendeu moradores de cidades do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná neste sábado (14/09) a chuva negra (também chamada de chuva escura). E há previsão de novas ocorrências no Estado de São Paulo, onde devem ocorrer quedas de temperatura no fim de semana. A alteração na cor da chuva é incomum e está relacionada diretamente com as queimadas no Brasil na região da Amazônia e do Pantanal e em países vizinhos na América do Sul, como Argentina, Bolívia e Paraguai.
Nas condições atuais, com incêndios espalhados e o vento transportando a fumaça, o risco da ocorrência do fenômeno aumenta, explica Guilherme Borges, meteorologista da Climatempo.
“A chuva funciona como uma espécie de faxineira, que vai limpando tudo desde quando sai da nuvem. Então, ela deixa a atmosfera mais limpa ao tirar toda a fuligem que encontra pelo caminho. Logo, se chover e tivermos uma atmosfera suja, a água vai levar tudo até o solo”.
O também meteorologista Willians Bini reforça que a chuva negra acontece apenas quando a quantidade de poluição no ar é muito alta. A situação é diferente em cidades como São Paulo, por exemplo, conhecida pela presença de impurezas, mas em um nível menor.
“Sabemos que tem áreas assim, mas, como agora, estamos passando por um processo um pouco mais crítico, devido às queimadas, acaba potencializando a coloração mais forte da chuva, que tira toda a fuligem ao realizar o processo de lavagem na atmosfera poluída”.
Risco de chuva preta ainda é elevado
A formação de uma frente fria de fraca intensidade nos próximos dias aumenta o risco de chuva negra, alerta o meteorologista da Climatempo, em outras áreas do Rio Grande do Sul, Paraná e também em Santa Catarina.
Hoje, essa massa está ingressando pelo Rio Grande do Sul e vai atuar ali amanhã, mas, na segunda feira, já avança. E, como tem essa grande concentração de fumaça e fuligem, não podemos descartar novos registros”, diz.
Chuva preta pode prejudicar o agro e a saúde da população.
Além do forte impacto visual, a ocorrência do fenômeno traz risco para a atividade agropecuária, e a saúde da população, já que a água da chuva negra está contaminada pela fuligem e toxinas. A chuva contém carbono negro na composição, e gases tóxicos e poluentes resultante da queima incompleta de biomassa e combustíveis fósseis.
“Quando ele se deposita no solo com a precipitação, prejudica a composição química e a absorção de nutrientes pelas plantas, o que pode resultar na redução significativa da produtividade agrícola do produtor”, afirma Willians Bini.
A água dessa chuva negra não deve ser usada para nenhum fim que seja devido a sua forte composição de toxinas, podendo causar inclusive problemas de pele.
Ele acrescenta que, entre outras consequências, as partículas de fuligem podem formar uma camada superficial sobre as folhas e diminuir a capacidade de fotossíntese. “Isso afeta o desenvolvimento, favorece o surgimento de fungos e bactérias patogênicas e eleva a incidência de doenças nas lavouras”.
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