A onda da vez; o Congresso agora é instagramável.
- Walber Guimarães Junior
- há 1 dia
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Por Walber Guimarães Junior, engenheiro e comunicador.
Para o bom observador, é fácil entender que o voto legislativo obedece a ondas (modismos) que se sucedem e conduzem boas bancadas ao Congresso. Foi assim com sindicalistas, comunicadores, evangélicos, policiais e outras tendências nas eleições anteriores. Em 2026, qual a bola da vez? Fácil; influenciadores digitais.

“Não gosto de política e tenho raiva de quem gosta” era um bordão clássico repetido à exaustão por milhares de brasileiros para se manter ao largo de qualquer pauta política. Ainda resistente em parcelas menores da população, este comportamento sofre de raquitismo por ser típico da era analógica, agora, em plena era digital, a política te atropela em qualquer rede social e optar pela direita ou esquerda é quase um compromisso social.
Política era papo de velho, de sindicalistas ou do mundo acadêmico, talvez porque fosse fácil se esconder destas discussões, mas com a intensa discussão entre liberais e conservadores, se espalhando por inúmeras pautas do cotidiano (aborto, drogas, liberdade de expressão e outras), as pautas políticas invadem nichos inimagináveis nas décadas anteriores.
A intensa polarização das últimas eleições que tornou indigesto até o tradicional almoço de domingo das famílias e a introdução da pauta de costumes no debate político foram fatores decisivos para trazer novos segmentos, ainda que não propriamente gostem de política, acabam se posicionando porque aborto, drogas, escolas, minorias ou liberdade de expressão são temas que afetam a todos. Acredito até que foi a interpretação individual destas questões que gerou fidelização com os polos ideológicos.
A constatação de que estes temas invadiram as redes sociais e estas são dominadas por influenciadores, capazes de atingir em pouco tempo milhões de pessoas, ligou o sinal de alerta dos partidos. Não há mais muito espaço para ampliar bancadas religiosas ou da bala, já ocupando espaços importantes do parlamento, mas com margem de crescimento reduzida por conta da representação substantiva que inibe números mais expressivos, logo era hora de buscar novos nichos e, bastava olhar para os lados no plenário das Casas para se deparar com selfies e lives explodindo em todos os cantos, disputando as atenções com a tribuna, considerando que o eleitor, atingindo pelo efeito tiktok, que libera tempos mínimos para a mensagem desejada, e a conclusão era óbvia; influencers dominam a linguagem das redes, ganham likes aos milhões e parecem vocacionados para migrar das redes para os parlamentos.
Lançados os novos parâmetros, partidos foram a campo buscar novos players, estimulados por experiências importantes como a de Pablo Marçal ou ensaios anteriores e atuais de Luciano Hulk, Gustavo Lima, Felipe Neto, além de congressistas que percorreram com muito mérito este caminho, como Nikolas Ferreira, um dos mais votados do Brasil.
Quem é mais versado em política sabe que o grande desafio dos partidos, até mais que as chapas majoritárias que transcendem os limites das siglas, são as chapas proporcionais, principalmente as federais, porque são elas que abrem as torneiras dos cofres públicos para irrigar os fundões de cada partido, exigindo muita estratégia e matemática para garantir o máximo de cadeiras, sem colocar em risco as vagas do “pessoal da casa”, detentores de mandato que na prática são como sócios minoritários dos donos de cada legenda.
Realmente não forcei na tinta; o mundo real da política não concede muito espaço para disputas democráticas, sendo mais seguro, e as brechas da lei geram estas oportunidades, “organizar” em cada nicho (legenda) um grupo de lideranças que saem à luta para competir, sabendo que o lugar à mesa estará garantido, exceto por uma tragédia eleitoral, restando ainda, como prêmio de consolação para eventuais erros de cálculo, centenas de cargo nos governos estaduais e federal.
Não pensem que é um arranjo fácil porque as variáveis são muitas com pelo menos uma delas, a vontade de eleitor, sobre o qual o domínio é limitado, mas que pode ser minimizado com fortes injeções financeiras, também sobre controle das cúpulas ou oriundas do bolso de candidatos vaidosos em busca de fama ou daquele “detalhezinho” que o Congresso concede; a imunidade que deveria ser apenas parlamentar.
Cada legenda organiza seu espaço em segmentos bem programados, com a faixa de cima composta pelos sócios da casa, normalmente em número inferior às projeções eleitorais do partido, somada às atrações filtradas a cada eleição, segundo o figurino da hora e seguida dos cabos eleitorais de luxo.
Na primeira faixa, os favoritos, se distribuem harmonicamente em cada legenda de acordo com seu potencial, lhes sendo concedido mais um privilégio especial, a janela partidária, já próxima das convenções, onde se pode promover um rearranjo destas lideranças, contribuindo ainda mais para assegurar suas reeleições.
No bloco intermediário, de onde sairão as escassas exceções na lista dos eleitos, se busca os motes eleitorais da hora; evangélicos, policiais e, arrisco para 2026, agora é a vez dos influenciadores porque as redes sociais são, cada vez mais, o campo de batalha mais importante da disputa.
Fechadas as duas etapas iniciais, resta o arranjo regional para finalizar as vagas disponíveis, com o devido cuidado de inflar áreas onde não tenham os queridinhos da legenda e esvaziar seus redutos eleitorais. Esta terceira fase está em pleno andamento porque tem prazo limite o início de outubro, um ano antes das eleições.
É um processo comovente de sedução, onde se promete mundo e fundos, estes em especial, para os azarões da legenda, composta de sonhadores, que até acreditam que ao lançar a candidatura, ganharão também um a senha da conta do fundão eleitoral, e alguns outros estrategistas que usarão a vitrine eleitoral apenas para se credenciarem para a disputa municipal seguinte. Pelo menos esses têm consciência que serão apenas bucha de canhão.
Estabelecido o cronograma de atividades e as pequenas variações estratégicas possíveis, está lançada a temporada de caça de celebridades e subcelebridades das redes sociais. Influenciadores são a bola da vez e você os verá nas disputas de quase todos os estados, ainda que em alguns sua permeabilidade social seja muito limitada.
Sugiro que a direção das Casas até se organizem para dotar o Congresso de cenários mais elaborados, que permitam cortes mais eficientes, para evitar a repetição de fundos, afinal selfies ou lives precisam de excelência em todos os seus detalhes e isto pode até melhorar a performance dos inúmeros parlamentares que trabalham pouco mais adoram likes e curtidas.
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