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Foto do escritorWalber Guimarães

As Big Techs comandando o Grande Irmão.

Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e comunicador.


Basta um breve passeio pela história para entender que seu enredo foi escrito pelos vitoriosos e, quase sempre, estes eram os que possuíam as armas mais letais, afirmação que se comprova na história antiga, passando por todos os séculos da história moderna. Cada nova tecnologia, capaz de produzir armas mais poderosas, sempre se mostrou competente para reorganizar a geopolítica.



O início foi com armas metais artesanais, como a Kpinga (faca de três lâminas de quase 5 mil anos da África), a Klopesh (espécie de foice de metal de 4 mil anos da Mesopotâmia), passando pela temida Bagj Nakh, tipo de lâmina que guerreiros tribais usavam em combates corporais, pela sua imensa capacidade de dilacerar os corpos dos opositores até o Scudo Lanterna, italiano já do século XVI, desenvolvido para duelos e lutas individuais.


Depois foram as armas de fogo, desde o canhão manual, ainda do século XIV, a espingarda de século XVII que desequilibraram muitas disputas entre os povos em guerra e tantas outras que se seguiram até as armas nucleares que abalaram o mundo em 1945. É um processo sem fim que chega aos mísseis intercontinentais ou aos drones modernos.


O enredo acima se presta a explicar combates entre nações ou tribos diferentes, todavia, já faz muito tempo que as disputas de poder interna, passam por uma forma mais efetiva de definição; não são mais apenas o poder bélico que as define, mas o poder da informação ou da comunicação, um conceito que nem chega a ser revolucionário porque as missões religiosas e o processo de colonização entenderam muito cedo que o domínio da mente abria caminho para o domínio físico ou, no mínimo, as tornavam mais rápidas e baratas.


Todavia, o século XX é eloquente em exemplos em que o poder se viabilizou pela disseminação maciça de conceitos e conquista da mente das pessoas para permitir a conquista do poder. Adolf Hitler é o mais notório, mas não único, exemplo deste processo. Observe que, durante mais de cem anos, os instrumentos de manipulação da informação foram comandados pelas mesmas pessoas que detinham o poder, fato que permitia um controle rígido das ações e até do pensamento dos súditos, como ainda ocorre em muitas nações do século XXI.


Mas veio a internet e o domínio da informação saiu das mãos dos governos centrais, em processo revolucionário que colocou milhões de pessoas, em cada país, aptos para o debate político, criando mecanismos extremamente eficazes de condução das massas, inicialmente ações aleatórias de difusão de ideias, talvez como a Primavera Árabe do Egito, entre 2011 e 2014, como referência mais efetiva, demonstrando que, mesmo em um regime fechado, o fluxo de informações pode ter mais força que as armas de qualquer governo.


A percepção destes fatos, rapidamente verificada pelo universo político, deslocou boa parte das disputas pelo poder para a luta pela conquista das mentes, e por consequência do coração, da população. Logo, nos últimos dez anos, é este o cenário das grandes disputas eleitorais, sendo o Brasil uma boa referência nesta questão. O poder passa pela capacidade de impor suas leituras e conceitos para o cidadão comum, usando uma arma moderna, disponível, de custo baixo e com permeabilidade absoluta sobre toda a população, isto em países democráticos. Detalhe; depois de séculos, a principal arma não está sob domínio do governo que, embora tenha poder para regulamentar a internet, não domina as redes sociais, território sob domínio das Big Techs.


Boa parte da população dedica muitas horas do dia navegando nas redes sociais, nem sempre decidindo o que consome, algo muito mais afeto aos algoritmos de cada rede que tem a capacidade de filtrar ou despejar tudo que desejam em cada consumidor, logo sujeito ao consumo de conteúdo selecionado pelas redes que, todos temos ciência disto, são poderosos indutores de comportamento de cada cidadão.


A constatação óbvia de que as big techs são usinas de informação e manipulação acendeu sinal vermelho em quase todas as nações que perceberam o perigo que se submetem sem um controle mínimo das possibilidades destas empresas, o poder estará comprometido, por isso assistiremos um grande embate pela regulação das big techs, disputa que tem um pano de fundo extremamente mais complexo do que a face exposta ao público.


Algumas décadas depois, a aliança do governo americano, sob a tutela de Trump, e as big techs, Elon Musk e Zuckerberg à frente, apresentam potencial para, de novo, impor a cultura e o pensamento americano dominante com muito mais eficiência que o cinema ou a música no século XX. Observe que a questão não é o “american way of life” que se impôs em quase todo o mundo ocidental, mas o extremismo que se enxerga transbordando na pele do novo comandante americano que fala em destruir adversários ou anexar nações soberanas com a mesma naturalidade que toma um copo de água.


É preocupante porque regulamentar redes sociais exige excessos de cuidados para não comprometer outra questão fundamental para o indivíduo; o respeito pela liberdade de expressão. Há um espaço de manobra muito pequeno e inúmeras questões filosóficas e legais a serem equacionadas, tornando a missão extremamente complexa.


Brincando um pouco com a ficção, uma revisita ao best seller de George Orwell, 1984, talvez exija uma correção importante, porque a realidade aponta as big techs muito mais capazes de controlar o Grande Irmão do que qualquer nação do planeta.

 

 

 

 

 

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