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Foto do escritorIvana Veraldo

Afetos artificiais X afetos de carne, osso e manias

No dia dos namorados escrevi sobre a epidemia global de solidão e sua relação com o crescimento do individualismo. Afirmei que muitas vezes os laços afetivos reais são temidos por  ameaçarem a liberdade individual. Nesse cenário, é interessante pensar sobre o impacto da Inteligência Artificial (IA) nas nossas habilidades sociais para lidar com os afetos.

 

Foram publicados os resultados de algumas pesquisas mundiais sobre esse tema e concluiu-se que uma parcela muito significativa da população  mundial procura conexão afetiva em aplicativos de IA, programados, por exemplo, para manter boas conversas, escutar desabafos ou dar conselhos. Há ferramentas que podem ser personalizadas para atender os interesses dos usuários que desejam amigos ou namorados. Há aplicativos que reavivam alguém que já morreu e os que constroem avatares com imagem corporal idealizada pelo usuário.

 


O problema, advertem os pesquisadores, é que o uso exagerado dessas ferramentas pode diminuir o interesse pelas interações com pessoas reais. Nos relacionamentos presenciais, mesmo que tenhamos inúmeras afinidades, sempre encontramos alguém diverso e complexo; com qualidades e defeitos. O contato mais higienizado dos relacionamentos com IA pode resultar em aumento da intolerância às pessoas de carne, osso e manias.

 

Quem não lembra do filme Her, de 2013, em que o protagonista se apaixona por um sistema operacional de voz? Isso já é possível via IA.

 

As relações nesse formato podem até oferecer disponibilidade constante e interações “ideais”, porém, podem nos afastar da delícia que é lidar com o ser humano real, imperfeito e contraditório.

 

Não quero fazer aqui o papel de censura. Que atire a primeira pedra quem nunca usou alguma ferramenta digital como apoio emocional. Normal! Queremos ser escutados, sem julgamento e de forma empática. Porém, há que se fazer uma distinção entre utilizar ferramentas de IA para conhecer alguém e permanecer numa relação com uma IA, que é o caso do filme Her e dos que até se casam com esses bots.

 

Agora, caso seja incontornável a tendência de em algum momento de nossas vidas nos relacionarmos afetivamente com uma IA, só desejo que em meio a isso, vez ou outra mergulhemos no real e acarinhemos nossa humanidade. Fica a dica aí!

 

 

 

 

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