Terminei a parte 1 desse tema falando sobre família e lembro a nós que a família foi projetada para ser um lugar de amor, cuidado e proteção (Efésios 5:22-33, Colossenses 3:18-21). Os pais são chamados a criar seus filhos no "temor e instrução do Senhor" (Efésios 6:4), e a sabedoria de Provérbios 22:6 instrui a "ensinar a criança no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer não se desviará dele." Jesus também enfatizou a seriedade do abuso de vulneráveis em Mateus 18:6: "Mas se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que creem em mim, melhor lhe fora que se lhe pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar." Ver o ideal de família, projetada por Deus, sendo usado muitas vezes como meio para que abusadores exerçam o seu papel de “controle” de suas vítimas, traz para mim uma tristeza muito grande.
Deus promete curar e restaurar aqueles que foram feridos e abusados. Em Jeremias 30:17, Ele declara: "Farei cicatrizar o seu ferimento e curarei as suas feridas, diz o Senhor." Isaías 61:1-3 também fala sobre a missão do Messias de trazer boas novas aos pobres, curar os quebrantados de coração e libertar os cativos, prometendo "dar a todos os que choram em Sião uma coroa de beleza em vez de cinzas, óleo da alegria em vez de pranto, e um manto de louvor em vez de espírito deprimido." Em Salmos 103:6, está escrito: "O Senhor faz justiça e defende a causa dos oprimidos."
Como reflexo da ação de Deus em favor dos que sofrem, a comunidade cristã tem a responsabilidade de proteger os vulneráveis e criar ambientes seguros (Mateus 18:6, Tiago 1:27). Isso inclui implementar políticas de proteção infantil, educar a congregação sobre os sinais de abuso e promover a denúncia de comportamentos suspeitos. Tiago 1:27 define claramente o cuidado dos mais vulneráveis como um aspecto central da verdadeira religião: "A religião que Deus, o nosso Pai, aceita como pura e imaculada é esta: cuidar dos órfãos e das viúvas em suas dificuldades e não se deixar corromper pelo mundo."
Infelizmente, abusos ocorrem em igrejas e famílias. Relatos indicam um número crescente de líderes religiosos condenados por práticas de abuso sexual. A maioria dos abusadores está próxima de suas vítimas, sendo conhecidos, amigos ou até familiares, pessoas de confiança. Uma simples pesquisa na internet traz dados estarrecedores: cerca de 1 em cada 3 mulheres em todo o mundo já sofreu violência física e/ou sexual por um parceiro íntimo ou violência sexual por um não parceiro; nos Estados Unidos, aproximadamente 93% das vítimas menores de idade conhecem seus agressores. Estudos indicam que 78% das crianças que relataram abuso sexual foram vitimizadas por alguém que conheciam, e 60% dos abusadores sexuais são conhecidos da vítima.
A prevenção de abusos a crianças menores dentro de casa requer um esforço proativo e abrangente, envolvendo educação, supervisão, estabelecimento de regras claras, treinamento adequado e apoio psicológico.
O coração humano é tão perverso devido à natureza pecaminosa inata que todos herdamos desde a queda no Jardim do Éden, conforme descrito em Gênesis 3. Esta queda trouxe o pecado ao mundo, corrompendo a essência humana e separando-nos de Deus. Jeremias 17:9 afirma: "Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá?" Essa corrupção interior se manifesta em ações egoístas e malignas, resultando em uma propensão natural para o mal.
O que devemos fazer em nossas comunidades cristãs quando isso acontecer? Paulo faz uma orientação interessante: não devem associar-se com qualquer que, dizendo-se irmão, seja imoral, avarento, idólatra, caluniador, alcoólatra ou ladrão. Com tais pessoas vocês nem devem comer (1 Coríntios 5.11). Em outro lugar (1 Coríntios 5.5) ele fala: Entreguem esse homem a Satanás, para que o corpo seja destruído, e seu espírito seja salvo no dia do Senhor. O contexto é de alguém envolvido em um caso de imoralidade sexual grave. O objetivo de Paulo a falar estas palavras tem a ver com proteger a pureza das comunidades cristãs e que essa não associação com estas pessoas significa não passar pano para o que fizeram como se nada fosse.
Ao mesmo tempo que precisamos educar, ensinar, exemplificar e proteger as pessoas vulneráveis que sofrem, sofreram ou podem sofrer abuso, é necessário também expurgar de nosso meio tais práticas. Não dá para simplesmente “deixar que as coisas se resolvam sozinhas”.
Há também uma grande necessidade de cuidarmos daqueles que sofreram tais abusos, pois a experiência de alguém abusado é profundamente traumática e pode ter repercussões devastadoras que se estendem por toda a vida adulta. O abuso sexual, especialmente quando ocorre na infância, pode causar danos psicológicos duradouros, incluindo ansiedade, depressão, distúrbios de estresse pós-traumático e problemas de autoestima. Esses indivíduos muitas vezes carregam sentimentos de vergonha, culpa e desvalorização, que afetam seus relacionamentos, desempenho no trabalho e bem-estar geral. A confiança, uma vez violada, pode ser difícil de restabelecer, e o medo e a desconfiança podem permear suas interações sociais. A recuperação requer tempo, apoio terapêutico e, frequentemente, um ambiente de amor e compreensão que permita à vítima começar a curar as feridas profundas deixadas pelo abuso.
Minha oração sobre isso reflete uma tristeza profunda pela dor causada pelo pecado em nós, seres humanos, caídos e precisados da graça e do perdão de Deus e pelos milhares (milhões...) de pessoas vulneráveis abusadas todos os dias por outros em que deveriam poder confiar.
Recomendo a leitura dos livros abaixo:
Leia também: Artigo da minha esposa, falando do ponto de vista psicológico sobre o tema do Abuso Sexual Infantil - clique aqui.
Pr. Gedeon Lidório
Instagram: @gedeonlidorio
E-mail: gedeon@lidorio.com.br
Site: www.teoeduca.com.br
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